- Me lenhei!
Essa foi a única coisa que Cupertino conseguiu falar quando viu seu fusca colidindo com uma Pajero Full. Desespero total do nobre Cupertino, homem naquela idade que os jovens classificam como “coroa”. O fusca era azul.
A Pajero Full na verdade não estava sozinha: ela acompanhava uma comitiva que se dirigia ao Palácio de Ondina, residência oficial do governo do Estado. No exato momento que Cupertino pronunciou as famigeradas palavras já haviam 3 pistolas semi-automáticas apontadas para sua cabeça. Aquele carro era da Polícia Federal, escolta do príncipe da Suécia que estava fazendo uma visita oficial à Bahia.
- Que porra o príncipe da Suécia vem fazer na Bahia? Calor danado...
Essa foi a única coisa que Cupertino conseguiu falar quando soube disso tudo. O prejuízo, então, era maior do que ele imaginava.
- Meu senhor, é o seguinte: sou pobre, trabalhador, não tenho dinheiro para pagar esse conserto ai.
- Você nem sabe quanto é e já tá chorando é?, disse o policial raivoso
- Não... Não é bem assim. É porque qualquer que for eu não tenho. Tô quebrado, man.
- Você quer então que eu chame a SET?
- Não! Não, a SET não.
- Então temos um impasse. Você vai ter que fazer alguma coisa. E logo, porque não quero perder muito tempo. A comitiva já tá desfalcada e já vou levar uma bronca por causa de você. Diz alguma coisa, mané.
- Porra, seu policial... O bixo tá pegando mesmo pro meu lado. Diz ae outra coisa que eu possa fazer, na moral!
Passaram-se alguns minutos de conversa entre o policial e Cupertino.
- Como é!? Vocês querem me fuder mermo, na moral...
Essas foram as únicas palavras que o coroa conseguiu proferir quando soube do que os federais queriam: um laranja. Cupertino seria uma espécie de isca para prender um traficante famoso no Péla Porco, aquela invasão cabulosa das mais perigosas de Salvador. O plano era simples e só precisava de um otário para executá-la. Primeiro Cupertino ia se vestir de figurão, ou seja, com roupa chique e toda pompa. Depois ele iria subir o morro para comprar uns papelotes de cocaína, mas no meio da transação, ele iria ainda requisitar umas pistolas. E ai a polícia, que estaria escutando tudo pelo microfone, invadia o local atirando em tudo quanto é coisa e prenderia o tal trafiante, o Zé Belé. Dois coelhos numa cajadada só.
No dia marcado, Cupertino chegou a cogitar a possibilidade de fugir. Pegar seu fusca azul e partir em direção a Aracaju ou qualquer outro buraco. Mas não dava. E lá foi ele.
Para a surpresa de todos, o plano não só deu certo, como a polícia não precisou disparar um tiro sequer. No meio da negociação o coroa ainda pediu prostitutas de menor. Tudo ficou registrado e ele mesmo sacou uma arma e rendeu Zé Belé. A Polícia Federal só chegou para prender o sujeito e apresentar à imprensa.
Cupertino ficara livre daquela situação, mas o gostinho que ele sentia era de “eu posso com esses porra, vu?!”. Deu uns meses e o coroa tava tomando sua tradicional cerveja no Bar do Lado, ao lado do Bompreço da Fonte Nova. Encontrou o tal policial lá.
- Topo!
Foi o que se ouviu no buteco quando Cupertino ergueu seu copo em brinde ao que o federal acabara de lhe dizer. Queria ele para outra missão, dessa vez em outra grande favela da cidade: Bairro da Paz.
Como não poderia deixar de ser, a operação foi um sucesso. Cupertino mais uma vez se vestiu de figurão e foi à luta, subiu morro, peitou ladrão, chutou vagabundo e deu tiro pra cima. Ele se sentia o próprio Capitão Nascimento. E não foi só dessa vez não. Quando a cúpula da Polícia Federal soube da fama do coroa, quis logo contratá-lo e não pestanejou em mexer os pauzinhos para aprová-lo num concurso público.
A vida de Cupertino, então, virou uma felicidade só. Com o dinheiro do novo emprego ele podia fazer quase tudo que queria. Comprou um Fiat Stilo, alugou apartamento na Graça, só comia as melhores putas da cidade e freqüentava a nata da night de Salvador. Mesmo assim ele ainda mantinha intacto seu Fusca Azul e, não contente, ainda tunou o bixo todo. Só usava em ocasiões especiais, às vezes até para impressionar uma gata, que se derretia toda com aquele policial rico e excêntrico por gastar tanta grana num mero fusca. E azul.
No meio policial sua reputação era intocável. Alguns o chamavam de Coroa Arrasador, outros de “o novo Exterminador do Futuro”. Chique.
Mas como nem tudo são flores, Cupertino teve lá seu dia de azar. O coroa era ambicioso e isso era inegável. Deu pra se meter com jogo do bicho, que ele sempre achou que dava muito dinheiro, mas nunca teve coragem (e grana) para entrar no negócio. Aliou-se a Mafra, um argentino que chegou ao Brasil com uma mão na frente e outra atrás e conseguiu fazer fortuna com o jogo em Salvador. A parceria era fácil, já que para Cupertino bastava apenas dar proteção policial e avisar sempre que houvesse batida ou qualquer outro tipo de investigação.
- Fudeu!
Foi o que disse Cupertino ao ser flagrado na casa de Mafra. Prisão em flagrante é a coisa que todo bandido teme porque não tem escapatória. Os dois foram levados, mas Mafra era milionário e conseguiu um bom advogado. O coroa não. Estava realmente fudido. Tentou então um acordo com os policiais para que limpassem sua barra e liberassem ele dessa enrascada. Esperto o tal do Cupertino. Mais ainda a Polícia Federal, que resolveu confiscar todos os bens dele além de raspar a conta bancária.
Meses depois Cupertino estava sozinho novamente, e contava apenas com seu velho fusca azul, única coisa que conseguiu salvar. No bar passava um jogo amistoso de futebol entre Brasil e Suécia.
- Suecos filhos-da-puta
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7 comentários:
ehhh
malandro é malandro
otário é otário!
Ia me dar dó do Cupertino, mas ele foi otário, e eu não tenho pena de otário.
Ele já ia tomando no c*, na primeira vez e escapou, vai ver que no fundo o que ele queria era isso mesmo.
Eu procuro não sodomizar a minha vida, mas tem dia que todo mundo leva uma.
Porra, quando ele comprou o Stilo, deveria ter ficado na dele... vacilou!
Êta porra! Já reparou que o brasileiro sempre cosola-se no futebol? O problema aí é se a suécia ganhar; aí Cupertino morre de vez. coitadinho!
divertido, emocionante e bem baiano. mas concordo com o pessoal aí. otário tem que se fuder.
abraço
esse calça arriada deve ser primo de Jota...
intiresno muito, obrigado
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