Mesmo pertencendo a um filão que cada vez gera mais dinheiro, os artistas baianos de axé tentam se aventurar por outras áreas musicais. É o caso de Ivete Sangalo, Banda Eva, Margareth Menezes, Daniela Mercury, Claudia Leite e muitos outros, que renegam o estilo durante todo ano, para no período do carnaval se esbaldarem na folia profana dos milhões de reais.
É engraçado. Em fevereiro, todos estão estampados na TV para milhões de brasileiros assistirem o que muitos dizem ser a maior festa popular do mundo, feito esse bastante controverso. Os planos publicitários não negam: o negócio dá dinheiro e não é à toa que no último carnaval a prefeitura conseguiu vender com folga as cotas de patrocínio. Os blocos, grandes mantenedores da folia, acumulam cifras cada vez mais astronômicas para estampar nas camisas e trios marcas nacionalmente famosas. Mas porque então as estrelas do axé só se voltam ao estilo nesse período do ano?
Claro, muito longe daqui existem as micaretas, que movimentam mais outros milhões (curioso que em se tratando de axé tudo é em “milhões”) por todo país. Ninguém se engana, mas Ivete e Claudia Leite, pra ficar apenas em dois nomes, faturam rios de dinheiro com essas festas. Mas musicalmente falando, o papo é outro.
Somente esse ano, vários estandartes do axé music lançaram trabalhos em outros ramos musicais. Margareth Menezes acaba de jogar no mercado seu novo disco, “Naturalmente”, recheada de canções compostas por Nando Reis, Chico César, Gilberto Gil, Arnaldo Antunes e Marisa Monte. Axé? Muito longe disso. A própria disse que queria se distanciar do som da Bahia. Ivete Sangalo é outra, que acaba de lançar um CD de música infantil juntamente com Saulo Fernandes, outro baluarte da atual cena baiana. Daniela Mercury, não precisa nem dizer, já figurou no cenário brasileiro ao som de canções que beiravam a MPB voz e violão. E Carlinhos Brown? Músico inquieto e extremamente criativo, já viajou por estilos variados, mas sempre com sucesso nacional. O Jammil também andou se aventurando pela onda acústica, assim como Cheiro de Amor (que ainda vai lançar). Luiz Caldas também não fica de fora: lançou esse ano 4 CDs distintos, cada um num estilo diferente.
Auto-afirmação
O problema do axé é a auto-afirmação, já que todo esse cenário de 10 meses no ano só vem para confirmar essa tese. Criticados por serem superficiais e fracos musicalmente, eles se voltam, durante o ano, para trabalhos mais autorais e aprofundados, sem perceber que essa não é a praia deles. O resultado quase sempre é ruim. O mundo pop já provou que querer agradar somente a crítica somente não leva ninguém a lugar nenhum. Alguém lembra do caso Netinho? Ele abandonou uma carreira de sucesso no axé para cantar mpb/pop e se deu mal, tão mal, que voltou correndo para as tetas da indústria do axé anos depois.
Para não cair no erro do ex-Banda Beijo, os artistas de hoje fazem o jogo da balança: de março a dezembro tentam se afirmar musicalmente tocando coisas fora do axé, e nos dois meses seguintes correm ofegantes para as tetas da mamãe axé. É claro, não admitem de forma alguma o problema, mas a cada ano essa questão vem crescendo. É só ver nos blocos em fevereiro a alegria carnavalesca dos milhões.
Para mim, o pior é o caso de Daniela Mercury, que tem um potencial enorme para cantar mpb/afins e faz, mas ainda tem a cara de pau de dizer que no carnaval ela é revolucionária. Certo ano, levou para cima do trio um pianista clássico que acalmou todas as brigas e fez o folião mais louco dormir sonhando com os anjos. E a música eletrônica? Ela leva, mas até um certo ponto. Na maior parte do trajeto é tambor de um lado, guitarra do outro e as letras superficiais comandando a festa. Axé puro. O mesmo acontece com Carlinhos Brown, que só deixa para a Bahia as músicas descartáveis e com futuro somente no gueto axezístico. Para o resto do país ele mostra sua veia mais criativa e sensível.
Pensa que eles ligam? De forma alguma. Em fevereiro estão lá, prontos para mais um ano de folia, esbaldação e exploração do profano.
Contra a maré
Mas há quem vá contra a maré. Chiclete Com Banana, por exemplo, navega tranquilamente no barco do axé sem (quase) nunca o renegar. É fato que vez ou outra gravaram um disco de forró, mas nunca deixaram de lado o estilo que o consagraram. Assim faz também o Asa de Águia e outras bandas menores de pouca expressam, mas que não se sentem sujos ao abraçar o axé o ano todo. No caso desses não há vergonha. Muito mais honesto.
quarta-feira, 29 de outubro de 2008
segunda-feira, 27 de outubro de 2008
Voto de Cabresto (da democracia)
Eu não entendo as pessoas que insistem em votar no menos pior. Numa dita democracia, o pior que nos pode acontecer, contraditoriamente ao apregoado pela própria democracia, é não ter escolha. E os cidadãos, iludidos e cegos (desculpa Saramago por roubar sua definição), ainda acham que escolher entre dois ruins é democrático.
Eu não discuto votos. Se uma pessoa quiser e tiver convicção em votar em um determinado candidato, ótimo para ela. Vá em frente com seus princípios. O que me deixa consternado é que muita gente – e particularmente nessa eleição de Salvador – vota naquele que acha o “menos pior”. Aliás, esse termo já me dá asco e eu me recuso a escolher o “menos pior”. Que dita democracia é essa que nos dá apenas 2 opções ruins e pede: “ei, você aí. Escolha o menos pior”.
Muito me admira que nesse 26 de outubro a maioria das pessoas tenha votado com esse pensamento na cabeça. Nossa sociedade democrática (palmas para ela) acaba de escolher um cara tão ruim quanto o outro. Quer dizer, tecnicamente falando, não faz diferença alguma ter votado em um ou no ouro: são todos “ruins”. Estamos nos nivelando por baixo a cada pleito e ninguém faz nada por isso.
Pior de tudo (ou não, não sei mais o que é pior) é ser achincalhado e taxado de alienado por votar nulo. Eu voto nulo há duas eleições e não me arrependo em nada, muito pelo contrário, a cada eleição eu me convenço mais ainda de que o nulo é a solução. O nulo é um voto de protesto, um sinal de que nada do que vemos por aí está a contento. E não é pura e simplesmente birra de adolescente, mas sim um dispositivo democrático tão legítimo quanto votar no que mais me agrada.
E se o que mais me agrada é nada – e aí metade da população concorda comigo -, porque então escolher o “menos pior”? Alguma coisa está errada. Eu me recuso a me nivelar por baixo.
Eu não discuto votos. Se uma pessoa quiser e tiver convicção em votar em um determinado candidato, ótimo para ela. Vá em frente com seus princípios. O que me deixa consternado é que muita gente – e particularmente nessa eleição de Salvador – vota naquele que acha o “menos pior”. Aliás, esse termo já me dá asco e eu me recuso a escolher o “menos pior”. Que dita democracia é essa que nos dá apenas 2 opções ruins e pede: “ei, você aí. Escolha o menos pior”.
Muito me admira que nesse 26 de outubro a maioria das pessoas tenha votado com esse pensamento na cabeça. Nossa sociedade democrática (palmas para ela) acaba de escolher um cara tão ruim quanto o outro. Quer dizer, tecnicamente falando, não faz diferença alguma ter votado em um ou no ouro: são todos “ruins”. Estamos nos nivelando por baixo a cada pleito e ninguém faz nada por isso.
Pior de tudo (ou não, não sei mais o que é pior) é ser achincalhado e taxado de alienado por votar nulo. Eu voto nulo há duas eleições e não me arrependo em nada, muito pelo contrário, a cada eleição eu me convenço mais ainda de que o nulo é a solução. O nulo é um voto de protesto, um sinal de que nada do que vemos por aí está a contento. E não é pura e simplesmente birra de adolescente, mas sim um dispositivo democrático tão legítimo quanto votar no que mais me agrada.
E se o que mais me agrada é nada – e aí metade da população concorda comigo -, porque então escolher o “menos pior”? Alguma coisa está errada. Eu me recuso a me nivelar por baixo.
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quarta-feira, 22 de outubro de 2008
Guia de Sobrevivência nos Ônibus de Salvador - Módulo 3
Terceiro Módulo
Ônibus Vazio
ou
Nunca subestime um buzú vazio
Você é um sortudo. Sim, é sim. Pegar ônibus vazio em nossa terra é um golpe de sorte em primeiro lugar, mas se você for esperto pode ser um golpe de mestre. Algumas linhas são bem vazias, como Lapa (que passa a cada 5 minutos em quase todos os pontos da cidade), mas tornam-se cheias pela impaciência do povo. Tem gente que é medrosa e pega o primeiro que passa, sem se ligar que logo atrás pode vir outro bem vazio.
