segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Brincando com o hipertexto: a Série Lótus

Eu lancei dois contos hoje de uma maneira diferente. Resolvi brincar com o hipertexto. Você pode ler os dois textos em qualquer ordem, porém só irá entender a história completamente se ler os dois. Os dois contos possuem informações que complementam o outro. Portanto, para ler a Série Lótus basta escolher qual conto quer começar. A escolha é sua.

A idéia é fazer isso mais vezes, isto é, pegar uma história um pouco mais longa e desmembrar em duas, mas sem obrigar o leitor a escolher qual deve ler primeiro. A ordem, eu repito, é meramente aleatória. Então, acompanhe:

Morena ou Sexta-feira

Sexta-feira ou Morena

Série Lótus - Morena

* Antes de acompanhar esse conto, você pode ler se quiser "Sexta-feira", que faz parte da mesma série. A ordem dos textos não altera o entendimento, mas a leitura dos dois é imprescindível para a compreensão da história. Escolha o caminho. A explicação você encontra aqui.

Morena

Puxou o último trago do cigarro e enxugou o suor que escorria pelo rosto. Olhou fixamente para frente, num ponto cego e sem rumo. Engoliu o nervosismo, afinal, não era a primeira vez que fazia aquilo. Avançou em direção à morena e, num golpe só, matou a mulher quase a deixando decapitada. O gringo fez companhia à moça minutos depois.

Na verdade, Alvinho só se lembrou do que tinha feito no dia seguinte, quando acordou com o telefonema de seu amigo colaborador Artur. Era ele quem tirava as famosas fotos que alimentavam o site de coisas bizarras que ele mantinha secretamente. A mãe, com quem morava, achava que ele era mais um analista de sistemas (ou algo parecido) que trabalhava em casa nessa grande metrópole chamada Salvador. A casa onde moravam ficava no Rio Vermelho, muito perto da locadora onde Artur trabalhava e que servia de ponto de encontro para os dois. Alvinho estava ansioso para ver as fotos do seu feito do dia anterior.

Turbinado com algumas gramas de cocaína, o analista encontrou com Artur ao meio-dia; o sol a pino. Ouviu um blá-blá habitual sobre a dificuldade em fazer as fotos, a bizarrice que era aquilo tudo, o arrependimento, a brutalidade da vida... Os raios de sol atrapalhavam imensamente o olhar de Alvinho e foi com essa desculpa que eles se despediram.

A graça para Alvinho era matar e depois exibir seu feito e, para isso, outras pessoas tinham que ver e “apreciar” sua obra, como ele dizia. Com isso, ainda matava outra necessidade, a de ganhar dinheiro, e seus assassinatos iam direto para o site. Aquela série Lótus estava rendendo grandes dividendos e cada dia mais novos assinantes e anunciantes. A idéia ele mesmo teve: matar mulatas tipicamente brasileiras ao lado de gringos, principalmente se fosse bem brancos. Para dar o contraste, pensou arteiramente o rapaz.

Na seqüência dos fatos, ainda faltava ele matar uma morena para completar o ciclo de três dessa série e, assim, partir para outra. Em Salvador era fácil arranjar esse tipo de vítima; Alvinho adorava encontrá-las no Pelourinho, em qualquer festa típica realizada à noite. Era o espaço perfeito, já que lá mesmo ele encontrava refúgio no pó e na cerveja do local. Geralmente se passava por gringo também – dada sua cor e sua habilidade em falar inglês – e se juntava a outros na caça das mulheres. Invariavelmente levava alguma para cama, mas quase nunca tinha coragem suficiente para matar.

Foi assim no dia da sua última vítima. Márcia passeava quase que diariamente pelo Pelourinho em busca de aventuras sexuais. Já estava cansado dos negros da Bahia e suas bem dotadas virilidades e queria mais carinho e o fator exótico. Foi o que pensou quando viu Alvinho sentado sozinho na mesa 23, saboreando cada trago do seu cigarro importado e bebendo devagar a cerveja. Olhar matador, ela pensou. Nem se lembrou que era sexta-feira, dia que ela podia encontrar um rapaz bonito e eficaz na cama que ela conheceu semana passada num bar do centro.

