segunda-feira, 28 de abril de 2008

O dia depois de domingo

Segunda-feira azulada aquela. Zéu acordou com uma ressaca das brabas. Olhou o rádio relógio piscando: 6h30. “Puta que pariu!”, gritou Zéu enquanto tateava a procura dos óculos. Acabou achando um pacote de engov aberto e outro fechado. Meteu goela abaixo e levantou rápido para se arrumar; o buzú das 7h15 é sempre o pior e se ele não se apresasse, era justamente nele que iria todo apertado. Quando estava no banheiro escovando os dentes veio a lembrança: uma camisa rubro-negra repousava suja no canto do banheiro.

- Porra!!! Dor de cabeça miserável que me fez esquecer do jogo. Caralho... ahhahah... Metemos pau naqueles bahia de merda. Carlinhos se fudeu.

Carlinhos, Bahia doente, era seu colega de firma e dividia a baia com ele. Cena dantesca se repetia religiosamente todas as segundas, tendo jogo ou não. As discussões eram tão comuns que os outros colegas aprenderam com o tempo: segunda-feira era dia de ouvir música no fone.

7h50 e lá estava Zéu na repartição. Nenhum filha da puta tinha aparecido na sala, nem a gostosa da Cema. “Melhor assim”, pensou o rubro-negro. Alguns minutos depois chega Carlinhos.

- Bom dia aê.

Zéu não responde e fingi estar no telefone. Carlinhos liga o computador, olha as horas e vai atrás do cafezinho. Quando volta...

- Desgraça! Que porra é essa aqui, mermão? Wallpaper do vitória na minha máquina?! Essa porra só pode estar de sacanagem. Como é que tira esse troço daqui? Zéu!? É com você mesmo seu viado, foi você que pôs isso aqui foi? Diga ai vá, puta.

- Foi sim. Ahahahahahahaha, me pertube agora vá. Coloquei e ainda travei a zorra toda ai. Vai ter de chamar o rapaz da informática. E advinha? Ele é rubro-negro também, sacana! Se fudeu ahahahhaha

- Ah, miséria... Era só que faltava. Seus gatinhos sem estrela invejosos de merda.

-Nada, nada disso... Não me venha com negócio de estrela, papá. A porrada ontem foi dura hein!? Comi uma água da porra em sua homenagem, Carlinhos.

- Ó paí, meu deus... Ó paí... Num iluda esse povo não, é sério. E tire logo essa porra daqui do meu computador.

- Relaxe, Carlinhos. Quando você menos esperar já entrou 1... 2... 3... Igual a ontem hahahahaha

- ...

- Deixe de besteira, lindão. Pega logo essa guia ai da sua mesa que o chefe quer logo, logo agora.

- Que porra nenhuma. Só trabalho depois das 9h, cê sabe disso.

- Rapaz... Veja logo isso ai. Ele falou comigo sexta que queria isso logo hoje cedo. E era com você. Diz ele que é mais rápido, sei lá... Vá, man. Dê mole não.

- Ah, merda... Me dá logo ai vá.

Zéu, então, entregou o papel para Carlinhos. Estava escrito: “Tome sua porradinha de leve e não chore. Hoje você é minha putinha”

- Rapaz, é sério... Num comece não essa porra que vai dar merda. Tá pensando que eu sou otário é? Jogo roubado do caralho...

- Ahahahhahah, Man... Eu só tenho é rir de você hoje, meu caro. Só rir. Falou tanto semana passada que hoje você é minha putinha.

E a segunda-feira continuou como tantas outras: os colegas de Zéu e Carlinhos com fone de ouvido. Mas Zéu ainda preparava sua cartada final. Aquele dia era importante para a repartição, que iria apresentar um trabalho para os diretores da empresa. Nada muito importante, mas dava para o plano do rubro-negro. Com um olhar masoquista, Zéu tirou de dentro da mochila uma camisa social vermelha e preta (duas vezes do tamanho dele, dos tempos que tinha 130kg). Enquanto Carlinhos estava na sala do chefe, Zéu foi lá fora e conversou algo rapidamente com Ligeirinho, o menino que vendia quebra-queixo e nego-bom para o pessoal da firma. Cinco minutos depois...

- Ô Ligeirinho, chegou cedo hoje, rapaz... Me dê dois nego-bom ai, na moral.

- Pô Cema, você é linda mas paga, tá? A não ser que queria sair com o putão aqui, né, ai...

- Cala a boca, menino safado. Toma ai R$2 e fica queto.

- Muito obrigado... Carlinhos! Carlinhos... Quer não? Tem aquele quebra-queixo que voc...

(Ligeirinho espertamente esbarra em Carlinhos, que estava com seu 3º café do dia em mãos)

- Puta que pariu, Ligeirinho!! Porra é essa??? Derrubou café na minha camisa... Você tá doido é, sua lombriga desalmada? E agora... Rapaz... Né possível uma porra dessa não.

- Relaxe, man. Tenho uma camisa extra aqui. Ia dar pra um colega mais tarde. É minha mas é antiga, dá em você, pode ficar tranqüilo.

- Valeu, man... Porra...

A oferta sarcástica de Zéu deu certo. Horas depois, quando estava faltando apenas 5 minutos para a apresentação, Carlinhos gritou do banheiro pedindo a camisa ao amigo.

- Toma ai, ó. Ta todo mundo lá esperando só você. Até!

Quando Carlinhos pegou a camisa e viu não dava mais tempo. A merda tava feita. Tinha que vestir aquela camisa com listras verticais vermelhas e pretas. Bem ao estilo do rubro-negro baiano. Na apresentação, tudo correu bem na frente de mais de 30 pessoas da firma, exceto pela cara de Carlinhos, amaldiçoando o amigo eternamente. E por Zéu também, que sentou no canto e tirou várias fotos.

2 comentários:

Gustavo Castellucci disse...

hehehhehehehe

o troco!

José Bonifácio do A. Sobrinho disse...

olhar sádico não velho?!
masoquista é quem gosta de sofrer...
bjo