A dica é você ter conhecimento de causa. Lembra do fator lotabilidade? Pois é. Lotabilidade nada mais é do que a lei da oferta x procura. Tente se estabelecer do lado bom do pêndulo, ou seja, da oferta. Procure os ônibus com mais oferta, mesmo que para isso você precise saltar mais longe de sua casa; andar um pouco não faz mal a ninguém, te ajuda a ser saudável e se colocar tranquilamente num buzú vazio. Claro, em alguns casos isso não será possível, mas vale o esforço.
Outro ponto diz respeito a você nunca subestimar um ônibus vazio. Não dê uma de brau* se sentando no fundo do coletivo. Isso só é aceitável se seu destino final é o fim de linha. Mas tem um detalhe: a chance de roubo é grande pra quem está perto do cobrador (esse tema será tratado mais adiante no tópico “Assaltos” ou “Fique esperto e não perca nada”). Portanto, procure sentar nas poltronas da frente, mas nunca nas cadeiras reservadas para deficientes, idosos e gestantes. A Lei de Murphy nesse caso é mais um vez implacável: no dia que você sentar vai aparecer uma legião de velhos vindos de um culto religioso holístico do pai eterno, mesmo se for à meia noite.
A idéia é clara: procure a janela, assim você evita que pessoas rocem em você o tempo todo. O engraçado é que todo mundo procura uma dupla de cadeiras sozinhas para sentar, nunca uma com alguém ocupando um espaço. É um anti-socialismo apoiado pelo Guia e que será discutido mais profundamente no tópico “Sociabilidade” ou “Como se livrar de passageiros chatos”. Não existe lugar pior do que ônibus para atrair malucos.
Último ponto: não durma. Eu sei, eu sei... É difícil, mas não durma. Primeiro porque você pode ser atingido por objetos voadores não identificados (já ouvi casos de amigos próximos que dormiram e acordaram com uma catarrada ou com tapas na cara. É bizarro, mas é comum). E segundo porque você pode perder seu ponto e aí, meu caro, você se ferrou de vez. Ônibus não volta.
A dica é você ter conhecimento de causa. Lembra do fator lotabilidade? Pois é. Lotabilidade nada mais é do que a lei da oferta x procura. Tente se estabelecer do lado bom do pêndulo, ou seja, da oferta. Procure os ônibus com mais oferta, mesmo que para isso você precise saltar mais longe de sua casa; andar um pouco não faz mal a ninguém, te ajuda a ser saudável e se colocar tranquilamente num buzú vazio. Claro, em alguns casos isso não será possível, mas vale o esforço.
Outro ponto diz respeito a você nunca subestimar um ônibus vazio. Não dê uma de brau* se sentando no fundo do coletivo. Isso só é aceitável se seu destino final é o fim de linha. Mas tem um detalhe: a chance de roubo é grande pra quem está perto do cobrador (esse tema será tratado mais adiante no tópico “Assaltos” ou “Fique esperto e não perca nada”). Portanto, procure sentar nas poltronas da frente, mas nunca nas cadeiras reservadas para deficientes, idosos e gestantes. A Lei de Murphy nesse caso é mais um vez implacável: no dia que você sentar vai aparecer uma legião de velhos vindos de um culto religioso holístico do pai eterno, mesmo se for à meia noite.
A idéia é clara: procure a janela, assim você evita que pessoas rocem em você o tempo todo. O engraçado é que todo mundo procura uma dupla de cadeiras sozinhas para sentar, nunca uma com alguém ocupando um espaço. É um anti-socialismo apoiado pelo Guia e que será discutido mais profundamente no tópico “Sociabilidade” ou “Como se livrar de passageiros chatos”. Não existe lugar pior do que ônibus para atrair malucos.
Último ponto: não durma. Eu sei, eu sei... É difícil, mas não durma. Primeiro porque você pode ser atingido por objetos voadores não identificados (já ouvi casos de amigos próximos que dormiram e acordaram com uma catarrada ou com tapas na cara. É bizarro, mas é comum). E segundo porque você pode perder seu ponto e aí, meu caro, você se ferrou de vez. Ônibus não volta.
*brau, para os não-baianos: figura pitoresca que se veste igual a tantas outras e se diz do "gueto", ouve bandas de pagode e anda "charlando".
Próximo Módulo: "Ônibus Cheio" ou "Se fudeu, mas há chance de sobrevivência".
Próximo Módulo: "Ônibus Cheio" ou "Se fudeu, mas há chance de sobrevivência".
segunda-feira, 20 de outubro de 2008
Diálogos do Cotidiano – Tara
- ...E aí ela me deu um drops de anis.
- Só isso? Você se contenta com uma porra de um drops de anis?
- É, cara... Já é alguma coisa. É um negócio meio Rita Lee, meio recatado...
- Que não dá em nada, diga-se de passagem. Se fosse eu passava logo a mão na bunda.
- Aí que não ia adiantar nada. Ela é quieta, rapaz. Eu já lhe disse: a família é toda católica, daquelas de freqüentar igreja e tudo mais. Tem que ir com calma.
- Porra, man... Eu tenho um tesão de transar na igreja. Num sei o que é.
- Pedófilo descarado. Eu aqui falando de uma coisa séria e você com essa de “comer mulher na igreja”. Tome vergonha!
- Pronto. A mulherzinha de terninho branco, tailler e as porra toda já fez a cabeça do cara. Pelo amor de Deus! Você mal conhece ela, vê lá o que tá fazendo.
- Eu tô fazendo o certo. Comendo pelas beiradas pra chegar no meio e pegar a melhor parte. Veja você com Silvinha. Foi todo afobado e acabou no 5 contra 1. Bela tática.
- É diferente. Silvinha é uma safada que só pensar em ir pra praia e abusar dos homens com hormônios aflorados, como eu. Não dá pra ninguém.
- Tem certeza?
- Claro. Já vi outros casos aqui na praia. O cara chega novo, pagando de surfista, e ela pula logo em cima com um papo de naturalismo, vegetarianismo e um monte de “ismo” chato pra caralho. E a carinha sempre de safada. É aí que mata o cara.
- Porra, mas ela é gostosa demais. Difícil um homem não cair na onda dela.
- É. Isso que tô tentando lhe dizer: muito diferente do caso da sua beatinha dos olhos verdes, que freqüenta a igreja e só vai dar depois de casar.
- Duvido, cara. Essa eu duvido.
- Toda bonitinha, com sapatinho arrumado e terninho engomado... Funcionária do Fórum, funcionária exemplar, aliás, muito diferente de nós.
- Pare de abusar a moça. Você pode se enganar com ela.
- Mulher assim não me engana não.
- Ah, é? Olha ali quem vem andando ao lado de Silvinha!
- Oxe, e num é que são as duas mesmo?
- As próprias. Espera um pouco.... Elas est... Estão de beijando? Eu nunca imaginaria... Agora que perdemos todas as chances!
- Que nada. Acabei de atualizar minha tara: quero é fuder com as duas na igreja!
- Só isso? Você se contenta com uma porra de um drops de anis?
- É, cara... Já é alguma coisa. É um negócio meio Rita Lee, meio recatado...
- Que não dá em nada, diga-se de passagem. Se fosse eu passava logo a mão na bunda.
- Aí que não ia adiantar nada. Ela é quieta, rapaz. Eu já lhe disse: a família é toda católica, daquelas de freqüentar igreja e tudo mais. Tem que ir com calma.
- Porra, man... Eu tenho um tesão de transar na igreja. Num sei o que é.
- Pedófilo descarado. Eu aqui falando de uma coisa séria e você com essa de “comer mulher na igreja”. Tome vergonha!
- Pronto. A mulherzinha de terninho branco, tailler e as porra toda já fez a cabeça do cara. Pelo amor de Deus! Você mal conhece ela, vê lá o que tá fazendo.
- Eu tô fazendo o certo. Comendo pelas beiradas pra chegar no meio e pegar a melhor parte. Veja você com Silvinha. Foi todo afobado e acabou no 5 contra 1. Bela tática.
- É diferente. Silvinha é uma safada que só pensar em ir pra praia e abusar dos homens com hormônios aflorados, como eu. Não dá pra ninguém.
- Tem certeza?
- Claro. Já vi outros casos aqui na praia. O cara chega novo, pagando de surfista, e ela pula logo em cima com um papo de naturalismo, vegetarianismo e um monte de “ismo” chato pra caralho. E a carinha sempre de safada. É aí que mata o cara.