No vai e vem dos garçons, os dois se encontram num beijo que só pareceu terminar quando Márcia abriu a porta de sua casa. É claro que Alvinho (Glenn, para ela) estava acompanhado de um gringo de verdade, um alemão rosado que estava mais bêbado que os dois juntos. Nem chegaram a transar. O objetivo de Alvinho não era esse. Abriu o nariz do alemão com um soco e o supercílio de Márcia com o cotovelo. Deu nem tempo de gritar. O rapaz já estava virando profissional. Depois de amarrar os dois, ele ainda teve tempo de cheirar outra carreira em cima do porta-retrato dela. Vasculhou os dois e pegou alguns objetos de valor, na tentativa de parecer um assalto, e deixou cair duas fotografias enroladas num papel. Desdenhou.

Os casos de assassinatos vieram à tona e os meses seguintes foram de apreensão para Alvinho. Seu amigo Artur havia sido preso em seu lugar pelos crimes – parece que encontraram fotos e telefone do rapaz no local -, mas esse não era o maior problema. Afinal, os dois tinha negócios para lá de sujos e bizarros rolando por debaixo do pano. Ele temia que algo fosse descoberto, o que aconteceu meses depois, logo depois que Artur conseguiu provar sua inocência. A polícia fechou o cerco e decretou a prisão de Álvaro Genaro, o Alvinho. Ele recebeu a notícia quando estava deitado no chão do banheiro, depois de cheirar mais de quatro carreiras de pura cocaína. Sua mente girava, seu corpo ardia todo e seus ouvidos ouviam sua mãe chorar. Mal conseguiu processar tudo aquilo. Correu pela sala em busca da mochila, voltou para o quarto e começou a encher de roupa. Sua mãe ficara para fora do quarto e Alvinho só conseguia entender os choros e lamúrias da senhora. Não sabia bem para onde ir e antes que terminasse sua tentativa de fuga correu para o banheiro. Vomitou coisas incolores e seus próprios sentimentos. Tateou a pia em busca de água e encontrou mais um papelote do pó. Cheirou. Num impulso de rara coragem, quebrou a janela do banheiro e viu que lá embaixo o Rio Vermelho estava todo cercado pela polícia. Nem pensou.

Antes de se jogar da janela do sétimo andar, Alvinho ainda teve tempo de pegar na mesa dois vidros de tinta e um pincel. Era com eles que fazia a tatuagem de lótus nas garotas.

Série Lótus - Sexta-feira

* Antes de acompanhar esse conto, você pode ler se quiser "Morena", que faz parte da mesma série. A ordem dos textos não altera o entendimento, mas a leitura dos dois é imprescindível para a compreensão da história. Escolha o caminho. A explicação você encontra aqui.

Sexta-feira

De noite, o trabalho de Artur era pesado. Tanto é que até apelido ele ganhou, afinal, fotógrafo legista da polícia não pode simplesmente se chamar Artur da Silva de Jesus. O pessoal da repartição o chamava de Gil Grissom, alcunha que o tímido João não só gostava, como também passou a adotar no seu dia-a-dia.

O dia começa cedo, aliás. De manhã ele dormia, de tarde era atendente numa locadora do bairro e de noite ele fotografava os mortos. Não interessa onde ou o porquê, sempre chamavam Gil para fotografar as vítimas de homicídio e quase nunca mortes duvidosas ou simplesmente naturais. O fotógrafo empunhava com orgulho uma Olympus OM-100, uma máquina um tanto quanto ultrapassada, mas que dava resultados impressionantes. E foi com ela que ele trabalhou numa noite quente de janeiro, numa casa suja no subúrbio ferroviário de Salvador.

- Parece ser gringo. Tomou uma porrada forte aqui na nuca, tem marcas de agressão nas pernas também... Gil, fotografa bem aqui na boca, ó.
- Hm... Pronto, Freitas. Mais algum lugar? Tem ainda a morena gostosa no segundo andar, lá em cima na laje que...
- Porra, Gil... Gostosa? A mulher toda estropiada, e você ainda tem tempo de chamar a mulher de gostosa? Pervertido do caralho!

