quarta-feira, 29 de outubro de 2008

O Divã do Axé Music

Mesmo pertencendo a um filão que cada vez gera mais dinheiro, os artistas baianos de axé tentam se aventurar por outras áreas musicais. É o caso de Ivete Sangalo, Banda Eva, Margareth Menezes, Daniela Mercury, Claudia Leite e muitos outros, que renegam o estilo durante todo ano, para no período do carnaval se esbaldarem na folia profana dos milhões de reais.

É engraçado. Em fevereiro, todos estão estampados na TV para milhões de brasileiros assistirem o que muitos dizem ser a maior festa popular do mundo, feito esse bastante controverso. Os planos publicitários não negam: o negócio dá dinheiro e não é à toa que no último carnaval a prefeitura conseguiu vender com folga as cotas de patrocínio. Os blocos, grandes mantenedores da folia, acumulam cifras cada vez mais astronômicas para estampar nas camisas e trios marcas nacionalmente famosas. Mas porque então as estrelas do axé só se voltam ao estilo nesse período do ano?

Claro, muito longe daqui existem as micaretas, que movimentam mais outros milhões (curioso que em se tratando de axé tudo é em “milhões”) por todo país. Ninguém se engana, mas Ivete e Claudia Leite, pra ficar apenas em dois nomes, faturam rios de dinheiro com essas festas. Mas musicalmente falando, o papo é outro.

Somente esse ano, vários estandartes do axé music lançaram trabalhos em outros ramos musicais. Margareth Menezes acaba de jogar no mercado seu novo disco, “Naturalmente”, recheada de canções compostas por Nando Reis, Chico César, Gilberto Gil, Arnaldo Antunes e Marisa Monte. Axé? Muito longe disso. A própria disse que queria se distanciar do som da Bahia. Ivete Sangalo é outra, que acaba de lançar um CD de música infantil juntamente com Saulo Fernandes, outro baluarte da atual cena baiana. Daniela Mercury, não precisa nem dizer, já figurou no cenário brasileiro ao som de canções que beiravam a MPB voz e violão. E Carlinhos Brown? Músico inquieto e extremamente criativo, já viajou por estilos variados, mas sempre com sucesso nacional. O Jammil também andou se aventurando pela onda acústica, assim como Cheiro de Amor (que ainda vai lançar). Luiz Caldas também não fica de fora: lançou esse ano 4 CDs distintos, cada um num estilo diferente.

Auto-afirmação

O problema do axé é a auto-afirmação, já que todo esse cenário de 10 meses no ano só vem para confirmar essa tese. Criticados por serem superficiais e fracos musicalmente, eles se voltam, durante o ano, para trabalhos mais autorais e aprofundados, sem perceber que essa não é a praia deles. O resultado quase sempre é ruim. O mundo pop já provou que querer agradar somente a crítica somente não leva ninguém a lugar nenhum. Alguém lembra do caso Netinho? Ele abandonou uma carreira de sucesso no axé para cantar mpb/pop e se deu mal, tão mal, que voltou correndo para as tetas da indústria do axé anos depois.

Para não cair no erro do ex-Banda Beijo, os artistas de hoje fazem o jogo da balança: de março a dezembro tentam se afirmar musicalmente tocando coisas fora do axé, e nos dois meses seguintes correm ofegantes para as tetas da mamãe axé. É claro, não admitem de forma alguma o problema, mas a cada ano essa questão vem crescendo. É só ver nos blocos em fevereiro a alegria carnavalesca dos milhões.

Para mim, o pior é o caso de Daniela Mercury, que tem um potencial enorme para cantar mpb/afins e faz, mas ainda tem a cara de pau de dizer que no carnaval ela é revolucionária. Certo ano, levou para cima do trio um pianista clássico que acalmou todas as brigas e fez o folião mais louco dormir sonhando com os anjos. E a música eletrônica? Ela leva, mas até um certo ponto. Na maior parte do trajeto é tambor de um lado, guitarra do outro e as letras superficiais comandando a festa. Axé puro. O mesmo acontece com Carlinhos Brown, que só deixa para a Bahia as músicas descartáveis e com futuro somente no gueto axezístico. Para o resto do país ele mostra sua veia mais criativa e sensível.

Pensa que eles ligam? De forma alguma. Em fevereiro estão lá, prontos para mais um ano de folia, esbaldação e exploração do profano.

Contra a maré

Mas há quem vá contra a maré. Chiclete Com Banana, por exemplo, navega tranquilamente no barco do axé sem (quase) nunca o renegar. É fato que vez ou outra gravaram um disco de forró, mas nunca deixaram de lado o estilo que o consagraram. Assim faz também o Asa de Águia e outras bandas menores de pouca expressam, mas que não se sentem sujos ao abraçar o axé o ano todo. No caso desses não há vergonha. Muito mais honesto.

13 comentários:

Anônimo disse...

Castor, não sei se concordo com sua tese. Acho que quem tem maior talento musial deve se aventurar em outras praias, sem necessariamente negar o axé. Carlinhos Brown e Daniela Mercury são dois exemplos.
É fato que o axé é um estilo mais pueril e datado, mas dentro desse estilo existem músicas muito bonitas, como "Baianidade Nagô", da extinta banda Mel.
É isso. Abraços!

Rodrigo Carreiro disse...

O problema não é você entrar em outro estilo musical, mas sim renegar o estilo que o consagrou. As estrelas do axé fazem isso durante o ano.