- Porra, mas ela é gostosa demais. Difícil um homem não cair na onda dela.
- É. Isso que tô tentando lhe dizer: muito diferente do caso da sua beatinha dos olhos verdes, que freqüenta a igreja e só vai dar depois de casar.
- Duvido, cara. Essa eu duvido.
- Toda bonitinha, com sapatinho arrumado e terninho engomado... Funcionária do Fórum, funcionária exemplar, aliás, muito diferente de nós.
- Pare de abusar a moça. Você pode se enganar com ela.
- Mulher assim não me engana não.
- Ah, é? Olha ali quem vem andando ao lado de Silvinha!
- Oxe, e num é que são as duas mesmo?
- As próprias. Espera um pouco.... Elas est... Estão de beijando? Eu nunca imaginaria... Agora que perdemos todas as chances!
- Que nada. Acabei de atualizar minha tara: quero é fuder com as duas na igreja!
P.S: esse é o 100° post do blog. Vida longa!
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quinta-feira, 16 de outubro de 2008
A festa de Monique
“Baixinha, loira, recém-chegada. Sem restrições, R$ 150. 7776-9898”.
Esse foi o anúncio que Manoel viu no jornal. Interessou-se e ligou. Depois de marcar o encontro, deitou-se na cama com o jornal na mão. Do lado da cabeceira apenas os óculos remendados com fita adesiva. Olhou novamente o anúncio e sorriu.
Esse sorriso é mais de nervoso do que qualquer coisa. A fase para Manoel não estava das melhores. Para mulher, a vida é sempre mais fácil. Manoel, assim como acontece com todos os homens pelo menos uma vez na vida, estava passando por uma má fase. Jovem de apenas 29 anos, ele não levava uma mulher para cama havia mais de um ano e não lhe faltou tentativas: Márcia, ex-colega da faculdade; Jéssica, sua aluna no curso profissionalizante; Juliana, vizinha dos tempos do Garcia; e muita outras. Todas tinham em comum a rejeição ao rapaz.
De um primeiro momento de abalo, Manoel resolveu agir de algum jeito. Olhar o jornal foi uma boa tentativa, embora ele tenha tentado isso outras vezes, mas sempre esbarrava no medo. Mas não, agora era diferente. Por algum motivo transcendental, ele se encantou com aquele anúncio simples e direto. E ligou.
O encontro estava marcado para um famoso motel da orla, local que ele nunca tinha ido, nem nos tempos de boa fase. Como Monique (esse era o nome dela) tinha carro, marcaram de se encontrar lá. Precavido, Manoel levou de casa uma garrafa de vinho e uma caixa de cerveja, que colocou logo no frigobar. A espera foi angustiante. Pensou em se masturbar, afinal, aliviaria sua tensão e, na cabeça dele, prolongaria seu orgasmo com a prostituta. E fez. Ficou louco de ver vários filmes pornô na televisão de plasma do quarto. O tesão era forte, e talvez o nervosismo, que ele já estava de pênis em riste novamente. E nada de Monique.
Depois de ligar para ela e constatar que estava mais do que atrasada, o filme de orgia na tv foi o suficiente para mais um vai-e-vem de mãos de Manoel. Caiu desfalecido na cama redonda e sorriu. Já estava quase a cochilar quando o telefone da recepção tocou: era ela. Arrumou-se na cama, vestiu a cueca preta de marca e preparou a melhor feição cafajeste – achava que condizia com o momento.
Monique bateu na porta, mas nem deu tempo dele reagir. Entreabriu a porta e jogou uma venda. Manoel achou maravilhoso e entrou no jogo. Colocou a venda e chamou a garota de “meu amor”. Ela entrou lânguida e gemendo, furtivamente se esgueirando pelos cantos do enorme quarto, enquanto Manoel imaginava o esguio corpo da garota. Manoel não via, mas Monique era dona de um corpo escultural, fruto de muita academia. Mas ele sentiu. A moça chegou bem perto dele e o acariciou, beijou-lhe a face e apalpou seu pênis por cima da cueca. Propôs alguma coisa quente no ouvido do rapaz, que logo aceitou.
E estava feito. Monique amarrou vagarosamente Manoel à cama. Correu para o corredor e chamou alguém, que logo viu-se era seu comparsa Alaor, que estava escondido no porta-malas do Siena. Os dois fizeram a festa no quarto e Manoel não podia falar nada, já que tinha a boca cheia pela própria cueca. A festa dos dois estava feita e Manoel podia apenas ouvir e nada fazer. Mas não pensou em muita coisa, só sentia o cheiro inebriante da moça e seu pênis reagia ferozmente. Ficou em estado de loucura quando percebeu que os outros dois faziam sexo ali mesmo na frente dele, muito embora o enganado não pudesse ver nem falar nada.
Depois do sexo, Monique e Alaor resolveram agir de verdade. Fizeram a limpa em tudo que podiam levar de valor. Até a TV de plasma não escapou: foi junto com Alaor no porta-malas do carro. E mais: dinheiro, bebidas, guloseimas, produtos eróticos, cigarros, fronhas, travesseiros e tudo que pudesse caber em sacolas e ser escondido no Siena.
Manoel era só desilusão. Depois que os dois saíram, mal conseguia esboçar qualquer reação. O pior era que aquele prejuízo todo ia ser cobrado a ele, seja lá a que horas conseguissem achá-lo ali, humilhado, amarrado e proibido de falar pela própria cueca enfiada na boca. Alaor e Monique saíram tranquilamente pela porta da frente, já que o motel permitia encontro de casais em carros separados e no mesmo quarto. Para o motel, o encontro tinha sido feito e ela foi embora deixando o rapaz descansando. Mal sabiam eles. Algumas horas depois e Manoel até dormia, quando o telefone tocou. Provavelmente desconfiaram de alguma coisa e, como ele não atendia, bateram na porta e só ouviram os sussuros do rapaz. Tudo descoberto, a polícia foi chamada e Manoel não pôde esconder a vergonha. Decidiu não denunciar nada e arcar com todos os prejuízos.
Ontem, na varanda de seu apartamento, Manoel fumava um cigarro e folheava o jornal. Pegou os classificados e abriu, perdendo as contas de quantas vezes tinha feito aquilo nos últimos meses. Mas dessa vez conseguiu. Achou novamente o mesmo anúncio. Com um sorriso no rosto, anotou o telefone na agenda do seu novo celular pré-pago e marcou o encontro. Do outro lado da cidade, Monique desligava o telefone e corria para os braços de Alaor. Na TV de plasma rolava um filme pornô.
Esse foi o anúncio que Manoel viu no jornal. Interessou-se e ligou. Depois de marcar o encontro, deitou-se na cama com o jornal na mão. Do lado da cabeceira apenas os óculos remendados com fita adesiva. Olhou novamente o anúncio e sorriu.
Esse sorriso é mais de nervoso do que qualquer coisa. A fase para Manoel não estava das melhores. Para mulher, a vida é sempre mais fácil. Manoel, assim como acontece com todos os homens pelo menos uma vez na vida, estava passando por uma má fase. Jovem de apenas 29 anos, ele não levava uma mulher para cama havia mais de um ano e não lhe faltou tentativas: Márcia, ex-colega da faculdade; Jéssica, sua aluna no curso profissionalizante; Juliana, vizinha dos tempos do Garcia; e muita outras. Todas tinham em comum a rejeição ao rapaz.
De um primeiro momento de abalo, Manoel resolveu agir de algum jeito. Olhar o jornal foi uma boa tentativa, embora ele tenha tentado isso outras vezes, mas sempre esbarrava no medo. Mas não, agora era diferente. Por algum motivo transcendental, ele se encantou com aquele anúncio simples e direto. E ligou.
O encontro estava marcado para um famoso motel da orla, local que ele nunca tinha ido, nem nos tempos de boa fase. Como Monique (esse era o nome dela) tinha carro, marcaram de se encontrar lá. Precavido, Manoel levou de casa uma garrafa de vinho e uma caixa de cerveja, que colocou logo no frigobar. A espera foi angustiante. Pensou em se masturbar, afinal, aliviaria sua tensão e, na cabeça dele, prolongaria seu orgasmo com a prostituta. E fez. Ficou louco de ver vários filmes pornô na televisão de plasma do quarto. O tesão era forte, e talvez o nervosismo, que ele já estava de pênis em riste novamente. E nada de Monique.
Depois de ligar para ela e constatar que estava mais do que atrasada, o filme de orgia na tv foi o suficiente para mais um vai-e-vem de mãos de Manoel. Caiu desfalecido na cama redonda e sorriu. Já estava quase a cochilar quando o telefone da recepção tocou: era ela. Arrumou-se na cama, vestiu a cueca preta de marca e preparou a melhor feição cafajeste – achava que condizia com o momento.