Gil era assim: bem frio no seu trabalho, a ponto de achar uma mulher esquarteja gostosa e tirar as fotos sem o maior problema. Foram essas fotos, aliás, que renderam uma boa grana a Artur. Na locadora, ele vendia as fotos a um sujeito estranho de nome Alvinho. Era um trabalho sujo, é verdade, mas quem tem ética nessas horas? Alvinho era dono de um site de podreiras bizarras e as fotos do fotógrafo legista eram o grande chamariz do site, que no momento já batia a casa de 70 mil visitas por dia. Ninguém da polícia tinha sequer desconfiado ainda e Artur faturava alto. E nem parecia, já que o rapaz guardava tudo numa caixinha debaixo do armário fedido de sua casa em Amaralina, um quarto-sala minúsculo com vista para o mar. O que fazer com o dinheiro nem ele mesmo sabia, mas tinha consciência que era preciso guardar para algum momento de necessidade. Quem sabe um carro. Não, ele era mais do tipo de comprar uma moto.

Dinheiro para o bar ele tinha. Toda sexta-feira era dia da cerveja gelada e pagode no bar perto da repartição. O local era conhecido como antro de policiais, mas até que era freqüentado por mulheres também. Foi uma dessas que Gil (ele adorava o nome) conheceu uma morena, lá pelas tantas e depois de tomar 10 garrafas acompanhado de Molina. Márcia o nome dela. Belo exemplar do sexo feminino; era do tipo de mulher que o cara se pergunta dez vezes por que estaria dando mole justamente para ele. Mas não, não era esse o caso do Gil versão bêbado, que vangloriava-se aos quatro cantos ser policial, muito embora nem arma tivesse. Foi com esse papo que Márcia caiu no colo de Gil já no táxi de volta para casa. A masturbação no caminho rendeu bons momentos de prazer na cama, no sofá e na cozinha de casa.

O sábado seria mais um dia, se não fosse pela presença de Márcia. Mulher estranha aquela. Pouco falou e quando abriu a boca foi pra dizer que estava de caso com um gringo, um alemão alto e forte, que ela vem se encontrando frequentemente nesse verão. Foi embora ainda cedo, muito antes do almoço. Gil nem se lembrava do motivo pelo qual ela ficou com ele, mas isso não importava. Ainda no banho se masturbou pensando na noite que teve com a bela mulher.

A madrugada de segunda-feira foi novamente agitada. Outro assassinato no subúrbio – e novamente um gringo e uma linda mulata. Lá estava Gil com a máquina em punho e tirando fotos de todos os ângulos possíveis. Tudo natural e a polícia nem estava dando muita atenção para o segundo caso seguido em uma semana. Nem Gil, mas o rapaz logo se viu atordoado quando passava as fotos para Alvinho. No trocar de fotografias, ele percebeu uma curiosa semelhança: as duas eram mulatas, tinham tatuagem de lótus na nuca e foram assassinadas juntamente com estrangeiros. Não demorou muito para ele correr no site e rever as fotos da semana anterior, confirmando assim uma perigosa constatação: Márcia era uma vítima em potencial, se é que os casos tinham ligação.

Meio avesso a coincidências, Gil esperou ansiosamente o telefonema de Márcia, já que ela não atendia a suas ligações. Mas ela estava sempre no bar na sexta-feira, então era só esperar. E foi assim a semana toda, numa preocupação que ele nunca tinha sentido. Alguma coisa havia ali e ele queria se afastar do pensamento de perder o bom sexo que a mulata Márcia fazia com ele.
Na sexta, dia em que saía à meia-noite, o dia não terminou como deveria. Gil já se preparava para descer do prédio quando um chamado foi atendido por Freitas: mais um caso de homicídio no subúrbio da cidade. Gil tremeu. Chegando lá, novamente a mesma situação dos crimes anteriores: gringo e mulher brutalmente assassinados. A mão do fotógrafo nunca havia titubeado um momento sequer em toda sua carreira, mas quando viu o belo rosto de Márcia a vertigem lhe atingiu em cheio. Rodou tonto pela sala da casa e foi parar na janela, vomitando todo hambúrguer e coca-cola da noite. Quem tirou as fotos no dia foi o próprio Freitas e Gil foi levado à enfermaria da polícia. Nem precisou sair de lá. No local do crime foi encontrado duas fotos dele e seu número de telefone anotado num pedaço de papel. Juntando o fato deles terem sido vistos juntos uma semana antes, sinais de agressão na moça e outros detalhes técnicos, a polícia prendeu preventivamente o rapaz.

