O dia não era dos melhores para Marcelo Macaco, ou simplesmente Macaco. O bar sujo em que ele trabalhava no centro da cidade acabara de ser roubado por um bando de pivetes sem dentes e com muita fome na barriga. Mesmo assim, só roubaram cervejas e garrafas de pinga, além de toda grana do caixa; as coxinhas e os pastéis sobreviveram. Macaco tinha tomado um soco na boca duas vezes naquele mesmo dia: de manhã de sua agora ex-namorada Binha (corruptela de Abenilda) e mais tarde de um fedelho na invasão do bar.
Era realmente triste aquele dia. Macaco olhou o calendário no momento em que o Cabo Bira saía do buteco em diração à DP. 17 de agosto. Se dizem que agosto é um mês azarado, esse 17 de agosto então era um péssimo dia para Macaco. Talvez fosse o caso dele jogar o próprio apelido no jogo do bicho. E foi o que ele fez.
Engraçado que o próprio Marcelo não sabia que 17 é o número do macaco e, óbvio, que ele não pensou duas vezes em apostar quase tudo que tinha no 17. No roubo do bar, os moleques também levaram todo seu salário do mês que vem e a essa altura do campeonato Macaco só tinha os restos, justamente guardado para uma foda num motel ali da Avenida Sete. Mas ele persistiu. E levou, o danado. Deu macaco na cabeça, como dizem os entendidos. O mero faz-tudo do “Bar do Nerso” agora era dono de uma pequena fortuna, cerca de R$80 mil.
A primeira coisa que ele fez foi encontrar com Binha. Nada de pegar o Sussuarana/Barra e demorar 1h30 pra chegar ao destino final. Foi de táxi, justamente o jeito encontrado para impressionar a moça. É verdade que Binha era uma safada mesmo e não pensou muito em aceitar o convite para a noitada. Macaco preferiu não contar nada a ninguém sobre o prêmio, muito menos para ela. E lá se foram os dois para um bar da moda na Barra. Tédio. Decidiram então ir ao velho Mercado do Peixe, onde lá encontraram uma dezena de amigos.
A noite, no entanto, durou dois dias e só terminou na terça-feira. Nerso, o dono do bar, já estava louco porque estava trabalhando esse tempo todo sem o ajudante. Macaco era desligado, coitado. Nem avisou nada. Só apareceu por lá na sexta-feira, a bordo de uma pampa 91 com o som até em cima. A rua toda parou pra ver o carro passar e ver também a primeira dama, Binha, pulando de alegria. Estranho era todo esse arsenal de novas coisas que Macaco ostentava agora e ninguém entendia nada, já que ele não contou nem a sua mãe que tinha ganho R$80 mil no jogo do bicho. Nerso desconfiou.
Alguns dias depois, Macaco foi novamente ao local e deu de cara com Cabo Bira. O policial, conhecido na área como “O implacável”, levou Macaco para dar uma voltinha na viatura. A “voltinha” durou 2h e só foi parar quase em Lauro de Freitas, quando o pobre rapaz enfim pediu penico. Chorava litros e litros. Bira não estava nem ai. A versão dos fatos na cabeça da polícia e de Nerso era de que Macaco tinha armado o roubo do buteco.
Meros mortais esses. Macaco implorava pela vida e finalmente teve que confessar. Mesmo assim, cabo Bira não pareceu acreditar e pediu pra ver, assim como São Tomé. Era tudo verdade.
Para comemorar tudo isso, Nerso resolveu dar uma festa na laje de sua casa, em Coutos. Macaco foi todo feliz e ainda levou Binha, que a essa altura já estava pensando em dar o golpe e se casar com o rapaz. Era muito arteira Binha, tanto é que foi persuadida por Nerso a ajudá-lo num plano miserável para tomar tudo de Macaco. Em filme essas tramas e golpes são feitos em salões luxuosos, mas o dono do bar só poderia fazer mesmo na laje de casa.
Pagode solto e carne na brasa, a festa corria tranquilamente. Binha, que agora já pensava no futuro, flertava com Cabo Bira, mesmo ele tendo uma aparência nojenta. E Macaco tomava várias Nova Schin e ficava de olho em Binha, embora ele sempre soube que ele não era flor que se cheirasse. Mas a amava. E foi esse amor que fudeu com Macaco.
No meio da festa, a moça apelou no dominó e perdeu. Discutiu ate xingar a mãe de Dolores, uma gorda que fazia parceria com Nerso. Para apaziguar tudo, Macaco teve de sentar à mesa para jogar também. Depois de várias latinhas de cerveja, ele se sentia um gorila e resolveu apostar. O jogo era armado, com pedras marcadas e parceiros dedo-duro. Macaco perdia mão atrás de mão e não se conformava. Nerso chegou a apostar a própria casa contra o que sobrara do dinheiro do pobre rapaz. Não teve volta.
Macaco dormiu o domingo inteiro, como que querendo que aquilo tudo fosse um mero pesadelo. Acordou segunda de manhã sem saber para onde ir e, naturalmente, só lhe restou falar com Binha e depois voltar a trabalhar no “Bar do Nerso”. O encontro com a moça não foi nada amistoso. Gato escaldado, Macaco já foi preparado e se esquivou bem do soco dela. Saiu correndo e escarrerado pelo Cabo Bira. Só lhe restava o bar. Chegou lá meio que como quem não quer nada e aceitou novamente o emprego de faz-tudo. Nerso ria à toa e tinha comprado até uma TV nova para passar os jogos do Bahia. Atraía cliente, pensava ele.
Ao final do dia Macaco olhou para o calendário e estava lá: 3 de setembro. Péssimo dia aquele. Foi jogar no bicho novamente e não se surpreendeu nem um pouco com o animal de número 3, o burro.
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5 comentários:
o malandro só existe porque existe o otário.
mais uma história massa
Mais um ótimo post seu Rodrigo hehehe.
[]´s
É macaco...amores e amigos, negocios à parte
ê macacada.
Macaco véio que era nem se ligô... ohhhh Jah!
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