Monique bateu na porta, mas nem deu tempo dele reagir. Entreabriu a porta e jogou uma venda. Manoel achou maravilhoso e entrou no jogo. Colocou a venda e chamou a garota de “meu amor”. Ela entrou lânguida e gemendo, furtivamente se esgueirando pelos cantos do enorme quarto, enquanto Manoel imaginava o esguio corpo da garota. Manoel não via, mas Monique era dona de um corpo escultural, fruto de muita academia. Mas ele sentiu. A moça chegou bem perto dele e o acariciou, beijou-lhe a face e apalpou seu pênis por cima da cueca. Propôs alguma coisa quente no ouvido do rapaz, que logo aceitou.
E estava feito. Monique amarrou vagarosamente Manoel à cama. Correu para o corredor e chamou alguém, que logo viu-se era seu comparsa Alaor, que estava escondido no porta-malas do Siena. Os dois fizeram a festa no quarto e Manoel não podia falar nada, já que tinha a boca cheia pela própria cueca. A festa dos dois estava feita e Manoel podia apenas ouvir e nada fazer. Mas não pensou em muita coisa, só sentia o cheiro inebriante da moça e seu pênis reagia ferozmente. Ficou em estado de loucura quando percebeu que os outros dois faziam sexo ali mesmo na frente dele, muito embora o enganado não pudesse ver nem falar nada.
Depois do sexo, Monique e Alaor resolveram agir de verdade. Fizeram a limpa em tudo que podiam levar de valor. Até a TV de plasma não escapou: foi junto com Alaor no porta-malas do carro. E mais: dinheiro, bebidas, guloseimas, produtos eróticos, cigarros, fronhas, travesseiros e tudo que pudesse caber em sacolas e ser escondido no Siena.
Manoel era só desilusão. Depois que os dois saíram, mal conseguia esboçar qualquer reação. O pior era que aquele prejuízo todo ia ser cobrado a ele, seja lá a que horas conseguissem achá-lo ali, humilhado, amarrado e proibido de falar pela própria cueca enfiada na boca. Alaor e Monique saíram tranquilamente pela porta da frente, já que o motel permitia encontro de casais em carros separados e no mesmo quarto. Para o motel, o encontro tinha sido feito e ela foi embora deixando o rapaz descansando. Mal sabiam eles. Algumas horas depois e Manoel até dormia, quando o telefone tocou. Provavelmente desconfiaram de alguma coisa e, como ele não atendia, bateram na porta e só ouviram os sussuros do rapaz. Tudo descoberto, a polícia foi chamada e Manoel não pôde esconder a vergonha. Decidiu não denunciar nada e arcar com todos os prejuízos.
Ontem, na varanda de seu apartamento, Manoel fumava um cigarro e folheava o jornal. Pegou os classificados e abriu, perdendo as contas de quantas vezes tinha feito aquilo nos últimos meses. Mas dessa vez conseguiu. Achou novamente o mesmo anúncio. Com um sorriso no rosto, anotou o telefone na agenda do seu novo celular pré-pago e marcou o encontro. Do outro lado da cidade, Monique desligava o telefone e corria para os braços de Alaor. Na TV de plasma rolava um filme pornô.
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segunda-feira, 13 de outubro de 2008
Festival de Cinema de Arte de Salvador - Synedoche, New York
Synedoche, New York
2008
124 min
Nota: 3 (de 5)
A sensação que o espectador tem ao acabar “Synedoche, NY” é de exaustão - para o bem e para o mal. E não é pra menos: ao longo de 2h de projeção, Kauffman, em sua estréia como diretor, abre seu mais aterrorizante e confuso baú de memórias e conflitos existenciais, dando vazão a tudo isso da maneira mais caótica possível.
O filme acompanha a trajetória de Caden Cotard (Phlipe Seymor-Hoffman), atordoado diretor de teatro que vive às turras com sua própria consciência e vontades explícitas. Ao ver seu casamento terminado e afastado do convívio com a própria filha, Caden reuni um elenco grandioso pra realizar uma peça de teatro inusitada: contar sua própria vida.
Essa temática já é corriqueira na carreira de Kaffman (vide o excelente “Adaptação), mas dessa vez ele exagerou. A impressão que fica é que, como dessa vez ele também dirige o filme, não houve freio para suas inquietudes e maluquices, o que acaba comprometendo parte da obra. Kauffman é louco e tem uma visão de mundo fragmentada, e isso todos que acompanham suas histórias conhecem, porém, dessa vez ele vai mais longe e afunda na sua própria consciência. É como se Caden fosse ele próprio na busca incessante pela perfeição estética e idealizada da vida.
Para realizar tudo isso não faltam personagens e reviravoltas. Imagine dois espelhos voltados um contra o outro. Assim é Synedoche, com suas sucessões de diálogos fortes e personagens que se confundem entre si. Caden, a princípio, apaixona-se por Hazel (Samantha Morton), mas é casada com Adele (Catherine Keener). Quando o relacionamento acaba, ele volta seus olhos para a frágil Hazel, mas tudo acaba de uma maneira inesperada. Mesmo assim, os dois ainda voltam mais tarde, muito embora Caden no momento esteja ligado a Claire, atriz da companhia. Confuso? Não, isso é pouco perto da confluência e relações complexas que cada um tem entre si.
É engraçado que, afora essas loucuras e viagens, Kauffman parece estabelecer grandes relações entre outras obras, seja de cinema ou literatura e teatro. E há muitas significações escondidas em cada cena, em cada diálogo e em cada movimento de câmera, o que reforça ainda mais a tese de que ele precisa de um freio. Este seria necessário, aliás, para dar mais fluidez à história, que em muitas passagens fica monótona. Em “Synedoche”, Kauffman não consegue produzir soluções visuais inteligentes para passagem espaço-temporal, como acontece em “Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças”, roterizado pelo próprio e dirigido por Michel Gondry.
Talvez somente assistindo mais de uma vez para entender completamente o que se passa na cabeça de Charlie Kauffman, o gênio por trás de tanto existencialismo. Ou então, seria a hipótese mais razoável, ele precise ficar mais concentrado no roteiro e confiar na mão de outro diretor.
O próprio
Avesso a entrevistas, Charlie Kaffman lançou seu filme em Cannes, em maio desse ano, falando pouco e deixando os espectadores mais confusos ainda. Disse, por exemplo, que “Synedoche, NY” (Sinédoque, em português, que significa “a parte pelo todo”, ou metonímia) pode até ter relação com algum filme de Fellini, embora ele não seja cinéfilo e conheça pouco do cineasta italiano. E, claro, não disse nada de concreto que pudesse ajudar na compreensão da obra. Aqui em Salvador, dentro do Festival de Cinema de Arte, a sessão estava completamente lotada e, aparentemente, teve boa recepção.
O filme acompanha a trajetória de Caden Cotard (Phlipe Seymor-Hoffman), atordoado diretor de teatro que vive às turras com sua própria consciência e vontades explícitas. Ao ver seu casamento terminado e afastado do convívio com a própria filha, Caden reuni um elenco grandioso pra realizar uma peça de teatro inusitada: contar sua própria vida.
Essa temática já é corriqueira na carreira de Kaffman (vide o excelente “Adaptação), mas dessa vez ele exagerou. A impressão que fica é que, como dessa vez ele também dirige o filme, não houve freio para suas inquietudes e maluquices, o que acaba comprometendo parte da obra. Kauffman é louco e tem uma visão de mundo fragmentada, e isso todos que acompanham suas histórias conhecem, porém, dessa vez ele vai mais longe e afunda na sua própria consciência. É como se Caden fosse ele próprio na busca incessante pela perfeição estética e idealizada da vida.
Para realizar tudo isso não faltam personagens e reviravoltas. Imagine dois espelhos voltados um contra o outro. Assim é Synedoche, com suas sucessões de diálogos fortes e personagens que se confundem entre si. Caden, a princípio, apaixona-se por Hazel (Samantha Morton), mas é casada com Adele (Catherine Keener). Quando o relacionamento acaba, ele volta seus olhos para a frágil Hazel, mas tudo acaba de uma maneira inesperada. Mesmo assim, os dois ainda voltam mais tarde, muito embora Caden no momento esteja ligado a Claire, atriz da companhia. Confuso? Não, isso é pouco perto da confluência e relações complexas que cada um tem entre si.