Sem chance de se explicar. Foi assim que ele se sentiu. E também sem o amor e o sexo de Márcia, a misteriosa mulata que sai com gringos. O dinheiro guardado, que poderia ter sido para comprar uma moto, foi usado todo com advogados na tentativa de provar que ele nada tinha a ver com o acontecido. Provou que foi vítima do acaso, de estar no lugar errado na hora errada.
Só lhe restou o emprego na locadora, que alugava bastantes Box de seriados americanos. Artur olhou reticente para um deles. Estava lá escrito: “CSI: Las Vegas”. No verso, o nome de um dos personagens principais: Gil Grissom.

- Aqueles filhos-da-puta da polícia precisavam me sacanear desse jeito?

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Ajude a melhorar o mundo

A blogsfera tem dessas coisas: um blog cool cria alguma coisa e os outros seguem. Não sou muito adepto dessa premissa, mas vou abrir uma exceção. Hoje é o EMO DAY. Para comemorar, rasgue um boneco Teddy Bear.

Claro, essa iniciativa tem um belo acento irônico e é de muita valia para nós seres normais (nesse momento eu dou uma de Hitler e confesso que Emo é uma raça inferior, mas por sorte boa parte dele sobrevive alguns anos depois. Seqüelas são relativas). Fazendo um gancho, aqui em Salvador o fenômeno Emo também é forte. Há alguns anos era fácil ver exemplares passeando livremente pelo shop. Iguatemi. Vejam vocês, um absurdo.

É óbvio que eram vistos sempre de franjas, camisas apertadas e chorando pelos cantos. Hoje, a maior parte deles pode ser visto em shows matinê na Boomerangue, no Rio Vermelho. Aliás, local apropriadíssimo, já que virou a Meca da diversidade: vê-se de tudo, do público gay ao público mauricinho e a fusão dos dois: emo.

Portanto, comemore hoje e vá além de rasgar o tenro bonequinho: elimine um emo em potencial, aquele que ainda não sabe se é ou não. Você fará um grande bem à humanidade. Para saber mais sobre a raça, acesse:

Como ser emo?
Emo? Explicação Técnica. Grande Manual Sobre emos
100 Regras para ser emo
EMObole

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

O tempo é implacável


Você veja bem. A coisa mais implacável do mundo é o tempo e geralmente nos deixa piores do que éramos antes. Agora, não sabemos se é porque pioramos mesmo ou porque vieram outros melhores.

Vinícius de Moraes que o diga. O grande poeta tinha a fama de pegador. O público e a crítica chegaram a contar quantas musas ele teve, chegando ao considerável número de nove. Isso sem levar em consideração as vagabundas e pistoleiras que cruzaram sua vida e que, é claro, ele tirou sua lasquinha. Mas esse NOVE ficou na minha cabeça. A sétima da lista - que conhecendo umas e desconhecendo outras, imagino ser composta só por mulheres, no mínimo, gostosas – é a baiana Gessy Gesse. Morena linda de traços exóticos, foi musa de Vinícius em incontáveis poesias e letras. Ah, sim, ela também sucumbiu ao tempo, aquele mesmo que eu mencionei no início. A cidadã hoje é horrenda.

Mas quem sou eu? Se Vinícius de Moraes, que é quem é, pegou e aprovou, quem sou realmente? E olha que ele largou tudo no Rio pra vir morar aqui em Salvador com ela, numa casa de 400m2 em Itapoã. Aliás, um parêntese aqui: “ahhh, itapoã, nunca mais foste a mesma”. Fim do parêntese. As músicas e poemas? Tarde em Itapoã, Regra Três, Morena Flor, E Por Falar em Saudade, A Casa, dentre outras.


O romance durou cerca de 7 anos, porque Moraes que é Moraes vai atrás de outra musa pra cumprir seu destino inexorável. A casa ficou, e se você quiser fazer o mesmo que Vinícius fez durante anos é só pagar: a noite de núpcias no local sai por míseros R$400. Isso só é possível porque hoje a casa pertence a um hotel e é chamariz de luxo para visitantes. E o tempo, meus caros, só é amigo dos mortos.

