sexta-feira, 25 de abril de 2008

Amaralina e a quiabada

Existe na Bahia duas ótimas contextualizações para a expressão “complexo de inferioridade”. O termo em questão todo mundo sabe o que é e como usar. Mas na Baêa é diferente. Vejamos.

Um exemplo claro é a quiabada (para os desavisados: ensopado de quiabo ou algo que o valha), que nada mais é do que um caruru (para os desavisados: “muqueca” de quiabo, ou algo que o valha) que não deu certo. Traumatizante, diriam uns. Tosco, diriam outros. Mas a verdade é que eu sempre me irrito quando tem em casa para comer uma quiabada: “Porra, porque não um caruru?”, é o que mais e ouve. É só acrescentar o dendê e pronto, tá feito o caruru. Mas não, prefere essa coisa bizarra de quiabada. Na realidade, todos amam o caruru, que é a cara da Bahia e vem sempre acompanhado de várias coisas: vatapá, arroz, galinha, farofa de dendê, pipoca, etc. Ninguém faz “Quiabada de Sete meninos”, mas sim “Caruru de Sete Meninos”. Ninguém oferece quiabada a santo ou orixá, o caruru é oferecido a todos. Sem dendê, a única vantagem da quiabada é a praticidade, porque é só cortar quiabo e jogar carne e abóbora que tá feito o ensopado, a iguaria que sempre quis ser um caruru e nunca conseguiu.

Assim também é com a Amaralina, esse aprazível bairro de Salvador. Uma localidade que não sabe o que é, não sabe onde começa nem muito menos onde termina. Você vem da Pituba, ali na Manoel Dias, e vai indo, indo... Quando de repente não sabe se já está em Amaralina ou não. Enquanto você está pensando nisso, o carro já chegou no Rio Vermelho e pronto: nada de Amaralina. Ela fica bem entre a Pituba e o Rio Vermelho, dois bairros tradicionalíssimos de Salvador. Na verdade, é apenas uma ponte de um para outro. O único grande ponto de referência do bairro é o Quartel de Amaralina, esse sim todos conhecem (grande parte dos homens de Salvador se alistou justamente lá para o exército). Mas, o pior de tudo para Amaralina é ver o crescimento vertiginoso de um braço seu, um apêndice que hoje é muito maior que ele próprio. Sim, é o Nordeste de Amaralina, que relega apenas ao sobrenome o nome do pai. Em muito casos fala-se apenas Nordeste e tá tudo certo. Mesmo sendo uma bocada da porra, o Nordeste é hoje muito maior e mais importante que a pobre Amaralina (nome desgraçado, deve ter vindo de algum “Amaral” da nossa história).

Se alguém tiver mais algum exemplo, por favor, fique a vontade.

4 comentários:

Ombudsman disse...

E o Nordeste de Amaralina é bem grande... pega Pituba e Rio Vermelho lá por dentro. Amaralina, na minha concepção, só vai do Quartel até aquele o local das baianas de acarajé. rsrsrsrssr

Anônimo disse...

Antiga fazenda do Amaral, Amaralina tem, na pronuncia, o patrimônio baiano do sotaque melífluo e romântico que só o baianês tem. Ouça alguém falando AMARALINA e depois dizendo PITUBA.Só por isso já é importante no contexto da cidade. Não precisa de área territorial.Ela tem o sotaque.Um dia será apenas um boteco com esse nome, e as pessoas dirão que vão "tomar uma" no Amaralina. E então surgirá uma nova Amaralina, como Placafor, recriações que só a Bahia faz.Quanto à quiabada, é uma daquelas delicias baianas feitas no aconchego de casa, como o cheiro no cangote escondido no quintal, sem a indiscrição festiva do caruru, ou do beijo na boca entre as cordas do bloco, em frente a câmera de tv. Mas é uma delicia, bem quentinha, com arroz branco e cerveja, na mesa com a mulher e os filhos. Em setembro tem caruru. Uma folga à intimidade da quiabada.Ai ela se veste de santo e convida todo mundo.Parabéns ao Blog...

Anônimo disse...

Não sou muito fã do bairro, não. Acho que tem um clima chato de eterno mormaço.
E quanto a única diferença entre quiabada e caruru ser o dendê..ledo engano! Caruru leva castanha, amendoim, camarão!
Abraços!

Gustavo Castellucci disse...

pior é Brotas, pai!

quantas localidades existem em Brotas?

o Vale do Ogunjá divide brotas no meio e nem assim o bairro acaba!

brotas começa no Iguatemi e termina no Dique.