É engraçado que, afora essas loucuras e viagens, Kauffman parece estabelecer grandes relações entre outras obras, seja de cinema ou literatura e teatro. E há muitas significações escondidas em cada cena, em cada diálogo e em cada movimento de câmera, o que reforça ainda mais a tese de que ele precisa de um freio. Este seria necessário, aliás, para dar mais fluidez à história, que em muitas passagens fica monótona. Em “Synedoche”, Kauffman não consegue produzir soluções visuais inteligentes para passagem espaço-temporal, como acontece em “Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças”, roterizado pelo próprio e dirigido por Michel Gondry.
Talvez somente assistindo mais de uma vez para entender completamente o que se passa na cabeça de Charlie Kauffman, o gênio por trás de tanto existencialismo. Ou então, seria a hipótese mais razoável, ele precise ficar mais concentrado no roteiro e confiar na mão de outro diretor.
O próprio
Avesso a entrevistas, Charlie Kaffman lançou seu filme em Cannes, em maio desse ano, falando pouco e deixando os espectadores mais confusos ainda. Disse, por exemplo, que “Synedoche, NY” (Sinédoque, em português, que significa “a parte pelo todo”, ou metonímia) pode até ter relação com algum filme de Fellini, embora ele não seja cinéfilo e conheça pouco do cineasta italiano. E, claro, não disse nada de concreto que pudesse ajudar na compreensão da obra. Aqui em Salvador, dentro do Festival de Cinema de Arte, a sessão estava completamente lotada e, aparentemente, teve boa recepção.
domingo, 12 de outubro de 2008
Festival de Cinema de Arte de Salvador - Vicky Cristina Barcelona
Vicky Cristina Barcelona
2008
96 min
Nota: 4 (de 5)
Esse talvez seja o melhor filme de Woody Allen nos últimos anos, ganhando fácil de “Match Point”, “Scoop” e “Sonho de Cassandra”. Em Vicky Cristina Barcelona, o diretor usa o humor pra tratar do tema mais clichê e discutido por todos nós: o amor.
O filme conta a história das duas personagens do título, Vicky (Reca Hall) e Cristina (Scarlett Johansson), amigas e americanas que estão de passagem por Barcelona, uma por trabalho e a outro pra fazer companhia. Lá elas encontram um pitoresco artista plástico, Juan Antonio (Javier Bardem), que vai lhes levar a cometer atitudes antes impensadas, mesmo que para isso elas precisem passar por cima dos próprios princípios ou dos medos.
Não pense que com isso o filme torna-se chato e com discussões existencialistas. Muito pelo contrário, Allen é mestre em tirar desses temas densos doses de humor inteligentíssimas. É dessa forma que ele nos apresenta as duas personagens principais, diferenciando-as logo no início da projeção, inclusive reforçando essa idéia dividindo a tela em duas.
Com o passar do tempo, o diretor vai brincando com todos os personagens e com suas distintas visões do amor. Se uma delas é conservadora, a outra é mais impulsiva. Se um dos homens é “caxias”, o outro é amargurado por desilusões. E a partir daí Allen vai analisando diversos pontos, como traição, afeto, paixão, companheirismo, monogamia, rotina de casamento, etc.
E a confusão de idéias, sentimentos e paixões é intensa: Vicky fica com Juan Antonio, que é apaixonado por Cristina, mas ainda nutre amor por Maria Elena, que é louca e romântica ao extremo... E ainda tem o noivo de Vicky que fica nos EUA ligando pra ela o tempo todo, a tia da própria que se cansa do casamento de anos... Tudo isso pontuado por cenas dirigidas com brilhantismo, sempre utilizando o humor na medida certa. As tiradas inteligentes estão por toda parte e, quando o espectador sente falta do baixinho atrapalhado que se mete em tudo, o narrador vem e nos brinda com conclusões e comentários certeiros.
É interessante também a sátira que Allen faz do modo de vida americano X modo de vida europeu, além de brincar com a idéia do “casal moderno”. Primeiro, ele romantiza a vida em Barcelona, inclusive só utilizando cenários belíssimos da cidade espanhola. Lá, o ideal de homem é bonito, charmoso e artista. Sempre inspirador e inspirado com a vida à sua volta, Bardem incorpora perfeitamente esse estereótipo em Juan Antonio. Já o americano é o estressado, fútil e infantil, que só pensa em dinheiro e na nova casa que vai comprar. Claro, no meio disso tudo o diretor coloca também uma discussão interessante sobre as novas formas de amor, muito além do homossexualismo. Trata do “casal” que se sente feliz vivendo à três para, depois de várias lições, desconstruir tudo e voltar ao que era antes. Aliá, as cenas de Scarlet Johanson, Penélope Cruz e Bardem são hilariantes, com especial destaque para os dois últimos.
A temática é forte, mas Woody Allen consegue conduzir com leveza e humor, mas sem nunca deixar de lado reflexões importantes. Deve ser por isso que, em certo momento no início do filme, um personagem ironiza o filme protagonizado pela própria Cristina nos EUA: “Você fez um filme sobre o amor em 12 minutos? Um tema tão grande pra um filme tão pequeno”. É Allen satirizando a si próprio.
Recepção
Em Cannes, onde estreou, o filme não teve uma recepção muito calorosa. Como o próprio diz, isso não quer dizer nada. Aqui no Brasil ainda é inédito e, com muito prazer e orgulho, Salvador, através do 5° Festival de Cinema de Arte de Salvador, é uma das cidades pioneiras na exibição. Sobre filmar em Barcelona, Woody Allen aproveitou as facilidades no financiamento do filme feito por lá, o que dialoga diretamente com seus últimos trabalhos feitos na Europa.
sábado, 11 de outubro de 2008
Festival de Cinema de Arte de Salvador - Leonera
Leonera
2008
113 min
Nota: 4 (de 5)
Quem foi ver Rodrigo Santoro acabou se encantando com Julia (Martina Gusmán) e o pequeno Tomás. A história desses dois, aliás, é o fio de conduta de todo o filme, muito embora peque por abandonar outras histórias paralelas e privilegiar demasiadamente as mães do presídio argentino. Mas, se tem essa adversidade, o diretor Pablo Trapero acerta ao mostrar como um filho pode mudar completamente a vida de uma mulher na busca por redenção.
Leonera conta a história de Julia, estudante universitária que se envolve com Nahuel. Ela acorda ensangüentada e vê que ele e um outro rapaz, Ramiro, estão desacordados no chão do seu apartamento. Nahuel está morto. A partir daí, acusada do crime e grávida de poucos meses, Julia passa a viver na prisão à espera de julgamento, e é lá que ela encontra afeto e forças para criar seu filho. Este, aliás, cresce por lá mesmo até completar quatro anos, quando tem de ser levado ou para um familiar ou para adoção.
Com cenas iniciais fortes, o diretor Pablo Trapero aposta primordialmente em planos fechados e com poucos diálogos, numa tentativa de aflorar no espectador uma aproximação afetiva com a personagem Julia. Deve ser por isso que sabemos pouco sobre a relação dela com sua família, em especial a mãe e o pai. Martina é, então, a grande revelação do filme, com uma atuação segura e conseguindo ponderar os momentos de introspecção e dramaticidade exagerada que em certos momentos a história exige.
Então, vemos em grande parte do filme Julia e suas colegas de presídio tentando sobreviver a uma vida de privações juntamente com seus filhos. E elas lutam e criam suas ninhadas de maneira bastante digna, com suas regras e estatutos próprios. O que é interessante (e estranho, confesso) ver é a relação lésbica que existe entre as detentas. E tudo acontece livremente, mesmo na frente das crianças. E mais: fumar na frente dos pequenos não pode, mas se beijar e se acariciar é coisa livre.
Essas relações é que ligam boa parte do filme, mas não é só isso. Rodrigo Santoro faz Ramiro, um dos lados homossexuais da relação tripla de Julia. No desenrolar da história, vemos que o caso da morte fica em aberto, já que somente no final descobriremos quem matou Nahuel, mesmo que fique uma dúvida no ar. Antes, em suas poucas cenas, Santoro é competente ao conduzir seu personagem com leveza e simplicidade, fazendo um bom bate-bola com Martina.
O ponto negativo fica pela exarcebação de cenas descartáveis dentro do presídio. Talvez por querer mostrar detalhadamente como funciona o sistema carcerário feminino, Trapero se atém a detalhes pouco relevantes, o que rouba minutos preciosos da projeção, que bem poderiam ser usados para aumentar as cenas de Ramiro e Julia e dela com sua mãe. Aliás, preste atenção na relação das duas que, mesmo ficando no ar, revela muita coisa da personalidade de Julia. E não só a mãe: note que, em contraponto aos conflitos mãe e filha, a jovem parece nutrir afeto pelo pai – fato revelado num detalhe no início da projeção e no nome do menino, o mesmo do avô.
