segunda-feira, 19 de maio de 2008

A estranha

Beto conheceu Aninha ainda na faculdade. Os dois se davam super-bem, sentavam juntos e riam das piadas sem-graça contadas pela turma. Só eles riam. Vai ver foi por isso que os dois se aproximaram naquela festa na casa de alguém que nem eles se lembram mais. Estava uma puta chuva na cidade e ninguém conseguia sair. Teriam que dormir ali mesmo.

E dormiram, todos amontoados e bêbados depois de horas de cerveja e marijuana. Mas Beto foi esperto ao beijar Aninha, uma gatinha que todos queriam comer mas ninguém conseguia. Nem Beto.

E ai residia o problema. Não havia jeito de Beto levar a linda garota para cama. E olhe que ele tentara de tudo. Primeiro levou Aninha para um típico pôr-do-sol no Farol da Barra, com direito a passeio de mãos dadas e água de coco. Ah, claro. Tinha um baseado também, mas Beto preferiu guardar para o momento pós-foda. Deu mole. A gata não quis nada; alegou que ia ficar tarde e que seu ônibus vivia passando cheio e era melhor ela pegar logo. Maldito Cabula.
A outra tentativa foi mais arrojada. Num sábado à noite, Beto e Aninha foram ao cinema ver um filminho romântico, daqueles que as mulheres adoram e Beto odiava. Felicidade no rosto e shortinho apertado na bunda, Aninha saltitava. Beto foi além. Pegou um táxi (!!) e foram àquele restaurante bacana do Rio Vermelho. “Poxa, Beto... Esse restaurante é muito chique. Que lindo, amor!”, derretia-se toda a garotinha. No final do jantar ele tentou a cartada final, mas ela novamente não quis. Tinha que acordar cedo no outro dia para fazer trabalho da faculdade. E assim Beto foi tentando em vão e até conhecer os pais dela ele foi. Pobre Roberto.

Um dia ele se cansou. Aproveitando que Aninha disse que novamente iria acordar cedo para fazer trabalho, ele chamou Pedro para sair. A vontade de Beto era transar, transar, transar. Os dois resolveram ir no Super Vip Club, um puteiro de luxo que tinha aberto a pouco tempo na Boca do Rio. A vizinhança não era lá essas coisas, mas amigos disseram a ele que no Super Vip Club as gatas eram as melhores da cidade. E eram.

Puteiro em Salvador é tudo igual, não importa a classe nem o preço de entrada. Geralmente a casa estipula um valor baixo para entrar, mas lá dentro as bebidas são caríssimas, desde uma mísera cerveja (R$8) até uma dose de uísque 12 anos (R$38). A disposição interna é semelhante em todos os locais e os homens normalmente tentam se esconder nas sombras e sob a meia luz, embora nunca admitam isso. As dançarinas se esbaldam e tentam aumentar o tesão dos caras, que na verdade só têm bala na agulha para traçar aquelas que passeiam pelo estabelecimento oferecendo seus serviços. Elas são putas, mas são espertas e começam a negociação com o valor bem alto. Ai você vai falando aqui, cochichando ali... E abaixa para quase 50% do valor inicial.

Mas têm aqueles caras, que não é o caso de Beto e Pedro, que só entram para curtir e tirar uma lasquinha das dançarinas. Para eles existe um seleto grupo de prostitutas que habitam o entorno do puteiro, que é para pegar a rebarba de que vai ao local e sai sem pegar ninguém. A relação custo/benefício e oferta/procura é fascinante: lá fora é mais barato e mais fácil de barganhar. Além do mais, você pode barganhar tomando uma skol latão por módicos R$2,50 e comer um cachorro-quente por R$1,50, cortesia dos ambulantes que orbitam e formam quase que uma cidadezinha do interior no entorno do puteiro.

Assim era o Super Vip Club quando os dois avistaram de longe. Beto tinha uma sede de vingança e tesão que poucos poderiam explicar. Pedro era mais calmo e estava mais interessado em esperar e pegar uma puta na saída, já em fim de expediente e querendo fazer o último programa para se livrar logo e ir para casa. Ele era craque nisso.
Beto não. Queria a melhor e mais gostosa, e foi isso que ele pediu a Jeniffer, uma garçonete boazuda, que mais armava os encontros do que servia bebida. E, sim, ela era a pessoa mais indicada. Avisou que “a mais gostosa” era muito caro, mas Beto nem ligava. O encontro foi marcado ali mesmo, num quartinho arrumado que o clube possuía para situações especiais.

O tiro foi grande, algo em torno de R$200, o que nunca foi confirmado por Beto. E lá estava ele de pênis em riste quando a porta abriu para a surpresa de ambos. Era Aninha. Sim, a garotinha puritana que não transava com ele de jeito nenhum era na verdade uma garota de programa. De luxo, é verdade, mas continuava sendo puta. Beto não soube o que fazer, mas Aninha parecia não conhecê-lo, ou pelo menos fingia que não. Ele não entendia e não sabia o que fazer e a única coisa que conseguia escutar era sua cabeça de baixo. O tesão foi tão forte que os dois transaram maravilhosamente. Aninha sentiu um orgasmo que nunca sentira antes e Beto... Bem, Beto também foi à lua.

Na saída, meio constrangido, ele botou a mão no bolso e pagou o valor a Aninha. Saiu rápido e não contou nada a ninguém. Na noite seguinte, numa hora de frio e solidão, Beto saiu novamente, dessa vez sozinho, para o Super Vip Club. Encontrou novamente Aninha para mais uma uma noite de tórrido amor. Ao terminar o programa, como numa cena de filme, despediu-se dela com um beijinho no rosto. E pagou.

Essa situação se repetiu durante muito tempo. Aninha durante o dia era a mesma de sempre, rindo das piadas sem-graça contadas pela turma. Beto não insistia mais em transar com ela, pois já conhecia o caminho das pedras: ir ao puteiro e pagar pela hora de sexo. O quadro só mudou mesmo quando, alguns anos depois, Beto e Aninha resolveram se casar e comprar um puxadinho ali mesmo na Boca do Rio, perto de um buteco que sempre passava o jogo do Bahia e vizinho ao Super Vip Club.
Pedro também se deu bem. Casou-se com Jeniffer.

2 comentários:

Sunflower disse...

eu tinha pagado bem trocadinho em moedas que eu atiraria no chão pra ela catar. Tá bom, na verdade não faria isso, apenas contaria essa estória como se fosse uma piada e ela riria. Pelo menos, eu riria.

Beijo, te linkei!

Paulo Bono disse...

Carreiro, meu filho.

tá contando histórias baianas, uma melhor que a outra. e a personagem da aninha é sensacional.

abraço