quarta-feira, 30 de abril de 2008

Anedotário baiano

"O baiano toca berimbau porque só tem uma corda. Se tivesse mais [cordas], não conseguiria".
-Antonio Natalino Manta Dantas, coordenador do curso de medicina da ufba

Essa é mais uma pérola do anedotário baiano. Se nós mesmos (visto que o autor é baiano) falamos uma coisa dessas, então pode ir abrindo as pernas pra quem quiser. No one land decretada! Quero ver as reações diversas: entidades, ufba, alunos, etc.

Veja a notícia completa.


update: O tal coordenador quis melhorar a situação mas piorou. Lançou mais essa: "Aqui não é propício pra medicina. Aqui é muito voltado pra musicalidade, essas coisas... Se bem que esses ritmos percusivos eu nem considero música"

update 2: O cara renunciou. Já não era sem tempo.

Nossa "middle land"

A cada dia eu realmente me decepciono com essa cidade. Parece impossível, mas é o que acontece. Nosso país é democrático, mas uma passeata legítima a favor da legalização da maconha foi “queimada” antes mesmo de acessa. Coisas de nossa justiça inapta e ainda com resquícios do catolicismo. E também de uma hipocrisia filha da puta, diga-se de passagem.

O mesmo evento irá acontecer em outras cidades: Cuiabá, Rio de Janeiro, João Pessoa, Fortaleza, Belo Horizonte, etc. Veremos o que vai acontecer nesses locais, já que aqui até a polícia já ameaçou os manifestantes.

Sobre a causa em si, apóio firmemente. Maconha pra quem quer, responsabilidade para todos.

segunda-feira, 28 de abril de 2008

O dia depois de domingo

Segunda-feira azulada aquela. Zéu acordou com uma ressaca das brabas. Olhou o rádio relógio piscando: 6h30. “Puta que pariu!”, gritou Zéu enquanto tateava a procura dos óculos. Acabou achando um pacote de engov aberto e outro fechado. Meteu goela abaixo e levantou rápido para se arrumar; o buzú das 7h15 é sempre o pior e se ele não se apresasse, era justamente nele que iria todo apertado. Quando estava no banheiro escovando os dentes veio a lembrança: uma camisa rubro-negra repousava suja no canto do banheiro.

- Porra!!! Dor de cabeça miserável que me fez esquecer do jogo. Caralho... ahhahah... Metemos pau naqueles bahia de merda. Carlinhos se fudeu.

Carlinhos, Bahia doente, era seu colega de firma e dividia a baia com ele. Cena dantesca se repetia religiosamente todas as segundas, tendo jogo ou não. As discussões eram tão comuns que os outros colegas aprenderam com o tempo: segunda-feira era dia de ouvir música no fone.

7h50 e lá estava Zéu na repartição. Nenhum filha da puta tinha aparecido na sala, nem a gostosa da Cema. “Melhor assim”, pensou o rubro-negro. Alguns minutos depois chega Carlinhos.

- Bom dia aê.

Zéu não responde e fingi estar no telefone. Carlinhos liga o computador, olha as horas e vai atrás do cafezinho. Quando volta...

- Desgraça! Que porra é essa aqui, mermão? Wallpaper do vitória na minha máquina?! Essa porra só pode estar de sacanagem. Como é que tira esse troço daqui? Zéu!? É com você mesmo seu viado, foi você que pôs isso aqui foi? Diga ai vá, puta.

- Foi sim. Ahahahahahahaha, me pertube agora vá. Coloquei e ainda travei a zorra toda ai. Vai ter de chamar o rapaz da informática. E advinha? Ele é rubro-negro também, sacana! Se fudeu ahahahhaha

- Ah, miséria... Era só que faltava. Seus gatinhos sem estrela invejosos de merda.

-Nada, nada disso... Não me venha com negócio de estrela, papá. A porrada ontem foi dura hein!? Comi uma água da porra em sua homenagem, Carlinhos.

- Ó paí, meu deus... Ó paí... Num iluda esse povo não, é sério. E tire logo essa porra daqui do meu computador.

- Relaxe, Carlinhos. Quando você menos esperar já entrou 1... 2... 3... Igual a ontem hahahahaha

- ...