*foto da escultura em bronze de Vinícius de Moraes, localizada no bairro de Itapoã em Salvador.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Diálogos do Cotidiano - Vagabunda na cama

- A coroa é exigente.
- Duvido!
- Tô lhe dizendo. Ela cola coxa com coxa e diz no ouvido: “bota até as bolas”. E você tem que segurar o tranco, senão é chute na bunda.
- Eu ainda duvido.
- E porque?
- Primeiro que ela não é pro seu bico. Segundo que ela nem é tão bonita...
- É gostosa.
- Calma que não acabei ainda. Terceiro que ela não tem cara que vagabunda na cama.
- Ah é é? E como é cara de vagabunda na cama?
- O olhar diz tudo. Eu vejo uma mulher vagabunda de cama de longe. Ah, pronto. Sabe Zoraide, do 808? Aquela que tem uma filha gostosa, que faz balé numa academia aqui mesmo na Barra?
- Sei. Aquela putinha do bundão.
- Ela é vagabunda na cama
- É? Eu nunca tinha reparado, mas você disse agora... Até que pode ser. Mas porque?
- Analise comigo: ela sempre usa batons escuros. Sempre tá bem cheirosa, que é pro homem saber de longe que a fêmea dele tá chegando...
- Hm...
- Ela tem um olhar meio tímido, pendendo pro lado. Segura a bolsa contra o corpo, porque dentro da bolsa tem um vibrador do tamanho de Kid Bengala.
- Ah, não. Isso não. Não imagino Zoraide andando pelo bairro com um vibrador na bolsa.
- Escute mais. Tem o maior indício de todos: fala pouco e com voz mansa. Toda mulher que fala pouco e com voz mansa é vagabunda na cama.
- Meu caro, Jones. Você tá um expert da porra em mulher, viu!? Sabia não. Nunca te vi com mulher, porra. Essa análise é coisa de viado.
- É? E Mirtes?
- Que tem?
- Vagabunda na cama. Maria do 101? Também. A maior de todas? Soraia, a síndica.
- Não. Você agora apelou. Cala a boca.
- Comprovadíssimas.
- E como é que você sabe disso tudo?
- Você acha que essas vagabundas gostam de que tipo de homem? Eu: o porteiro malhado e jovem que mete forte enquanto os maridos estão trabalhando.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Metalinguagem

Hora do balanço. Calminha. Não pensem que eu entrei numa crise criativa e estou enrolando meus caros leitores. Não é isso. Eu semana passada estava futucando o sitemeeter (ferramenta de contagem de leitores) e achei coisas muito interessantes. Achei também, há algumas semanas, o Feedjit, que eu simplesmente pirei. E hoje fiz o twitter, essa coisinha estranha que não sei bem o que é, mas pode ser muita coisa.

Pois bem. No sitmeeter eu descobri coisas realmente pitorescas. Antes, eu percebi que muita gente acessa o Terra de Ninguém através do blog de vocês, caros leitores. Muito obrigado por tal. Mas não é só isso. Dentre os poucos milhares que já passaram por aqui, alguns chamam atenção pelo caminho o qual chegaram a esse destino. A maioria dos últimos visitantes, excetuando os leitores assíduos, vieram à procura de uma foto de Preta Gil, uma que linkei em algum top 10. É sério. Ganha até de Ivete, outra muito cobiçada por desavisados que aqui atracaram.

Sobre o FEEDJIT, é realmente interessante saber da onde são os leitores do blog. E olhe que tem gente do mundo todo, desde Japão à Angola, passando por Inglaterra, Panamá, Suíça e Canadá. Devem ser brasileiros. Aliás, do Brasil, a maioria dos visitantes é do estado de São Paulo e nem têm muitos da Bahia. Estranho.

E o Twitter é uma ferramenta bem dispensável, mas que tem lá certa utilidade. Vou usar como mais um meio de informação, só que colocando coisas fora do escopo temático do blog. Pode ser interessante. Sempre dêem uma olhada lá, mesmo que não tenha post novo.

Pra finalizar, volto agora aos visitantes inusitados. Segue abaixo uma lista de temas procurados no google que acabaram apontando para cá. Será que o mundo ainda tem jeito?

- garota de programa gostosa do cabula
- fotos de preta gil
- acessórios para fusca
- Arvore genealogica do bicho preguiça
- arvore genealogica joao cupertino correia
- pq a claudia leitte chama seu marido de doze?
- pinto torto massagem

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Top 10 em inglês

O 11 de setembro chegou e vocês acharam que eu ia esquecer da data? Tudo bem, eu esqueci, mas me lembrei nestante. E que porra o 11 de setembro, as torres gêmeas, os EUA e Bin Laden têm a ver com a Bahia?

Top 10 motivos para Bin Laden estar escondido na Bahia

1 - Junto com Caetano e Gil, está tentando reviver o movimento Tropicalista, já que Tom Zé já disse que não quer mais.