É o mesmo que Zeca Pagodinho tocar samba no carnaval e, durante o restante do ano, nem querer ouvir falar de samba e só tocar blues, para logo depois voltar ao estilo que o consagrou.

Sara Modenesi disse...

Isso seria falta de personalidade musical, excesso de criatividade ou muita vontade de ganhar dinheiro? Eu, particularmente não gosto de axé. E Chiclete, ao invés de graçar um cd rockeiro (pois assim eles eram antes de pensar só no dinheiro e não no que eles gostavam, gravam forró. Pessoas culturalmente flexíveis e contraditórias mesmo, né.
Ah, o axé é tão superficial, que ainda prefiro ouvir Mc Pelé em Porto Seguro mostrando a realidade retardada dessa cultura cantando:
-Direita...esquerda. Direita...esquerda. Olha que menina linda, linda. Olha que meniná...!
Aliás, não prefiro NADA!
Entre profanisses, sou mil vezes uma rave, onde as musicas não sentem necessidades de frases com sentido superficial para comandar as pessoas em ações.
=D
Beijos.

Anômima disse...

Sabe que eu nunca havia pensado nisso? Agora entendo melhor esse vai-e-volta axezeiro, se bem que não conheço quase nada do que você citou :-/

Ramon Pinillos Prates disse...

To por fora desse mundo aí.
eheheheheh

Larissa Santiago disse...

poizée Rodrigoo...
é preciso se auto-afirmar e fazer que nem os meninos do pagode: sem medo de ser felizz!!!

Anônimo disse...

Não concordo com você quando você diz que eles abandonam o axé por 10 meses. Isso não é verdade. Ivete faz cerca de 10 shows de axé por mês (pq se recusa a fazer mais) e o fato de ter feito um cd infantil e gravado uma ou outra música e estilo mpb não quer dizer que ela abandona seu estilo ou mesmo que o renega, pelo contrário. Assim como os demais, acho que todos tem consciência de que são bons em axé e que até podem se aventurar em outras áreas, mas sabem que certamente não terão o mesmo sucesso. Acho mesmo que a maioria passa 12 meses por ano respirando e enriquecendo suas contas com axé e, vez ou outra, se dão ao luxo de tentar algo diferente. Por quê não?!

Sunflower disse...

quê?

Rodrigo Carreiro disse...

Que bom que tem gente que discorda ehheh

Ainda tenho a opinião de que eles não sabem fazer outra coisa a não ser "ae ae o o" e "tira o pé do chão". Não tô criticando. Tem seu valor. Mas se Ivete faz 10 shows por mês, nos outros dias ela tá correndo atrás da carreira "legitimada" dela, ou seja, a carreira que os críticos possam olhar e dar algum valor. O que é completamente diferente do axé, que crítico nenhum olha com bons olhos. Isso tudo pensando que TODOS os artistas dão bola pra crítica, por mais que falem que não.
Veja Margareth. Ela lança o disco novo e vem dizer que quer se "distanciar da Bahia"? Que porra é essa? Como se fosse possível fazer isso, ela é tão enraizada com nossa cultura que se ela fizer isso, vai acabar soando ilegítimo. É como aconteceu com Dorival Caymmi, que tocou samba, mpb, brega e o escambal, mas sempre teve sua referência baiana. Simplesmente porque era impossível perdê-la.

jorginho da hora disse...

Esses pseudoartistas são uma especie midas ao contrario: tudo que tocam vira entretenimento barato e fulgás.

Um abraço, meu velho!

Flávia disse...

sou suspeita pra falar, pq não gosto de axé...

Bruno Porciuncula disse...

Eu não gosto de axé, mas no carnaval (quando era solteiro), tava atrás do trio aproveitando a parte boa. Confesso que, com a bebida na cabeça, eu só fazia pular e nem me ligava na música que tava tocando.

Concordo com o que você disse, ex-Segundona. Netinho foi ridículo. Quando ele lançou o cd pop, afirmou que não se sentia à vontade cantando axé. Que não tinha nada a ver com ele. E olhe que eu VI essa entrevista. Foi até em um programa da TV Salvador. Eis que, depois do fracasso retumbante da nova empreitada, surge Netinho em cima do trio de novo, cantando "Ô miiiilaaaaaa..."

Outra coisa, estava passando uns VHS antigos para DVD quando me deparei com várias gravações do Carnaval de 92, 93... Putz, eu era guri mas já pulava e me deu uma saudade da porra.

Márcia Freire, Banda Mel, Chicletão com as músicas show de bola (e não as de dor de corno que eles cantam há uns cinco anos, pelo menos), o Asa e até Ricardo Chaves... as músicas eram bem melhores...

Só um parêntese: Jammil é o maior lixo já produzido pela Axé Music. Um bando de coroa sem nada na cabeça tirando onda de jovem sem nada na cabeça.

Unknown disse...

Menino, eu sou baiana demais pra nao gostar do axé. Tem dendê demais correndo nas minhas veias pra eu renegar um ritmo tao gostoso de se dançar/ouvir.

Nao estou dizendo que todas as musicas do axé prestam (eu nao sou louca!), mas tem mta coisa boa por aí (principalmente nos anos 80 e 90). E ainda hj, bandas classicas, como Eva, fazem coisas bem legais.

Nao se deve ter esse preconceito bobo do "nao gosto e pronto!" antes mesmo de ouvir só para posar de "cult". Afinal, ng precisa gostar de um unico genero musical!

bjo, meu lindo!