- Deixe de besteira, lindão. Pega logo essa guia ai da sua mesa que o chefe quer logo, logo agora.

- Que porra nenhuma. Só trabalho depois das 9h, cê sabe disso.

- Rapaz... Veja logo isso ai. Ele falou comigo sexta que queria isso logo hoje cedo. E era com você. Diz ele que é mais rápido, sei lá... Vá, man. Dê mole não.

- Ah, merda... Me dá logo ai vá.

Zéu, então, entregou o papel para Carlinhos. Estava escrito: “Tome sua porradinha de leve e não chore. Hoje você é minha putinha”

- Rapaz, é sério... Num comece não essa porra que vai dar merda. Tá pensando que eu sou otário é? Jogo roubado do caralho...

- Ahahahhahah, Man... Eu só tenho é rir de você hoje, meu caro. Só rir. Falou tanto semana passada que hoje você é minha putinha.

E a segunda-feira continuou como tantas outras: os colegas de Zéu e Carlinhos com fone de ouvido. Mas Zéu ainda preparava sua cartada final. Aquele dia era importante para a repartição, que iria apresentar um trabalho para os diretores da empresa. Nada muito importante, mas dava para o plano do rubro-negro. Com um olhar masoquista, Zéu tirou de dentro da mochila uma camisa social vermelha e preta (duas vezes do tamanho dele, dos tempos que tinha 130kg). Enquanto Carlinhos estava na sala do chefe, Zéu foi lá fora e conversou algo rapidamente com Ligeirinho, o menino que vendia quebra-queixo e nego-bom para o pessoal da firma. Cinco minutos depois...

- Ô Ligeirinho, chegou cedo hoje, rapaz... Me dê dois nego-bom ai, na moral.

- Pô Cema, você é linda mas paga, tá? A não ser que queria sair com o putão aqui, né, ai...

- Cala a boca, menino safado. Toma ai R$2 e fica queto.

- Muito obrigado... Carlinhos! Carlinhos... Quer não? Tem aquele quebra-queixo que voc...

(Ligeirinho espertamente esbarra em Carlinhos, que estava com seu 3º café do dia em mãos)

- Puta que pariu, Ligeirinho!! Porra é essa??? Derrubou café na minha camisa... Você tá doido é, sua lombriga desalmada? E agora... Rapaz... Né possível uma porra dessa não.

- Relaxe, man. Tenho uma camisa extra aqui. Ia dar pra um colega mais tarde. É minha mas é antiga, dá em você, pode ficar tranqüilo.

- Valeu, man... Porra...

A oferta sarcástica de Zéu deu certo. Horas depois, quando estava faltando apenas 5 minutos para a apresentação, Carlinhos gritou do banheiro pedindo a camisa ao amigo.

- Toma ai, ó. Ta todo mundo lá esperando só você. Até!

Quando Carlinhos pegou a camisa e viu não dava mais tempo. A merda tava feita. Tinha que vestir aquela camisa com listras verticais vermelhas e pretas. Bem ao estilo do rubro-negro baiano. Na apresentação, tudo correu bem na frente de mais de 30 pessoas da firma, exceto pela cara de Carlinhos, amaldiçoando o amigo eternamente. E por Zéu também, que sentou no canto e tirou várias fotos.

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Amaralina e a quiabada

Existe na Bahia duas ótimas contextualizações para a expressão “complexo de inferioridade”. O termo em questão todo mundo sabe o que é e como usar. Mas na Baêa é diferente. Vejamos.

Um exemplo claro é a quiabada (para os desavisados: ensopado de quiabo ou algo que o valha), que nada mais é do que um caruru (para os desavisados: “muqueca” de quiabo, ou algo que o valha) que não deu certo. Traumatizante, diriam uns. Tosco, diriam outros. Mas a verdade é que eu sempre me irrito quando tem em casa para comer uma quiabada: “Porra, porque não um caruru?”, é o que mais e ouve. É só acrescentar o dendê e pronto, tá feito o caruru. Mas não, prefere essa coisa bizarra de quiabada. Na realidade, todos amam o caruru, que é a cara da Bahia e vem sempre acompanhado de várias coisas: vatapá, arroz, galinha, farofa de dendê, pipoca, etc. Ninguém faz “Quiabada de Sete meninos”, mas sim “Caruru de Sete Meninos”. Ninguém oferece quiabada a santo ou orixá, o caruru é oferecido a todos. Sem dendê, a única vantagem da quiabada é a praticidade, porque é só cortar quiabo e jogar carne e abóbora que tá feito o ensopado, a iguaria que sempre quis ser um caruru e nunca conseguiu.

