Vicky Cristina Barcelona
2008
96 min
Nota: 4 (de 5)
Esse talvez seja o melhor filme de Woody Allen nos últimos anos, ganhando fácil de “Match Point”, “Scoop” e “Sonho de Cassandra”. Em Vicky Cristina Barcelona, o diretor usa o humor pra tratar do tema mais clichê e discutido por todos nós: o amor.
O filme conta a história das duas personagens do título, Vicky (Reca Hall) e Cristina (Scarlett Johansson), amigas e americanas que estão de passagem por Barcelona, uma por trabalho e a outro pra fazer companhia. Lá elas encontram um pitoresco artista plástico, Juan Antonio (Javier Bardem), que vai lhes levar a cometer atitudes antes impensadas, mesmo que para isso elas precisem passar por cima dos próprios princípios ou dos medos.
Não pense que com isso o filme torna-se chato e com discussões existencialistas. Muito pelo contrário, Allen é mestre em tirar desses temas densos doses de humor inteligentíssimas. É dessa forma que ele nos apresenta as duas personagens principais, diferenciando-as logo no início da projeção, inclusive reforçando essa idéia dividindo a tela em duas.
Com o passar do tempo, o diretor vai brincando com todos os personagens e com suas distintas visões do amor. Se uma delas é conservadora, a outra é mais impulsiva. Se um dos homens é “caxias”, o outro é amargurado por desilusões. E a partir daí Allen vai analisando diversos pontos, como traição, afeto, paixão, companheirismo, monogamia, rotina de casamento, etc.
E a confusão de idéias, sentimentos e paixões é intensa: Vicky fica com Juan Antonio, que é apaixonado por Cristina, mas ainda nutre amor por Maria Elena, que é louca e romântica ao extremo... E ainda tem o noivo de Vicky que fica nos EUA ligando pra ela o tempo todo, a tia da própria que se cansa do casamento de anos... Tudo isso pontuado por cenas dirigidas com brilhantismo, sempre utilizando o humor na medida certa. As tiradas inteligentes estão por toda parte e, quando o espectador sente falta do baixinho atrapalhado que se mete em tudo, o narrador vem e nos brinda com conclusões e comentários certeiros.
É interessante também a sátira que Allen faz do modo de vida americano X modo de vida europeu, além de brincar com a idéia do “casal moderno”. Primeiro, ele romantiza a vida em Barcelona, inclusive só utilizando cenários belíssimos da cidade espanhola. Lá, o ideal de homem é bonito, charmoso e artista. Sempre inspirador e inspirado com a vida à sua volta, Bardem incorpora perfeitamente esse estereótipo em Juan Antonio. Já o americano é o estressado, fútil e infantil, que só pensa em dinheiro e na nova casa que vai comprar. Claro, no meio disso tudo o diretor coloca também uma discussão interessante sobre as novas formas de amor, muito além do homossexualismo. Trata do “casal” que se sente feliz vivendo à três para, depois de várias lições, desconstruir tudo e voltar ao que era antes. Aliá, as cenas de Scarlet Johanson, Penélope Cruz e Bardem são hilariantes, com especial destaque para os dois últimos.
A temática é forte, mas Woody Allen consegue conduzir com leveza e humor, mas sem nunca deixar de lado reflexões importantes. Deve ser por isso que, em certo momento no início do filme, um personagem ironiza o filme protagonizado pela própria Cristina nos EUA: “Você fez um filme sobre o amor em 12 minutos? Um tema tão grande pra um filme tão pequeno”. É Allen satirizando a si próprio.
Recepção
Em Cannes, onde estreou, o filme não teve uma recepção muito calorosa. Como o próprio diz, isso não quer dizer nada. Aqui no Brasil ainda é inédito e, com muito prazer e orgulho, Salvador, através do 5° Festival de Cinema de Arte de Salvador, é uma das cidades pioneiras na exibição. Sobre filmar em Barcelona, Woody Allen aproveitou as facilidades no financiamento do filme feito por lá, o que dialoga diretamente com seus últimos trabalhos feitos na Europa.
6 comentários:
Não sabia desse filme até que vi um cartaz num cinema em SP. Gostei dos últimos filmes do Allen (ainda não vi "O sonho de Cassandra") e fiquei curiosa qto à esse. Vou querer assistir rs.
Eu conheço pouco os trabalhos do Woody Allen. Mas sempre gostei do que vi. "Scoop", "Matchpoint". Grandes filmes. Sem falar que nós compartilhamos da mesma musa: Scarlet Johanson. (rs)
Ainda quero ver "O sonho de Cassandra", e botar este na lista também.
Fui ver hoje, não curti muito não. Mas eu ainda estou processando. Eu vi depois do filme de Kaufman que me deixou totalmente desnorteado.
eheheheheh
Tô querendo assistir, mas infelizmente nos horários que ele passou não deu pra conferir. Hoje tb tem mas estou em aula, fogo. Acho que vou ter que esperar passar no circuito comercial
Pô, lendo o seu post deu uma vontade danada de ver este filme. Mas nem sei se vou conseguir ir ver na sala, acho que terei que baixar. Hehehe
Esse filme é sucesso demais!!! Foi o mais "light" dos que assistimos, mas é sensacional!! =]
Bjinho
=B
Postar um comentário