E se vemos uma mãe batalhadora e incapaz de deixar seu filho um minuto sequer, acompanhamos com afeto também a trajetória não só dela, mas de outras mães que cometeram crimes, mas em momento algum fugiram à sua condição de mãe. Talvez aí esteja a explicação do nome Leonera, “prisão de leoas” em português.
Trajetória
Só pra contextualizar – eu sei, admito, uma mania de jornalista. “Leonera” está rodando o mundo em festivais e passou pela primeira vez no Brasil há algumas semanas no Festival do Rio e chega agora a Salvador. Nesse ponto, estamos tentando nos igualar aos grandes centros. Martina Gusmán é uma produtora renomada na Argentina e esse é apenas seu segundo filme, mais uma vez ao lado de Trapero. O diretor, no entanto, é figurinha carimbada no cinema dos hermanos, já tendo êxito em filmes como “Do Outro Lado da Lei” e “Família Rodante”. A produção de Leonera ficou a cargo de Walter Salles, numa bela tabelinha Argentina-Brasil. E, para fehcar, a maquiagem de Julia grávida é algo fascinante, mesmo quando o diretor dá um close na barriga dela durante o banho: é impossível dizer que aquilo não é verdadeiro.
Leonera conta a história de Julia, estudante universitária que se envolve com Nahuel. Ela acorda ensangüentada e vê que ele e um outro rapaz, Ramiro, estão desacordados no chão do seu apartamento. Nahuel está morto. A partir daí, acusada do crime e grávida de poucos meses, Julia passa a viver na prisão à espera de julgamento, e é lá que ela encontra afeto e forças para criar seu filho. Este, aliás, cresce por lá mesmo até completar quatro anos, quando tem de ser levado ou para um familiar ou para adoção.
Com cenas iniciais fortes, o diretor Pablo Trapero aposta primordialmente em planos fechados e com poucos diálogos, numa tentativa de aflorar no espectador uma aproximação afetiva com a personagem Julia. Deve ser por isso que sabemos pouco sobre a relação dela com sua família, em especial a mãe e o pai. Martina é, então, a grande revelação do filme, com uma atuação segura e conseguindo ponderar os momentos de introspecção e dramaticidade exagerada que em certos momentos a história exige.
Então, vemos em grande parte do filme Julia e suas colegas de presídio tentando sobreviver a uma vida de privações juntamente com seus filhos. E elas lutam e criam suas ninhadas de maneira bastante digna, com suas regras e estatutos próprios. O que é interessante (e estranho, confesso) ver é a relação lésbica que existe entre as detentas. E tudo acontece livremente, mesmo na frente das crianças. E mais: fumar na frente dos pequenos não pode, mas se beijar e se acariciar é coisa livre.
Essas relações é que ligam boa parte do filme, mas não é só isso. Rodrigo Santoro faz Ramiro, um dos lados homossexuais da relação tripla de Julia. No desenrolar da história, vemos que o caso da morte fica em aberto, já que somente no final descobriremos quem matou Nahuel, mesmo que fique uma dúvida no ar. Antes, em suas poucas cenas, Santoro é competente ao conduzir seu personagem com leveza e simplicidade, fazendo um bom bate-bola com Martina.
O ponto negativo fica pela exarcebação de cenas descartáveis dentro do presídio. Talvez por querer mostrar detalhadamente como funciona o sistema carcerário feminino, Trapero se atém a detalhes pouco relevantes, o que rouba minutos preciosos da projeção, que bem poderiam ser usados para aumentar as cenas de Ramiro e Julia e dela com sua mãe. Aliás, preste atenção na relação das duas que, mesmo ficando no ar, revela muita coisa da personalidade de Julia. E não só a mãe: note que, em contraponto aos conflitos mãe e filha, a jovem parece nutrir afeto pelo pai – fato revelado num detalhe no início da projeção e no nome do menino, o mesmo do avô.
E se vemos uma mãe batalhadora e incapaz de deixar seu filho um minuto sequer, acompanhamos com afeto também a trajetória não só dela, mas de outras mães que cometeram crimes, mas em momento algum fugiram à sua condição de mãe. Talvez aí esteja a explicação do nome Leonera, “prisão de leoas” em português.
Trajetória
Só pra contextualizar – eu sei, admito, uma mania de jornalista. “Leonera” está rodando o mundo em festivais e passou pela primeira vez no Brasil há algumas semanas no Festival do Rio e chega agora a Salvador. Nesse ponto, estamos tentando nos igualar aos grandes centros. Martina Gusmán é uma produtora renomada na Argentina e esse é apenas seu segundo filme, mais uma vez ao lado de Trapero. O diretor, no entanto, é figurinha carimbada no cinema dos hermanos, já tendo êxito em filmes como “Do Outro Lado da Lei” e “Família Rodante”. A produção de Leonera ficou a cargo de Walter Salles, numa bela tabelinha Argentina-Brasil. E, para fehcar, a maquiagem de Julia grávida é algo fascinante, mesmo quando o diretor dá um close na barriga dela durante o banho: é impossível dizer que aquilo não é verdadeiro.
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sexta-feira, 10 de outubro de 2008
Festival de Cinema em Salvador
Começa hoje em Salvador o 5° Festival de Cinema de Arte, que vai reunir mais de 50 filmes e 21 curtas de todo o mundo. Não se preocupe, porque vai rolar filme até dia 23 de outubro em sessões diárias. Confira aqui a programação. Eu já estou anotando pra não perder nada de interessante.
A dimensão que o evento tomou esse ano é grande e esse fiel blogueiro aqui vai estar presente em muitas sessões. Eu havia falado aqui, há algumas semanas, do crescimento do cinema feito na terra, por produtores, atores, técnicos e diretores daqui. Agora, esse tipo de festival só mostra o crescimento da cena da cidade.
E olha só os filmes que vão rolar:
Leonera
Sinedoque NY
Vicky Cristina Barcelona
Feliz Natal
Desejo e Perigo (o novo de Ang Lee)
Um Romance de Geração
Olho de Boi
Simonal – Ninguém Sabe o Duro que Dei
Eu pretendo ir nesses todos, principalmente em “Sinedoque NY”, o primeiro longa de Kauffman na direção, além de ser o roteirista. Ele é, sem sombra de dúvidas, a mente mais brilhante e promissora do cinema mundial hoje. Vamos ver como se saiu na direção. Tem também Woody Allen que é sempre Woody Allen, embora seu último filme, O Sonho de Cassandra, tenha sido uma decepção. Verei também Feliz Natal, de Selton Melo (vai estar presente aqui em Salvador no dia), mais uma estréia como diretor, e “Leonera”, mais um filme do inquieto e workaholic Rodrigo Santoro (grande ator, apesar das derrapadas na condução da carreira).
Como eu sou um cara legal e pouco modesto, vou tentar colocar resenhas dos filmes por aqui. Só vou fazer isso porque sei que grande parte dos meus leitores fiéis são cinéfilos como eu e vão gostar das resenhas por aqui (eu acho). Vamos ver, por exemplo, se eu consigo transpor em palavras as cenas de “Sinedoque NY” ou as gags impagáveis de Allen.
P.S.: só uma recomendação, já que o assunto é a sétima arte. Leiam esse livro aqui, “O que é cinema?”, da série Primeiros Passos. Pode parecer besta a princípio, mas é um livro revelador. Você lê numa sentada e é impactante. Eu li hoje e recomendo imensamente.
A dimensão que o evento tomou esse ano é grande e esse fiel blogueiro aqui vai estar presente em muitas sessões. Eu havia falado aqui, há algumas semanas, do crescimento do cinema feito na terra, por produtores, atores, técnicos e diretores daqui. Agora, esse tipo de festival só mostra o crescimento da cena da cidade.
E olha só os filmes que vão rolar:
Leonera
Sinedoque NY
Vicky Cristina Barcelona
Feliz Natal
Desejo e Perigo (o novo de Ang Lee)
Um Romance de Geração
Olho de Boi
Simonal – Ninguém Sabe o Duro que Dei
Eu pretendo ir nesses todos, principalmente em “Sinedoque NY”, o primeiro longa de Kauffman na direção, além de ser o roteirista. Ele é, sem sombra de dúvidas, a mente mais brilhante e promissora do cinema mundial hoje. Vamos ver como se saiu na direção. Tem também Woody Allen que é sempre Woody Allen, embora seu último filme, O Sonho de Cassandra, tenha sido uma decepção. Verei também Feliz Natal, de Selton Melo (vai estar presente aqui em Salvador no dia), mais uma estréia como diretor, e “Leonera”, mais um filme do inquieto e workaholic Rodrigo Santoro (grande ator, apesar das derrapadas na condução da carreira).