Assim também é com a Amaralina, esse aprazível bairro de Salvador. Uma localidade que não sabe o que é, não sabe onde começa nem muito menos onde termina. Você vem da Pituba, ali na Manoel Dias, e vai indo, indo... Quando de repente não sabe se já está em Amaralina ou não. Enquanto você está pensando nisso, o carro já chegou no Rio Vermelho e pronto: nada de Amaralina. Ela fica bem entre a Pituba e o Rio Vermelho, dois bairros tradicionalíssimos de Salvador. Na verdade, é apenas uma ponte de um para outro. O único grande ponto de referência do bairro é o Quartel de Amaralina, esse sim todos conhecem (grande parte dos homens de Salvador se alistou justamente lá para o exército). Mas, o pior de tudo para Amaralina é ver o crescimento vertiginoso de um braço seu, um apêndice que hoje é muito maior que ele próprio. Sim, é o Nordeste de Amaralina, que relega apenas ao sobrenome o nome do pai. Em muito casos fala-se apenas Nordeste e tá tudo certo. Mesmo sendo uma bocada da porra, o Nordeste é hoje muito maior e mais importante que a pobre Amaralina (nome desgraçado, deve ter vindo de algum “Amaral” da nossa história).

Se alguém tiver mais algum exemplo, por favor, fique a vontade.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Se a moda pega...

Em Taubaté, concurso para escritutário tem questões sobre BBB e casal global

Essa é a nova moda então, né?! Pois agora os próximos concursos da prefeitura de Salvador serão na mesma linha. Vejamos as perguntas:

- Quem era o vocalista da banda Companhia do Pagode?
- Cite três grandes festas que acontecem anualmente no Wet n´ Wild.
- Porque Varela emagreceu tanto?
- Qual a sexualidade de Casemiro Neto?
- Desde que ano Bell Marques usa aquela bandana?
- Situação problema (questão objetiva): você é o anfitrião de 10 turistas que nunca vieram ao carnaval de Salvador. Você está no Farol da Barra, em pleno sábado de carnaval às 22h, e tem que chegar até o Hotel Othon. Qual o melhor caminho? Detalhe sua resposta.

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Um domingo típico

Domingo à noite. Um baiano típico olha pro relógio. São 22:27. Ele coça o saco, dá uma escarrada pra demarcar território e puxa o celular. A TV está ligada no Fantástico passando a entrevista dos pais daquela menina que morreu jogada do sexto andar. Disca o número de outro baiano típico.
- E ai seu porra... Fazendo o que?
- Diga viado! Fazendo o que? Você ainda me pergunta, misera!?
- Porra, man... Tá um barulho da porra ai. Tá aonde?
- Comendo água!! Amanhã é feriado e o baêa meteu 4 no vice lá no borradão.
- É mermo!! Porra ,véi... Tava na praia com a patroa e os minino e nem me lembrei do jogo. Foi lá?
- Que nada. Quem é que bota os pés naquele lixão? Aonde...
- Ahahah... Você é foda mermo... Quem tá ai com vocês?
- Rapaz... Tem uma barreira: Gelson, Cabeça, Ninho, Toco, Déu, Piruito, Rolha e um monte de sacana com a camisa do baêa. Vem pra cá, porra!
- Dá não man... Tô aqui numa maresia do cabrunco, sono da porra. Cê sabe... Passar o dia todo no sol, tomando nova schin e comendo aquele peixe frito de Seu Elton na praia é foda...
- Porra... E você nem pra me chamar, né misera? Aquele peixe frito é bom pra caralho. Eu ia na praia, enchia a cara e descia direto pro bar de Mequinho. Mas é niuma... Como é que tá Aninha?
- Tá bem sim. Já tá roncando e as porra. Chegamo umas sete hora aqui, batemos o rango e sono veio logo. Você sabe... Eu durmo tarde cumaporra... Tô na seca aqui, com uma vontade de bater na boca do sapo, dar uma bimbada.
- Ahahahah... Acorda a patroa!
- A misera ronca que é uma desgraça!
- Aahahaha... Vem pra cá então, misera. Amanhã é feriado! Vamo cume água que o Baêa meteu 4 naquelas puta!! Larga ela ai dormindo.
- Que nada. Dá não.
- Você é acorrentado é porra? Desce logo. Coloca a bermuda e puxa aquela camisa velha do Baêa do armário que eu tô ligado que você ainda tem. Essa viadagem de torcer pro São Paulo... Onde já se viu... Nasce na Bahia a porra e vai torcer pra aquele time de viado.
- Relaxe, man. A camisa do Baêa da CCS ainda ta guardada.
- Emtão porra, venha!! Olhe... Tem umas nega aqui que chegaram nestante. Sentaram numa mesa ali no canto e pá... Cabeça e Ninho já foram lá dá um chega. As mulé tão na boa, mas daqui a pouco começa a ficar beba, ai já viu...
- É mermo é?
- É, rapaz... Tô lhe dizendo. A gente arrasta aqui pro Motel Prazer Eterno... 1 hora é R$9,90! Foda garantida, confia no papa aqui.
- Porra man... Tá dando uma vontade da porra, mas num dá não. Dá não! Vou desligar aqui que essa porra tá levando meus créditos todo. A gente se fala!
- Mas é acorrentado mermo... Ai ai... Vá lá, man!