2 - No Islã, dizem que quando o homem morre ele terá 21 virgens à espera no paraíso. Bem, Bin Laden se confundiu no caminho.

3 - Depois das Torres Gêmeas, a idéia era acabar com o axé, mas ai a mulata balançou a bunda e o negão tocou o timbau... E tudo virou festa.

4 - Veio só dá uma passadinha pra conhecer o Carnaval, mas acabou ficando. Sabe como é... Dá uma preguiça...

5 - Ainda tá passando por um estágio na Polícia Militar da Bahia, conhecida por seus métodos “suaves”.

6 - Não está mais. Ele já morreu, afinal, ele era ACM.

7 - Ele soube de uma tal aldeia hippie em Arembepe e tá lá até hoje.

8 - A Bahia está estrategicamente localizada para realizar novos ataques terroristas no mundo. Só resta saber quando Bin Laden vai levantar da rede.

9 - Afegão é tudo burro mesmo.

10 - Com a palavra, Gilberto Gil: “A conjuntura pós-11 de setembro, que num contexto amplificado e normatizado, alongou-se na plenitude ocasional de um quadrívio ontológico e único que levou as forças terroristas a momentos inexeqüíveis". Cala a boca, Gil!

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Diálogos do Cotidiano – Dois lados lado a lado

- Não dá certo. A gente é muito diferente, vem de mundos diferentes, Beto.
- Isso nunca foi problema. As diferenças são assim mesmo. Estão aí pra serem ultrapassadas, amor.
- Não me chama mais de amor, por favor.
- Chamo de linda. Pode ser?
- Também não. Me chame pelo nome: Rosana.
- Eu te chamo do jeito que você quiser, Rosana.
- Não adianta! Não dá mesmo. Somos diferentes, gostamos de coisas completamente diferentes, somos de lugares distantes...
- Eu me mudo pra perto se você quiser.
- Isso eu duvido. Você sair do centro pra vir morar em Itapoã... Tá vendo? Eu adoro praia e você odeia.
- Até que um solzinho de vez em quando não faz mal.
- Eu gosto de Ana Carolina, já você...
- Sempre achei que no fundo no fundo ela tinha talento. Me empresta o CD.
- Não insiste, não... Seu negócio é filme cabeça e teatro.
- Faço pipoca pra gente ver novela.
- E mesmo se você viesse, ia ficar dando palpite e criticando o tempo todo.
- Faço voto de silêncio.
- E seu baba* de fim de semana na quadra do Central?
- Baba na praia é mais natureba, do jeito que você é.
- Só de olhar pra berinjela você vomita e vem me falar de natureba. Ai ai...
- Amanhã começo minha dieta vegetariana.
- Você fala isso tudo da boca pra fora, Beto. Depois que passar duas semanas você volta a ser o mesmo homem imaturo, desrespeitador e ciumento de sempre.
- Mas eu não te amava. Depois desse mês sem você eu descobri que te amo de verdade. É sério, não me olhe com essa cara. Trouxe até uma flor pra você. Toma.
- É linda... Eu sempre te amei, Roberto Almeida Campos. Sempre.
- Pois é. Posso entrar? Abre o portão pra mim que aqui fora tá calor.
- Pronto. Pode entrar.
- Ah... Só mais uma coisinha.
- Fala.
- Eu só queria mudar uma coisa em você: o sobrenome. Casa comigo?

*baba = pelada, futebol.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Baianidade nagô

Mais um post de recomendações. Confesso que já tinha preparado os textos dessa semana, mas sábado saiu no A Tarde um especial sobre a baianidade, ela mesmo, a famigerada. Achei que tinha tudo a ver (e tem).

Pra quem não teve oportunidade de ler, recomendo imensamente. As matérias e entrevistas são um mergulho nesse conceito bastante falado e pouco discutido – em larga escala, porque no meio acadêmico as teses e dissertações correm o mundo. Dá pra saber, por exemplo, que no século passado (porra, como soa estranho falar “século passado”) a baianidade foi em grande parte fruto das músicas de Dorival Caymmi e dos livros de Jorge Amado, das interações dos personagens que ambos criaram. Essa imagem, portanto, foi sendo criada na cabeça do resto do país, o que eu vejo como um fato simplesmente, sem julgamento de bom ou ruim. O problema todo é que a partir da década de 50, a Bahia passou a usar esse conceito de baianidade, preguiça e alegria para vender o Estado como destino turístico. E o fez com bastante competência.