Como eu sou um cara legal e pouco modesto, vou tentar colocar resenhas dos filmes por aqui. Só vou fazer isso porque sei que grande parte dos meus leitores fiéis são cinéfilos como eu e vão gostar das resenhas por aqui (eu acho). Vamos ver, por exemplo, se eu consigo transpor em palavras as cenas de “Sinedoque NY” ou as gags impagáveis de Allen.
P.S.: só uma recomendação, já que o assunto é a sétima arte. Leiam esse livro aqui, “O que é cinema?”, da série Primeiros Passos. Pode parecer besta a princípio, mas é um livro revelador. Você lê numa sentada e é impactante. Eu li hoje e recomendo imensamente.
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quarta-feira, 8 de outubro de 2008
Top 10 - Novelas e Seriados
Quem visita sabe, mas não é demais falar: todos os top 10 têm como foco a Bahia. Portanto, esse é o top 10 novelas e seriados passados ou com alguma ligação com a Bahia. Outra coisa que eu queria falar é sobre novelas que não definiram exatamente onde se passavam, como Mulheres de Areia, Roque Santeiro e A Indomada (essa última eu acredito ser Pernambuco, mas não há nada comprovado) e que eu não pude colocar na lista. Ah, minha fonte inesgotável de pesquisa e que serve como um google da teledramartugia do Brasil é essa aqui.
2 – Tieta (1989-90)
Marcou época pelo grande desempenho de Sônia Braga, loucuras de Perpétua e pelas histórias mirabolantes de Jorge Amado. Aliás, a novela é filha da tradição global de adaptar obras do mestre.
3 – Porto dos Milagres (2001)
Outra história baseada em obras de Jorge Amado, mas dessa vez a Globo ousou mais e criou bastante coisa. Destaque para a história de pescadores, a luta de classes e personagens pitorescos, todos típicos da obra novelística de Jorge. Quem não lembra da eterna lua cheia da cidadezinha?
4 – Pedra sobre Pedra (1992)
Mais uma disputa de poder entre famílias, mas dessa vez na Chapada Diamantina. Lima Duarte e Fabio Jr. roubaram a cena nessa trama, principalmente esse último, que fez Jorge Tadeu e até hoje é lembrado por isso.
5 – O Bem Amado (1973)
Mais uma luta de força políticas numa cidadezinha do interior baiano. Parece tema batido, mas a Globo sabe fazer isso muito bem e deixar no nosso subcosciente personagens impagáveis, como as irmãs Cajazeiras, Odorico Paraguaçu e Zeca Diabo. Essa eu vi em “Vale a pena ver de novo”.
6 – Dona Flor e Seus Dois Maridos (1998)
Seriado em 18 capítulos passado em 98, foi um grande sucesso nacional. Giulia Gam é meio derrubada, mas aqui ela deu tudo de si (literalmente). Carlinhos Brown cantou a música tema.
7 – Gabriela (1975)
Mais um clássico de Jorge Amado transposto para as telinhas. Quem lê o mestre sabe da sua habilidade novelística e esse é mais um exemplo. Sônia Braga deu (opa) uma ótima Gabriela, cravo e canela.
8 – Quinto dos Infernos (2002)
Seriado que mostrou de maneira hilária os bastidores da independência do Brasil. Como não poderia deixar de ser, uma boa parte da trama se passa em nossas terras baianas. Dá pra entender um pouco da nossa herança...
9 – Guerra de Canudos (1998)
Filme de Sérgio Rezende apresentado como microssérie, explora a história do famoso Antônio Conselheiro e sua luta pela liberdade. Vale pelas cenas de guerra e pelo grande elenco.
10 – Verão Vermelho (1970)
É muito antiga e desconhecida, mas entrou na lista por alguns motivos: traz no elenco a talentosa Dina Sfat, é escrita por Dias Gomes e sua cena inicial se passa no Iate Clube. Chique.
Top 10 - Novelas e Seriados
1 – Renascer (1993)
Como toda boa novela, foi um marco para uma geração de adultos e crianças. A história de um fazendeiro, suas terras e relações amorosas em Ilhéus rendeu um dos maiores ibopes para a Globo até hoje. Quem não se lembra de José Inocêncio? E João Pedro, Tião Galinha, Buba, Professorinha, Padre Lívio e Teodoro? A trilha sonora também reserva grandes nomes noveleiros, como Fábio Jr., Guilherme Arantes, Elba Ramalho e Roupa Nova. A abertura, típica de Hans Donner, embalou gerações com a música (Ivan Lins) “nada cai do céu, nem cairá...”.
Como toda boa novela, foi um marco para uma geração de adultos e crianças. A história de um fazendeiro, suas terras e relações amorosas em Ilhéus rendeu um dos maiores ibopes para a Globo até hoje. Quem não se lembra de José Inocêncio? E João Pedro, Tião Galinha, Buba, Professorinha, Padre Lívio e Teodoro? A trilha sonora também reserva grandes nomes noveleiros, como Fábio Jr., Guilherme Arantes, Elba Ramalho e Roupa Nova. A abertura, típica de Hans Donner, embalou gerações com a música (Ivan Lins) “nada cai do céu, nem cairá...”.
2 – Tieta (1989-90)
Marcou época pelo grande desempenho de Sônia Braga, loucuras de Perpétua e pelas histórias mirabolantes de Jorge Amado. Aliás, a novela é filha da tradição global de adaptar obras do mestre.
3 – Porto dos Milagres (2001)
Outra história baseada em obras de Jorge Amado, mas dessa vez a Globo ousou mais e criou bastante coisa. Destaque para a história de pescadores, a luta de classes e personagens pitorescos, todos típicos da obra novelística de Jorge. Quem não lembra da eterna lua cheia da cidadezinha?
4 – Pedra sobre Pedra (1992)
Mais uma disputa de poder entre famílias, mas dessa vez na Chapada Diamantina. Lima Duarte e Fabio Jr. roubaram a cena nessa trama, principalmente esse último, que fez Jorge Tadeu e até hoje é lembrado por isso.
5 – O Bem Amado (1973)
Mais uma luta de força políticas numa cidadezinha do interior baiano. Parece tema batido, mas a Globo sabe fazer isso muito bem e deixar no nosso subcosciente personagens impagáveis, como as irmãs Cajazeiras, Odorico Paraguaçu e Zeca Diabo. Essa eu vi em “Vale a pena ver de novo”.
6 – Dona Flor e Seus Dois Maridos (1998)
Seriado em 18 capítulos passado em 98, foi um grande sucesso nacional. Giulia Gam é meio derrubada, mas aqui ela deu tudo de si (literalmente). Carlinhos Brown cantou a música tema.
7 – Gabriela (1975)
Mais um clássico de Jorge Amado transposto para as telinhas. Quem lê o mestre sabe da sua habilidade novelística e esse é mais um exemplo. Sônia Braga deu (opa) uma ótima Gabriela, cravo e canela.
8 – Quinto dos Infernos (2002)
Seriado que mostrou de maneira hilária os bastidores da independência do Brasil. Como não poderia deixar de ser, uma boa parte da trama se passa em nossas terras baianas. Dá pra entender um pouco da nossa herança...
9 – Guerra de Canudos (1998)
Filme de Sérgio Rezende apresentado como microssérie, explora a história do famoso Antônio Conselheiro e sua luta pela liberdade. Vale pelas cenas de guerra e pelo grande elenco.
10 – Verão Vermelho (1970)
É muito antiga e desconhecida, mas entrou na lista por alguns motivos: traz no elenco a talentosa Dina Sfat, é escrita por Dias Gomes e sua cena inicial se passa no Iate Clube. Chique.
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segunda-feira, 6 de outubro de 2008
Guia de Sobrevivência nos Ônibus de Salvador - Módulo 2
Segundo Módulo
Os pontos de ônibus
Ou
Saiba se posicionar nos pontos para não perder o buzú
O problema dos pontos de ônibus em Salvador é que eles são, em sua maioria, improvisados em qualquer esquina. Tem lugar que não possui uma única sinalização, mas tem uma cacetada de gente esperando o bus. Você vai ter que seguir o fluxo. Aliás, essa é uma boa dica: na dúvida, siga o fluxo.
De qualquer forma, existem alguns pontos especiais e as estações de transbordo, aquelas enormes plataformas com uma incrível capacidade de amontoamento de gente. Nos pontos normais, fique atento a fatores externos: farmácias ao redor, ruas adjacentes, sinaleira, etc. Esses aspectos vão direcionar você a como se posicionar para não perder o buzú. Quem nunca ficou puto da vida porque um ônibus simplesmente “passou por fora”, ou seja, passou por trás dos outros ônibus e se picou?