Telefone desligado, ele vai na cozinha. Olha na geladeira uma skol perdida lá no final. Antes de abrir vai ao quarto com um sentimento pesado; talvez seja o peixe frito da praia que dá uma azia daquelas. Mas não, não é nada disso. Olha a mulé roncando e os filhos dormindo. Abre o guarda-roupa e parece procurar algo. É a velha camisa do Baêa da CCS. Puxa o chinelo, ajeita a bermuda jeans desbotada e sai. Antes, abre a skol.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Canto religioso do novo milênio

Imaginem essa cena bizarra: uma passeata religiosa. Epa, não se ofendam, até porque nem sei exatamente qual religião era aquela. Num domingo de sol a pino. Dezenas e dezenas de senhoras empunhando bandeirinhas e proferindo cânticos evocativos. É um tal de Deus pra cá, Senhor pra lá. Até trio elétrico tinha passeando por aqui nesse domingo de madrugada, às 10h. Ah, e tinha a carreata, daqueles preguiçosos que preferiam ir de carro buzinando.
Cena feita, rolava os cantos clássicos, tipo: “Glóriaaaa, glóriaaa, glória ao paaaaaaaaai...” ou o lindo “Santificado seja nosso Deeeeeeeeeeeus...”. Belos hinos. Porém, o melhor estava guardado. Quando o trio puxou o Lá menor seguido de um Sol maior, as velhinhas erguiam suas bandeiras e cantavam:
“Vamos rezar até cair!!”

(ahn?!)

“Vamos rezar até cair!!”

(que porra é essa, man!?)

“Vamos rezar até cair!!”

(Véias doidas do caralho!!!)

“Vamos rezar até cair nas graças de Deus”

(Ah, tá, entendi...)

É algo muito mais baiano, florido, chicletão, dançante e contemporâneo. Viva!

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Vende-se beijo!

Preste atenção numa coisa. Vá a um show de axé em qualquer lugar do país, e isso inclui os carnavais e micaretas. Beleza. Agora vá a um show de rock, e isso inclui os grandes festivais. Ótimo.
Inúmeras diferenças, hein!? Pois é, uma das grandes, e talvez a mais latente, é o ambiente de pegação. No show de rock não há isso. Como eu li em algum lugar que não lembro: “axé vende beijo na boca”. Incrível, pelo menos para alguma coisa aquela batucada toda serve. Alguém se imagina perdendo tempo atrás de mulher com o U2 tocando “Still Haven´t Found Waht I am Looking For” bem ali na sua frente? Nunca! Vi grandes show de rock e nunca perdi meu tempo indo atrás de qualquer rabo-de-saia. Já no axé... Ivete ta lá tocando e nego só quer saber de pegar mulé e beijar na boca ao som de “Abalou”.
Deve ser por isso que tem muito marmanjão rock n roll correndo atrás do mulheril, ops, do trio elétrico.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Holding de Ambulantes