Enfim, não sou eu quem fala isso e nem devo ficar aqui gastando meu “blá blá blá”. Leiam as indicações que vale muito a pena.


: : Entrevista com Osmundo Pinho, Pós-doutorado em antropologia pela Universidade de Campinas e pesquisador da cultura negra.
: : Turismo e Baianidade: a construção da marca “Bahia”
: : O Brasil Best Seller de Jorge Amado - Ilana Seltzer Goldstein
: : Dicionário de Baianês – Nivaldo Lairú

Desfaz-se nesse instante o momento intelectual do blog. Nos próximos dias voltaremos com a programação bagaceir... quer dizer, com a programação normal

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Vá e ouça: Cascadura

Eu geralmente venho a esse inestimável blog falar do povo e das histórias baianas. Bem, esse post não é bem por ai, mas tem algum nexo. Dessa vez eu venho dar umas boas dicas de música, tema o qual sou fanático. A dica em questão é a banda baiana Cascadura, que imagino boa parte dos leitores do blog conheça, mas nunca é demais falar dos caras.

Eles se descrevem como rock n´ roll, mas eu vou além: resumo o Cascadura como roque. Assim mesmo com “qu”, que é pra dar ênfase na simplicidade do som dos caras. Porém, se é pra rotular em alguma coisa, eu diria que numa primeira fase eles soam como uma banda de rock dos anos 70, mas nos últimos dois discos estão melhores ainda, pois aprenderam a ser uma banda de rock dos anos 70, só que tocando música dos anos 00.


É simples. Junte ai Rolling Stones, Beatles e The Who com Silverchair (pós-99), Queens Of The Stone Age e Foo Fighters. É mais ou menos por ai, muito embora não é legal ficar entregando o ouro assim. Vá lá e ouça. Isso, é claro, se você gosta do bom e velho rock n roll. Quer dizer, roque and roll.

Histórico – A banda foi formada em 1992 e na época se chamava Dr. Cascadura. Tem quatro discos lançados: #1 (1997), Entre (1999), Vivendo Em Grande Estilo (2004) e Bogary (2006). Como eu disse anteriormente, a primeira metade da banda é mais setentista, como que numa procura por um estilo próprio, mas é igualmente boa à segunda parte, na qual eles encontram sua marca registrada.

Destaques para: Nicarágua, A Verdadeira Historia Do Dr. Cascadura, Doze e meia, Tão velho quanto o rock'n roll, O batismo, Retribuição, Vivendo em grande estilo, Queda Livre, Mesmo Estando do Outro Lado, Contra-luz, Senhor das Moscas, Elnora, etc. etc.

Vá lá - http://www.fotolog.com/drcascadura
http://www.myspace.com/cascadurarock


:: Baixe os discos

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Amor de Itaparica

O bairro do Tororó era a guarida durante 10 meses do ano. Para a família Oliveira, aquele período era igual ao de muitos outros soteropolitanos: chato e corrido, sempre à espera das férias. O que sobrou do ano, sim, era um período excitante. Todos iam passar as férias na ilha de Itaparica.

Joel era o mais danado. Desde que se entende por gente o menino corre solto pelas ruas e praias da ilha. Não parava quieto. Arminda, mãe dele e de mais quatro garotos, desdobrava-se em mil para conseguir segurá-lo. Hoje, com 19 anos, Joel nem se lembra das peripécias do passado, e só quer saber mesmo das meninas. Para ele, não interessa a idade ou a procedência. Nessas últimas férias o problema foi grande.

A questão toda era reencontrar todas aquelas garotas que ele já havia levado para trás da Barraca de Bigode, um barraqueiro boa praça que cedia os fundos do seu estabelecimento para as aventuras sexuais dos garotos. Dizem uns que o coroa era tarado e ficava espiando de longe, mas isso pouco importava para Joel. Negro, alto e dono de famoso dote sexual, ele não se contentava com pouco. E até por isso muitas garotas corriam atrás dele, mesmo parte delas com medo do volume por debaixo de sua calça.