Antes do seu buzú chegar, observe aonde exatamente os ônibus estão parando. Geralmente os motoristas param no mesmo local. Isso é importante se você for se acotovelar por um Est. Pirajá, Santa Mônica, Campo Grande R1, Est. Mussurunga e tantos outros. Por isso, o entorno do ponto é importante, já que esses fatores vão definir aonde exatamente seu buzú vai parar. Se por um acaso o ponto estiver cheio de ônibus (uns 5 ou 6), aí a situação complica. Fique atento, porque de acordo com as leis de Murphy... Bem, seu buzú pode aparecer e aí você terá que ser ágil. Se ele parar lá atrás, longe de ponto, na fileira, pode ir correndo de encontro ao dito cujo. Não espere no ponto, porque ele pode achar uma brecha, virar para a esquerda e se mandar por fora. Se ele vier rápido e por fora, tente olhar nos olhos do motorista e acene. Não, não coloque a mão vagarosamente, e sim dê um “legal” pra ele, firme e forte. Não se esqueça de correr também, sem medo de ser feliz. É capaz dele parar na frente de todos.
As Estações de Transbordo (Iguatemi, Est. Mussurunga, Pirajá, Lapa e etc.) são uma falsa facilidade, já que existem locais específicos para cada linha. Esses locais funcionam no papel, porque na prática, com a estação lotada, cada um pára em qualquer lugar. Portanto, inicialmente siga o plano citado mais acima, mas não perca de vista o fluxo de ônibus. Isso é muito comum na Estação Iguatemi e no ponto do próprio shopping, que é muito extenso. Você realmente não sabe onde ficar parado; o ponto possui uns 100 metros de comprimento. A dica é tentar ficar no meio e se seu ônibus apontar lá longe, siga a velocidade dele: se vier devagar ponteando o ponto, vá em direção a ele, mas se ele vier rápido e por fora, não se acanhe em seguir a dica do “legal”, e sebo nas canelas.
Próximo Módulo: "Ônibus vazio" ou "Nunca subestime um buzú vazio"
De qualquer forma, existem alguns pontos especiais e as estações de transbordo, aquelas enormes plataformas com uma incrível capacidade de amontoamento de gente. Nos pontos normais, fique atento a fatores externos: farmácias ao redor, ruas adjacentes, sinaleira, etc. Esses aspectos vão direcionar você a como se posicionar para não perder o buzú. Quem nunca ficou puto da vida porque um ônibus simplesmente “passou por fora”, ou seja, passou por trás dos outros ônibus e se picou?
Antes do seu buzú chegar, observe aonde exatamente os ônibus estão parando. Geralmente os motoristas param no mesmo local. Isso é importante se você for se acotovelar por um Est. Pirajá, Santa Mônica, Campo Grande R1, Est. Mussurunga e tantos outros. Por isso, o entorno do ponto é importante, já que esses fatores vão definir aonde exatamente seu buzú vai parar. Se por um acaso o ponto estiver cheio de ônibus (uns 5 ou 6), aí a situação complica. Fique atento, porque de acordo com as leis de Murphy... Bem, seu buzú pode aparecer e aí você terá que ser ágil. Se ele parar lá atrás, longe de ponto, na fileira, pode ir correndo de encontro ao dito cujo. Não espere no ponto, porque ele pode achar uma brecha, virar para a esquerda e se mandar por fora. Se ele vier rápido e por fora, tente olhar nos olhos do motorista e acene. Não, não coloque a mão vagarosamente, e sim dê um “legal” pra ele, firme e forte. Não se esqueça de correr também, sem medo de ser feliz. É capaz dele parar na frente de todos.
As Estações de Transbordo (Iguatemi, Est. Mussurunga, Pirajá, Lapa e etc.) são uma falsa facilidade, já que existem locais específicos para cada linha. Esses locais funcionam no papel, porque na prática, com a estação lotada, cada um pára em qualquer lugar. Portanto, inicialmente siga o plano citado mais acima, mas não perca de vista o fluxo de ônibus. Isso é muito comum na Estação Iguatemi e no ponto do próprio shopping, que é muito extenso. Você realmente não sabe onde ficar parado; o ponto possui uns 100 metros de comprimento. A dica é tentar ficar no meio e se seu ônibus apontar lá longe, siga a velocidade dele: se vier devagar ponteando o ponto, vá em direção a ele, mas se ele vier rápido e por fora, não se acanhe em seguir a dica do “legal”, e sebo nas canelas.
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sexta-feira, 3 de outubro de 2008
Segurança X Eleição: nulo neles!
A imagem que ilustra esse post é a capa do Correio da Bahia, de 2/10 desse ano. Bela capa, jornalisticamente falando. Só reflete uma sensação do povo em relação ao assunto: parece que todos temos em casa uma folhinha e vamos contando as mortes aos montes. Sem receio, é talvez a melhor capa do ano – e sem fazer sensacionalismo, ou chegar perto disso, como fez o A Tarde ao publicar a foto do policial (mesmo de longe) na maca do IML.
Saindo dessa ceara, em apenas um dia nós nos deparamos com manchetes alarmantes. Depois da morte do 27° policial em apenas 9 meses, Salvador entrou no noticiário com outros casos de assassinatos e mortes por arma de fogo. Aqui, cinco morreram na troca de tiros entre policiais e bandidos. Já aqui, na cidade de Tabocas, um atentado político feriu três. Mais: traficante morto pela polícia. E aqui, mais um jovem morto por causas indefinidas.
É apenas uma amostra no universo soteropolitano de tantas mortes. É um fato que, infelizmente, nenhum candidato tocou no último debate dos prefeituráveis. É uma pena.
E ainda querem que eu vote em alguém. Nulo neles.
quinta-feira, 2 de outubro de 2008
Guia de Sobrevivência nos Ônibus de Salvador
Esse guia nada mais é do que um caminho a ser seguido. Não sou modesto e logo de cara eu aviso: se você quiser ter uma vida longa nos ônibus de Salvador é melhor seguir esse Guia. Caso contrário, você vai sofrer bastante. E o pior: vai reclamar muito, mas vai ter que continuar pegando o velho buzú.
Lembrando também que o presente texto pode servir para outros campos de bat... digo, outras cidades. Muitos dos acontecimentos vistos e presenciados aqui na Terra de Ninguém podem vir a acontecer com você ai na Chechênia. Não? Pois não se assuste se um “Estação Pirajá” passar pelas ruas da sua cidade. Essa praga (que tem um tópico especial no Guia) é igual a cearense cabeçudo: tem em tudo quanto é lugar.
Outro ponto importante é a veracidade e respeitabilidade desse Guia. Tudo que você ler aqui aconteceu comigo ou com meus amigos. Nada de historinhas de “ouvi dizer...” nem nada. Aqui tudo é 100% real.
Prepare-se. Procure uma cadeira perto da janela, se afaste do gordo sonolento do seu lado e aguce sua leitura. O Guia de Sobrevivência nos Ônibus de Salvador entra no ar agora.
Primeiro Módulo:
Preparação
Ou
Saia cedo de casa senão você se fode
Preparação
Ou
Saia cedo de casa senão você se fode
Uma coisa é certa: se você planejar, suas chances de sobreviver na selva de ônibus de Salvador aumentam bastante. Por isso, meu caro, pense mil vezes antes de sair de casa. Se você, por exemplo, vai encarar um emprego novo num bairro que você pouco conhece, procure todo tipo de informação sobre horários e lotabilidade (explicarei esse neologismo posteriormente. Aliás, é mais um índice mercadológico criado para entender melhor a lógica “oferta x procura” aplicada aos ônibus). E também não se esqueça de sempre procurar saber novidades do seu velho e conhecido buzú, aquele que você pega todo dia há anos.
Bem... Se você vai encarar um trajeto novo, não se acanhe em perguntar. Porém, você tem que ir nas fontes certas. Não pergunte a taxistas ou sua mãe, mas sim a porteiros, vigilantes e vendedores de bala. Eles sabem todos os horários de todos os ônibus, numa lógica impressionante. Eles vão lhe dar subsídios para você saber a hora exata de sair de casa. Agora vem uma dica importante: não fique com medo de sair cedo demais. Lembre-se que quanto mais cedo você sai, menos gente tem na rua. Baiano é muito preguiçoso... E você não... Estou errado? Espero que não.
Com os horários devidamente anotados, é hora de você pegar o bendito buzú. Não se preocupe, porque os primeiros dias serão de adaptação e você vai errar bastante, sendo que vai chegar alguns dias muito cedo e outros muito atrasado. Com o tempo você vai descobrir as manhas de cada motorista e se adequar à sua rotina.
Próximo Módulo: "Os pontos de ônibus" ou "Saiba se posicionar nos pontos para não perder o buzú"
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