Essa coisa de inclusão social é uma faca de dois gumes (desculpe-me o sarcasmo). É claro que todos queremos o bem da humanidade, todos felizes e bla bla bla. Mas enfim... Qualquer ônibus que não esteja muito cheio tem, invariavelmente, um ambulante vendendo guloseimas, chaveiros, canetas mágicas, equipamento de mergulho, mãe, virgindade, alma... O Sindbal ta ai pra organizar essa loucura. Outro dia estava eu enterrado numa cadeira qualquer do lado direito e entra um cidadão com o famigerado colete do Sindbal:

- Um bom dia a todos, amigos queridos...

(já começou mal. Amigo de quem, porra?)

- Eu podia estar roubando, eu podia estar matando, mas não senhores. Não! Graças ao apoio do Grupo de Apoio a Drogados-num-sei-das-quantas minha vida mudou e muito. Você quer ajudar pessoas como eu a sair desse mundo? Pois é meus caros...

(Esse lenga-lenga todo pra vender umas canetinhas Bic que se compra em qualquer budega)

- Essa caneta Bic é revolucionária! Ela tem um clic automático e um incrível suporte para bolso! Em questão de...

(PQP! Clic e suporte revolucionários? Esse cara saiu do mundo das drogas para o mundo dos vendedores mentirosos)

- ...de segundos você estará escrevendo com essa belíssima caneta, que deixa a sua escrita cada vez mais bontia. Pode experimentar, pessoal. É muito boa. E custa apenas R$ 2! E três por R$ 5, hein...

Alguns idiotas compraram, achando que com isso estariam fazendo suas boas ações do dia. Vão chegar no trabalho e largar em qualquer canto da repartição.
Chegamos, então, a um ponto sujo qualquer da orla. Enquanto o ex-dependente está colhendo a grana do pessoal, outro ambulante (também devidamente trajando o uniforme do sindicato) entra no buzú. Estava vendendo balinhas mágicas de hortelã e parece que ficou meio constrangido. Afinal, estaria roubando a clientela do outro, ou algo parecido. Mas, como atendiam a demandas diferentes, ele resolveu apostar.

- Essas são as mais novas balinhas de hortelã. Quem compra garante. Quem compra aprova. É bom pra gripe, resfriado, dor de garganta, gastrite, enjôo e sinusite. Cada saquinho vem com 5 balinhas para seu deleite...

(Caralho, outro mentiroso não! Esse sindicato é um antro, na moral)

- ...E custam apenas R$1 cada saquinho. É bom, é bom, muito bom!

Engraçado. Enquanto o primeiro terminava seu recolhimento de dinheiro, esse das balinhas agonizava no meio do buzú esperando que os passageiros comprassem ao menos um saquinho. Eu simplesmente virei a cara pra apreciar as praias sujas de Salvador. Ouvi isso quando os dois enfim saíram do ônibus:

- Porra man, foi mal ai. Entrei no carro quando você tava lá dentro.
- É nenhuma, rei. Na paz. E aquela cerveja?

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Corrida eleitoral

Ah, eleições. Eleições na Bahia é uma coisa linda. No interior do Estado é uma festa de candidatos bizarros a procura de voto em troca de saco de farinha. E olhe que tem gente que cai. Não seria mais fácil ser malandro? Diz que vota mas não vota. Existe até aquela lenda de que o matuto tem que dizer ao candidato qual a cor da roupa que veste na foto da urna eletrônica. Mas ai também é fácil de burlar. É só digitar o número do cara, ver a foto, cancelar a opção e votar corretamente. Mas a gente é burro mesmo.

