Muito estranho, mas é verdade. Não que Obama venha para o carnaval de Salvador, ele estará longe daqui. É que o jingle oficial do carnaval tem como tema Barack Obama, o novo presidente dos EUA, um país lá do Norte. Eu sei, todo mundo fala dele, ele é a esperança do mundo, etc. e tal, mas colocá-lo como tema central de uma campanha de carnaval leva a quê? Eu juro que daria (quase) tudo por um explicação plausível.
O autor da lambança é Nizan Guanaes, esperto publicitário baiano que há 2 anos negocia as cotas de patrocínio da folia momesca na capital. Antes disso, a prefeitura incompetente mal conseguia fechar acordos de R$3 milhões, o que hoje representa apenas 1/3 da fatia do bolo publicitário. Resumindo a história para boi dormir: Nizan, e seu holding Tudo-OCP, controla o carnaval da Bahia. É, isso mesmo. Se a tarefa dele falhar, não rola. Trio não sai, ninguém vai pra rua. E aí temos que aturar um jingle que, ao invés de estar falando das belezas do Estado ou da nossa cultura, cai no oportunismo de verão.
É por essas e outras que eu não boto fé em Obama. Na minha humilde opinião, o governo será um fracasso ao fim dos quatro anos de mandato. Por um simples motivo: nenhum ser humano é capaz de fazer tudo que querem dele, como é o caso de Barack. Então, será frustração só, na maioria culpa de pessoas sem o mínimo senso de realidade que depositam em apenas uma pessoa o futuro de suas vidas. Voltando à Bahia, a transformação de Obama em fenômeno pop só tem lado ruim, porque eu mudo meu nome pra Chica se existe ou já existiu algum fenômeno pop grandioso que não se deu mal na vida. A figura dele, portanto, é alçado a de um Deus. Parece até que fugi do tema, mas não. Obama no jingle oficial do carnaval (que vai encher o saco de tanto que vai tocar daqui até quarta-feira de cinzas) é o exemplo de uma glamorização da figura de um ser humano, que virou cultura pop e não tem mais volta. Vai glamorizar, passar o carnaval e jogar o jingle no lixo. O que deveríamos estar discutindo em relação ao novo presidente dos EUA? Muita coisa, menos isso. E a nossa cultura? Esse ano, pelo que me lembre, os homenageados do carnaval eram os blocos de afoxé, isto é, típicas manifestações culturais da cidade.
E existe uma grande diferença disso tudo que eu falei com a “boa” referência. A sutileza e o bom gosto (meio maniqueísta, é verdade, mas nesse caso eu concordo) são virtudes, pois eu li um hilariante Cordel sobre a passagem de Osama Bin Laden pelo carnaval de Salvador. Imperdível. Usa-se um figura mundialmente conhecida, dialoga com a cultura local e tem um propósito: a sátira. E é comédia e naturalista ao mesmo tempo. É Bahia, nordeste. Barack Obama como tema do jingle do carnaval de Salvador, cada vez mais vendido e excludente, é oportunismo puro. Ele que não saiba.