- Vamo embora, Du.
- Agora não.
- Mas você odeia Djavan, ainda mais essa música sobre Leonardo di Caprio e Caetano Veloso... E ela nem canta tão bem assim.
- Não. Vamo ficar.
- Não acredito, Du. Isso é a sua cara. Toma ai 10 reais pelos chopps... Até mais!
E era mesmo tudo verdade. Eduardo odiava Djavan e sempre tomava atitudes intempestivas nos locais mais inusitados. Dessa vez foi no bar Carlos 7, lugar muito mal freqüentado na esquina da Carlos Gomes com a Av. Sete. E levar Carol lá foi a melhor maneira de dar um fora na garota. Aliás, nem precisou falar diretamente na cara, outra coisa que ele também adorava fazer. Quem resolveu tudo dessa vez foi Djavan, ou a cantora loira cantando Djavan.
Eduardo estava era de olho nela. Loira, olhos negros e coxas grossas. A bunda ele não tinha conseguido ver ainda; ela estava o tempo todo sentada. E olhava com olhar de sexo para todas as pessoas do bar. Tentava com essa olhar transmitir emoção das músicas, mas só conseguia receber bebidas pagas pelos clientes do bar. Talvez fosse isso mesmo que ela queria.
Ao final do show, sentou-se de frente para o dono do Carlos 7 e passou a conversar. Eduardo percebeu uma mudança repentina, como se aquela cantora tivesse ficado nas melodias e desaparecido juntamente com o último acorde da última música. De rosto fechado, ela destilava palavras entre um gole e outro de conhaque. Eduardo pensou em levantar e ir até ela, mas faltou-lhe coragem. Talvez mais alguns goles daquele uísque nacional barato e, pelo excesso de gelo, sem gosto. Pediu outra dose e fixou o olhar nela. “Não é possível”, pensou. “Aqueles olhos negros diretamente em mim não podem ter sumido”. Tinha razão. A cantora esticou o braço para que alguém lhe acendesse o cigarro e viu Eduardo do outro lado do bar.
Foi um cruzar de olhos constrangedor para o rapaz, que logo desviou sua visão. Nervoso, fingiu olhar alguma coisa no celular, mas só conseguiu ver realmente duas chamadas não atendidas de Carol. “Vagabunda. Me dispensa e agora fica toda querendo dar a xoxota. Morra”. Ignorou. Foi tudo que ele precisava para criar um pouco de coragem e tentar falar com a cantora loira. A essa altura ela já estava de saída, de bolsa na mão e dinheiro para o ônibus separado. Foi a deixa para ele oferecer carona, seja lá onde ela more. Uma saidera em algum outro bar foi a única coisa que ele pensou na hora. E nem perguntou o nome dela.
O caminho até o Murada no Rio Vermelho foi rápido, porém poucas palavras foram ditas. Ela passou quase o tempo todo no celular falando com um homem. Eduardo só conseguiu se concentrar nas ruas por mera questão de necessidade: seus olhos estavam realmente fitados nas coxas dela. E como eram grandes e definidas. Com aquele vestido vermelho, então... Realçava mais ainda.
Enfim sentados. Eduardo foi rápido e pediu uísque sem gelo, e dessa vez Red Label. A cantora ficou na água.
- Às vezes eu gosto de vir aqui sozinho.
- E porque me trouxe dessa vez? – acendeu o cigarro
- Pra ver se tem a mesma graça acompanhado.
- E qual a graça do bar?
- Não sei... Olho as pessoas e tomo meu uísque. Nada demais. E sozinho é melhor pra fazer isso. Não acha?
- Pode ser. E hoje você não tá afim de “olhar as pessoas”?
- Não exatamente. À 1h30 da madrugada de uma terça-feira não aparece muita gente pra ser observada.
- Quer dizer então que eu sou o estepe da sua noite?
- Gostei de você
- É? Desde que horas? Vi quando sua queridinha saiu enfurecida. Eu tava...
- Tocando Djavan. Eu odeio Djavan.
- Eu também.
Riram juntos e continuaram a conversar sobre música. Ela sabia pouco, é verdade, e nem conhecia Lupicínio Rodrigues ou Ataulfo Alves, dois grandes ídolos para Eduardo. Mas até que ela cantava bem, tinha voz, tinha postura e sabia cativar os clientes. Ela disse ser essa sua grande característica. Ele não respondeu nada, mas ficou na dúvida se cantora de boteco tem lá alguma “característica”.
- Poxa... 3h40! Tá ficando tarde, não acha?
- Eu te trouxe aqui, eu te deixo em casa. Mora onde?
- Precisa não. Vou de táxi. Tô acostumada. E não fica mal pra você chegar em casa a essa hora?
- Ninguém me espera. Sou livre, assim como você. Quer dizer... Eu acho.
- Está na hora, Du. Toma esse cartão. Me liga quando tiver afim de me mostrar alguns discos ou ver um filme de Glauber Rocha.
Essa última frase mexeu com o rapaz: “onde já se viu cantora de boteco sujo da Carlos Gomes se interessar por Glauber Rocha”. Viu a moça se afastar e pôde, enfim, observar a bunda da cantora. Era lisa e bem torneada, mas não muito grande. O último gole do uísque desceu da melhor maneira possível. Levantou e pendurou a conta, como sempre fazia. Antes de entrar no carro, resolveu dar uma olhada no cartão: “Luana Star, cantora da noite. Contatos...”. Riu. Olhou atrás e não se surpreendeu ao ver a marca de um batom vermelho escuro exalando um forte cheiro. Melhor assim.
segunda-feira, 25 de agosto de 2008
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11 comentários:
que Du descarado.
bjooos
pá de lá, pá de cá.
gosto de diálogos assim.
massa, carreiro
Figura interessante...
Fluiu bem!
Oh, me lembrou a musica do White Stripes, Take, take, take.
só faltou ela escrever "my heart is in my mouth"
beijaaaa
Rodrigo,
um a zero para as loiras! E olha que essa ainda cantava Djavan...
hehehehehe.
gostei!
Uma punheta de grandes expectativas. Ótimo!
danadinho esse du!
melhor assim...
kkk
>>
Rodrigo, fico aqui pensando nessa dona cantora de bar, gosto desses tipos saca, e deu vontade de encontrar uma dessas num bar qualquer.
Esse Du nao conseguiu largar a sujeira.. hehehehe!!
um beijo!!
Rodrigo,
Coloquei uma fala sua num fórum sobre baratas que postei hoje...
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