Em Salvador, já há alguns anos, é um festival de propaganda bizonha. E mesmo dos candidatos com chances de se eleger. Baixaria, então, esse ano podemos esperar muita. Quem tem João Henrique, Imbassahy e Varela como candidatos pode começar a chorar. Esse último, utilizando-se do seu programa não menos bizarro na TV, atirou a primeira pedra essa semana: mostrou no ar uma mulher que diz ter sofrido preconceito racial de uma irmã de Imbassahy. Lindo. Os factóides começam a ser criados, mudanças de partido articuladas e tudo continua como dantes no quartel de Abrantes. Pelo menos para nós, fudidos da população.

terça-feira, 8 de abril de 2008

Retórica política


Com quantos paus se faz uma canoa? Pergunta lá ele e retórica. Então, com quantas obras se faz um governo? Já podem observar ao longo das avenidas, ruas e vielas de Salvador um fenômeno interessante: placas e mais placas de obras. Pura retórica política. Na prática, você não vê nada sendo feito.
Inclusive, nosso colega do blog Mitsuplik flagrou um desses momentos.
Sua cidade, sua casa?

segunda-feira, 7 de abril de 2008

O pombo arruaceiro

Era uma bela tarde de um dia qualquer. Em Salvador isso quer dizer um sol infernal e um calor de fritar ovo no asfalto. Sobreviver a esses dias é uma tarefa difícil, só com ventilador (pra quem é pobre e não tem ar condicionado) e muito banho. Mas eis que a lei de murphy se “personifica” num estranho acontecimento. De repente, um estrondo ensurdecedor e a luz se vai. Simples.

- Que porra foi essa ai?

- Alguma coisa aconteceu, sei lá. Xô ver ali – e corre a empregada para verificar.

Minutos depois ela volta.

- Aquele transformador lá queimou e tá sem luz.

- Não diga... Qual transformador? Da onde?

- Aquele do banco, em frente ao banco.

- Ah tá, vou ligar pra aqueles preguiçosos da Coelba.

Tarefa ingrata essa. Alguém já tentou ligar para a Coelba? É um martírio. Mas como eu estava puto e com calor, era melhor do ficar suando sem poder descontar em alguma atendente miserável. Depois de inacreditáveis 4 minutos só de instruções e voz eletrônica repetindo um monte de coisas sem sentido, consegui falar com a mulher.

- Boa tarde. Quero comunicar falta de energia na minha rua aqui na pituba... Aveni...

- Senhor, você poderia me confirmar o endereço?

- Pois é, é o que eu ia dizendo quando você me interrompeu.

- Desculpa, senhor. Você poderia me confirmar o endereço?

- Claro. Aveni...

- Obrigado. Iremos verificar e mandar uma equipe se possível.

- Se possível? Tamo sem luz, meu amor. Liga logo pra uma daquelas equipes que ficam na rua. Eu sei. É tudo terceirizado. É simples, vai.

- Primeiro, senhor, temos que verificar. Essa sua ligação eu passo para uma outra equipe interna e eles que resolvem o que fazer.

- Ah, merda, tanto faz...

Desliguei e fiquei esperando. Deu meia hora. Deu uma hora, duas horas e nada da luz voltar. Toda hora eu olhava na rua para ver se a tal equipe chegava. E nada. Eis então que 2h e meia depois aparece o tal Uno e um caminhão-sei-lá-o-que com uma escada. Eu, espertalhão, fiquei de butuca para ver como se daria o conserto. A luz voltou.

- Zé, que aconteceu pra dá aquele estrondo todo? – perguntei ao porteiro do prédio.

- Disseram que foi um pombo.

- Que porra de pombo o que Zé, tá louco?!

- É sim. Um pombo pousou ali e fudeu com a porra toda. Ó lá os cara levando o pombo embora.

E lá se foi o pombo morto entre as tralhas da Coelba. Olhei para cima e vi uma dezena de pombinhos em cima da fiação e do próprio transformador. Medo.

sábado, 5 de abril de 2008

No buzú

Estava voltando mais um dia do trabalho, num puto cansaço e, portanto, sem a mínima vontade de fazer o percurso andando. Seriam 15 minutos na paleta, mas preferi pegar o buzu, gastar o crédito do salvador card e gastar apenas 5 minutos. Quando entrei no transporte e empunhei meu cartão, a máquina acusou: “R$0 de crédito”.

- Ahn!? Essa porra tinha crédito

- É... Tem mais não – disse o cobra

- Oxe... Agora é que foi. Vou ver se tenho dinheiro aqui.

