segunda-feira, 26 de maio de 2008

Abafabanca

Nem todos na casa de Dona Beth gostavam de abafabanca. Alguns mais sofisticados preferiam sorvete ou até mesmo picolé capelinha. Outros mais altruístas tomavam só para fazer gosto à matriarca da família. Mas, no frigi dos ovos, todos acabavam comendo a Abafabanca de Dona Beth.

E não pense que eram poucos sabores, porque a senhora fazia de todos os tipos; inventava mesmo. O primeiro e mais clássico, porém, era o de manga. Dizem até que Maneco, um sobrinho perdido que morava lá pelas bandas de Lauro de Freitas, vinha à cidade baixa só para tomar o de manga, mas acabava sempre tomando o de cajá e o de caju. A receita Dona Beth não entregava a ninguém, mesmo sendo a mais óbvia de todas: suco da fruta direto no congelador. Sem nada a acrescentar.

Até a vizinhança não perdia as abafabancas da família. Era um tal de entra e sai da casa que Juninho, o filho do meio de Dona Beth e Seu Edevair, resolveu lucrar com isso. No início a mãe foi contra, pensando ela que aquele quitute era apenas um passatempo para o seu monótono dia-a-dia. Juninho era esperto e isso ninguém poderia negar.

Ali na Penha a concorrência era indireta. Alguns vizinhos vendiam geladinho e picolé, mas ninguém comercializava abafabancas. Os sabores da vizinhança eram os mesmos, somente Maneco da mercearia que inovou certa vez: trouxe de um mercado de São Paulo uma quantidade grande de anilina azul. A garotada adorava.

Juninho, que não é besta nem nada, passou a vender ele mesmo os abafabancas. No começo eram só 5 sabores: manga, cajá, caju, limão e goiaba. Fácil para Dona Beth. O aviso na portinhola de casa era claro: “Melhor abafabanca do Brasil. R$0,50”. Barato demais, já que o menino teve que investir ainda na compra dos palitos. Mas eu já disse que Juninho é esperto? O garoto pegava os palitinhos de alguns vendedores de picolé capelinha e os cortava ao meio, dando uma aparência nova ao palito e aproveitando o máximo possível dele. Ninguém percebia.

A clientela, antes somente os vizinhos xeretas, agora era mais vasta ainda. Gente que não era muito chegada a Dona Beth agora batia a sua porta religiosamente todos os dias para comprar abafabancas de todos os sabores, tanto é que eles tiveram que aumentar a quantidade rapidamente. Até de baunilha tinha. E chocolate, feito com nescau e leite. E também de sabores mais exóticos: romã, graviola, pêssego com creme de leite, creme holandês (?), papaia e muitos outros. O que Seu Edevair mais gostava era o de abacaxi com hortelã, uma invenção de Juninho depois de ter visto num filme um drique estranho feito de abacaxi e hortelã. Sucesso absoluto.

Tanto foi que Seu Edevair pensou alto. Resolveu fazer um puxadinho ali mesmo no terreno da casa e construir a primeira casa de abafabanca do bairro, ou até mesmo da cidade.

Alguns meses depois, o concreto já estava alto e os pedidos não paravam de crescer. Juninho, astuto como sempre, contabilizava tudo no seu caderninho preto desbotado. O lucro deu para pagar a pequena construção e ainda adquirir um freezer bonito, daqueles que ficam “deitados”.

A estréia do empreendimento foi um burburinho só. Todos na rua e no bairro comentavam, sendo que na noite esperada até a rua foi fechada. Zeca e Juca providenciaram o churrasco, que tinha como sobremesa a estrela da noite: a abafabanca de Dona Beth. À essa altura os sabores eram inúmeros e somavam mais de 70! Incrível como a patriarca da família conseguia fazer tudo isso. Obviamente que ela contava agora com a ajuda de filhos e sobrinhos, mas a receita principal vinha da cabeça engenhosa da senhora. Seu Edevair ficava só de butuca.

Anos depois sucesso era uma palavra “pequena” para expressar as vendas das abafabancas de Dona Beth. Veio TV, artista e gente de todos os bairros para tomar abafabancas de sabores inimagináveis. Dizem até que a Sorveteria da Ribeira perdeu espaço para Dona Beth. Mas ela não deixava cair a peteca. À essa altura Juninho, um agora homem muito esperto, tinha aberto filiais por toda a cidade e a “Casa de Dona Beth”, como era chamada a rede de lojas, não só vendia abafabanca, mas sim rendeu-se ao mundo dos sorvetes e todo tipo de quitute doce: torta, brigadeiro, casadinho, quindim, etc.

Ao contrário do seu filho sagaz, Dona Beth era pés-no-chão e cuidava ainda de perto da produção dos abafabancas, que agora eram exportados e industrializados. Alguns dizem até que não perde o gosto original, mas a patriarca discorda veementemente.

Numa bela tarde de sexta-feira Juninho veio com a notícia de que eles abririam a primeira loja da rede em um shopping, ou seja, “lucro garantido e fácil, mãe!”, nas palavras do próprio Juninho. Ele olhou seu relógio Tag Heuer e viu que era hora de comemorar. Abriu a geladeira duplex e pegou um champanhe Chandon, dentre outras tantas que repousavam na geladeira duplex na casa da família em Alphaville. Dona Beth recusou e subiu para o quarto. Mais tarde, quando todos já dormiam, ela desceu para a cozinha e abriu o congelador. Estava lá, a famosa abafabanca de manga de Dona Beth feita diretamente na cuba de gelo, na mais tradicional forma que deu origem a tudo aquilo.

8 comentários:

Unknown disse...

Tá faltando "minduins" e "coco"!!!! =] E como Dona Beth se sentia em relaçao a esse sucesso todo?! ;)

Bjinho

Anônimo disse...

Eu prefiro o direto da cuba de gelo, sabor de coco com leite.
Hummmm.....

Paulo Bono disse...

Me fez lembrar também de "baianinha". Lembra? depois do baba, baianinha de maracujá era a melhor pedida.

abraço, rei.

Jeffmanji disse...

Eu confirmo o que a celine disse...

prefiro direto da cuba do gelo!

ò... Terra de ninguem add nos Links da Galera lá no Arroto, Blz? Vamo que vamo!

Larissa Santiago disse...

ahhhh.. fiquei foi com vontade de umm.... mas aki o que me socorre é um geladinho de maracujá (adoroooOooO)
;)

Gustavo Castellucci disse...

véi... nem gosto de lembrar de abafabanca de manga! me dá náuseas! sahhuashuashuhas

Unknown disse...

Como se fazpra deixar bem cremosa

Unknown disse...

Como se fazpra deixar bem cremosa