O reencontro naquele ano foi tranqüilo até, e poucas foram as que vieram correndo atrás dele. Joelma foi uma delas. Dona de inigualáveis seios e ancas enormes, ela fazia parte do rol daquelas mulheres de encher um copo inteiro, chegando até derramar algumas gotas, logo sorvidas por lábios apressados. Joel adorava traçar Joelma; era um negócio tremendo, quando os dois transavam a lua se escondia de tanta vergonha. Os dois ferviam. Até hoje a barraca de Bigode ostenta um amassão na parte traseira; ninguém se arrisca a confirmar nada.

Tânia é outra. Moradora de Itinga, também passa todas as férias na ilha. Joel se desdobra pra agradar ela também, que é adepta do sexo seguro. O rapaz não curte muito não, mas é só ela juntar seu corpo contra o dele, para o garoto subir num tesão estrondoso. Ela, magrinha, sucumbi ao porte atlético dele. O vai e vem deles já fez gatos e cachorros de platéia.

Porém, a grande paixão de Joel é Aninha, justamente uma menina que ele nunca transou, sequer beijou. No verão de 2005 chegou perto, quando ela ficou bêbada numa festa regada a cerveja quente e pagode, mas acabou mesmo pegando a irmã dela. Muda a coitadinha, gemeu tanto naquela noite, que amanheceu falando. Milagre que ninguém sabe a procedência e que ela, também, não quis contar. Então Aninha faz jogo duro até hoje. Sua irmã muda, Glorinha, insiste até não poder mais, achando que o sexo do rapaz pode curar a gagueira dela. Joel não sabe disso.

Nesses anos todos, ele nem teve chance de saber. Aninha tem um corpo escultural: seios perfeitos, suficientes para encher a mão sem tirar nem pôr, bunda proeminente, barriga correta e carinha de anjo. Talvez uma das últimas almas femininas de Itaparica que ele não tenha traçado. Essa era a meta para aquelas férias. Mas Aninha, como sempre, calada e tímida passeava sempre com a irmã a tira colo. É verdade que na primeira noite, descontente com um fora dela, Joel tenha ido para a barraquinha acompanhado de Selma, coroa boazuda de Paripe. Comeu e amanheceu com mais sede de Aninha.

A garota era esperta. Queria muito estar suando junto com Joel, num vai e vem intenso de pernas e coxas. Mas o jogo dela era outro. Como era gaga, dificilmente teria novamente o rapaz em suas mãos, isto é, depois da primeira foda, ele ia sair fora. Então a onda era ser difícil, e foi o que ela fez o tempo todo.

Toda noite a praça de Itaparica se enchia de garotos da classe média soteropolitana, com seus carros novos com o som tampando a mala. O lado pobre da ilha não se intimidava e pegava o bonde andando mesmo. Sem gastar um tostão. Joel sempre pegava uma ou outra patricinha, mas eram fracas em relação a Joelma ou Tânia. Nessas noites ele investia em Aninha, mas quase sempre sem sucesso. Quase.

Na última noite, dia de uma festa fechada com muito pagode e clima efervescente, Joel partiu para o ataque soviético: encostou Aninha na parede e puxou-lhe pela bunda. A garota urrou de desejo, mas mesmo assim ainda tentou dar uma de difícil. Porém, entregou-se, não sem antes se encher de coquetel molotov, uma bebida inventada ali mesmo na ilha e que poucos sabiam a real procedência. Até o destino final, a barraca de Bigode, Aninha descarrilhou a falar, mas em nenhum momento gaguejou. Joel estava bêbado também e pouco entendeu.

A manhã seguinte foi de despedidas. Era o domingo derradeiro, o último dia das férias de todos. O Ferry Boat estava lotado como sempre e Joel atrasado. Chegou em casa junto com os primeiros raios de sol e só conseguiu acordar quase 18h. O sorriso em seu rosto era brilhante. Enfim sua meta tinha sido alcançada e de uma maneira memorável. Talvez aquela noite tenha sido a melhor de todas para ele. Os dois juntos amassaram em mais um ponto a barraca de Bigode, juntaram cães e gatos ao redor, fizeram da lua uma mera coadjuvante da noite e chegaram a um novo nível da palavra ‘sexo’.

Aninha, por sua vez, acordou cedo. Curada da ressaca, chegou à mesa do café tranquilamente e conversou sobre todos os assuntos com a família. Mais uma vez, ninguém entendeu nada, já que a menina não mais gaguejava. A única que sorriu com o canto da boca foi Glorinha, que já pensava em inventar algum distúrbio para ser curada dali a um ano.