Isso o buzú já tinha andado e milagrosamente achei R$10 na carteira. Entreguei.

- Tem troco não.

- Como assim?

- Tem troco não, man.

- Porra véi... Só tenho esse ai.

- Mas num tem troco. Posso fazer nada.

- Pode sim. Você tem que ter troco, né possível.

- Tem não, ó! Tá vendo que aqui num tem porra nenhuma.

- Claro! Mas vocês são obrigados a ter troco até no máximo R$10, ta dizendo ai nesse adesivo no vidro.

(lá vai eu tentar ser moralista e defensor dos direitos humanos)

- Anh!? Esse aqui?

- É, esse mesmo.

- Rapaz... Tá ai mas num tem troco.

- Porra... E ai, como é que faz? Quero chegar em casa e tô com a grana pra pagar.

- Pois é... Sabe quem colocou esse adesivo ai?

- Sei lá!

- Nem eu! A parada tá ai mas a lei é essa aqui e não tem troco.

- Então tá. Vou ficar aqui e saltar do buzú sem pagar.

- Por mim...

Ai o coletivo chegou no meu ponto e eu saltei sem pagar. Na saída, vi uma mulher entrando no buzú com a carteira aberta e puxando uma nota de R$10, pronta para fazer o pagamento ao nobre cobrador.

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Equação sem vencedores

Questão polêmica essa do sistema carcerário brasileiro. É falido, falho e não recupera ninguém. Isso ai qualquer bobalhão sabe. Basta ter assistido Carandiru e aos noticiários da televisão.

Aqui na Lemos Brito a situação, meus caros, é mais do que precária. Aquilo ali já se transformou num verdadeiro barril de pólvoras. Estive lá há alguns anos e constatei a triste realidade que só agora deputados estão encarando: estão encabeçando uma CPI para analisar de uma vez por todas o sistema penitenciário brasileiro. Aquele lugar é tudo menos um sistema fechado, incorruptível e sem falhas. Para fugir de lá é só querer, pois os portões e muros são extremamente frágeis e a segurança de quem visita é ameaçada facilmente. Aliás, a revista de visitantes é hilária. Os policiais só abrem o porta-malas do carro na entrada e na saída. Nada de revistar as pessoas. Nada.

E lá dentro você só vê pessoas amontoadas e algumas muito poucas trabalhando, muito pela falta de espaço que a própria diretoria dispõe aos presos. Quem trabalha tem um pouco mais de chances. Quem não faz nada o dia todo tem quase 0% de chance de sair dali e voltar a ter uma vida “normal”.

E o maior problema de tudo isso (leia mais nos links abaixo) é quem paga o ônus da nossa precariedade: povo. Simples como uma conta de somar sem as casas decimais, essa equação não tem vencedores, somente perdedores. Se o Estado não consegue lidar com os presos, boa parte deles sai e não tem perspectiva de vida, ou seja, volta à bandidagem. Mais simples ainda: quanto mais dinheiro nós gastarmos na recuperação, menos eles voltarão à criminalidade. Simples assim.

Agora pergunte o que vai realmente acontecer dessa CPI. Preso não vota.

Saiba mais:
Deputados constatam caos na Lemos Brito
Direitos Humanos e Sistema Penal

Os custos do crime

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Quer uma mãozinha ai?


Br-324, fevereiro de 2008.
Em qualquer lugar minimamente decente ele já estaria preso.

terça-feira, 1 de abril de 2008

Duas potências

A atual situação do Rio, com toda essa peleja contra a dengue, é indigesta para o governador. Mas o que tem a ver isso com o blog? Muita coisa. Olha, então, a situação da Bahia com a greve dos policiais civis e a eminência da paralisação da PM. Mais uma situação indigesta para nosso governador.

Duas das maiores potências do Brasil sofrendo problemas estruturais e médicos graves e muito por culpa da omissão dos dois. No nosso caso, essa situação já vinha se desenhando há muito tempo: salário baixo, poucos aumentos em anos, más condições de trabalho, etc. Só não vê quem é "cego".

Então fica a pergunta: Lá a dengue, aqui os bandidos. Qual o pior?

foto: A Tarde