Já estamos no final do ano e esse fortuito blog não poderia deixar de entrar na baboseira de listas e retrospectivas. Estou preparando para dezembro alguns posts especiais, que com certeza vocês vão gostar. Vai ter muito top 10 (piores e melhores momentos de 2008), novos contos e outras novidades (quem sabe eu não responda à meme de Sun?). Também vou fazer alguns posts mais pessoais, com top 10 de músicas do ano, álbuns do ano, filmes do ano e livros que li em 2008.
Aliás, a principal novidade é que em 2009 eu vou mudar de endereço no ciberespaço. Vou tomar vergonha na cara e arrumar um lugar mais pessoal, bonito e cheiroso. Terei domínio próprio e mais liberdade para criar coisas novas, porque esse layoutzinho do blogspot e suas limitações já estão me dando nos nervos.
Semana que vem eu começo com alguns posts comemorativos. Devo contar, num ataque de egocentria, a história que me motivou a criar o blog. Pensei em fazer uma auto-entrevista, mas aí seria viadagem demais. Tem também um post que está guardado, sobre um tema chato, mas de extrema importância: a violência urbana. E ainda farei uma cobertura da minha viagem de reveillon, à Chapada Diamantina. Não sei ainda como, mas fotos sensacionais vocês terão: estou levando, além de uma máquina digital tradicional, uma relíquia fotográfica para registrar tudo em preto e branco.
Aliás, quem tiver sugestão para posts pode me falar que na medida do possível tentarei atender. E em 2009 eu espero estar num lugar melhor e com muitas novidades.
quinta-feira, 27 de novembro de 2008
segunda-feira, 24 de novembro de 2008
O estereótipo do roqueiro baiano: uma noite no Pelô
Não, eles não são emos. Até poderiam ser confundidos como tal, mas não são. Em Salvador existem muitos emos, mas (graças a Deus) eles freqüentam shows vespertinos. O caso que apresento é de outros tipos de roqueiros. É aquele típico da Bahia, que calça coturno, veste camisa preta de banda e desfila com longos cabelos ao vento. E é aquele também que dificilmente veste camisa de banda (está fora de moda), arruma-se cuidadosamente e usa o cabelo milimetricamente desarrumado. É a nova onda indie de Salvador.
E eles estão por todas as partes. Essa semana eu presenciei um encontro deles num dos pontos mais visitados da capital. O Pelourinho foi palco de um show que reunia três das mais destacadas bandas independentes do país, duas delas as queridinhas do circuito indie brasileiro. O nome delas pouco importa aqui, pois o desfile de moda, comportamento e ousadia é o que fala mais alto.
Era 17h quando eu avistei a enorme fila que se formava em frente ao local do show. Evento (bom) à R$2 é raro, então não faltou gente interessada. Posicionei-me estrategicamente no final da fila e, já prevendo a enorme demora que seria aquilo ali, comecei a observar a reunião de indies soteropolitanos. Eles são ingênuos, porque acham que a moda e o comportamento do eixo-sul-indie-paulista é o que há de mais moderno nesse mundo. E não é. Não faltaram meninas bonitas com o rosto coberto por franjas e chapéus a lá Mallu Magalhães. Aliás, essa foi a mais copiada da noite. Só na fila eu avistei três, e um grupinho de meninotes se alvoroçou quando viu uma cidadã tão magra e decrépita quanto Amy Winehouse.
Os homens também não ficam atrás. Tinha um (insuportável, por sinal) copiando o estilo Peter Doherty, sem ter a mínima idéia do que é heroína e os efeitos que ela causa no seu “ídolo”. Os grupinhos se formavam em hordas histéricas, sempre pondo fofoquinhas em dia e confabulando quem iria dormir na casa de quem. Alguns tentavam se animar com um Ipod em pleno Pelô, talvez ouvindo alguma banda obscura de Teresina ou Alabama.
O mais latente era perceber que durante a semana eles não são assim. Visivelmente desengonçados mas ao mesmo tempo felizes como porcos na lama, eles se fantasiam para ir à festa, numa maneira quase que circense de se auto-afirmar através do som e da moda. Tirando uma banda baiana, as outras duas (ótimas, por sinal) emulavam um estilo completamente fora dos nossos padrões, o que é ótimo se você souber filtrar e se comportar como você mesmo. Mas não. Os indiezinhos estavam mais preocupados com o cabelo ou a bolsa da moda.
Não faltaram all stars multi-coloridos, presilhas de cabelo modernosas, bolsas pop art, calças xadrez, cabelos estilosos e muita histeria em torno dos nomes indies. Eu era um perdido e me sentia como tal. Na fila, sozinho, olhava para os lados à procura de um semelhante. Avistei apenas uma senhora, igualmente perdida e acompanhando seu filho (com típicos adornos indie, como óculos de aro grosso e camisa xadrez apertada), que trazia inteligentemente uma cadeira armável. Armou numa esquina e passou a apreciar a fila, ao mesmo tempo em que batia um papo amigável com dois policiais. Eu devia ter feito o mesmo...
Pior é que tentei ser indie. Ingenuidade minha achando que me misturaria á horda apenas empunhando meu all star standart preto. Eu era o mais démodé. Os indies soteropolitanos me olhavam indiferentes, me taxando de “loser”, como se eles fossem os queridinhos do colégio. Porra, tudo cambada de babaca que toma porrada de pagodeiro na escola. É, porque ali, naquele show, 70% eram de meninos espinhosos recém-saídos do segundo grau e se achando os donos do mundo por prestar vestibular para Sociologia na UFBA.
Ainda na fila, já de saco cheio, avistei cerca de 10 homens de preto descendo a ladeira. Quando se aproximaram, percebi que faziam parte da galera “old school” do rock baiano, os famosos metaleiros. Achei estranho, mas logo entendi quando eles passaram furiosos pelo meio da fila, provocando medo e descontentamento de alguns indies, e seguiram em frente, descendo outra ladeira. Soube que ali perto haveria também um show de Death Metal. Um deles, calçando coturno, vestindo camisa de banda e desfilando com longos cabelos ao vento, falou com ar de desdém logo após cruzar a fila: “Um monte de fã do Los Hermanos”. Na mosca.
P.S.: os shows foram do Móveis Coloniais Acaju, Vanguart e Cascadura.
E eles estão por todas as partes. Essa semana eu presenciei um encontro deles num dos pontos mais visitados da capital. O Pelourinho foi palco de um show que reunia três das mais destacadas bandas independentes do país, duas delas as queridinhas do circuito indie brasileiro. O nome delas pouco importa aqui, pois o desfile de moda, comportamento e ousadia é o que fala mais alto.
Era 17h quando eu avistei a enorme fila que se formava em frente ao local do show. Evento (bom) à R$2 é raro, então não faltou gente interessada. Posicionei-me estrategicamente no final da fila e, já prevendo a enorme demora que seria aquilo ali, comecei a observar a reunião de indies soteropolitanos. Eles são ingênuos, porque acham que a moda e o comportamento do eixo-sul-indie-paulista é o que há de mais moderno nesse mundo. E não é. Não faltaram meninas bonitas com o rosto coberto por franjas e chapéus a lá Mallu Magalhães. Aliás, essa foi a mais copiada da noite. Só na fila eu avistei três, e um grupinho de meninotes se alvoroçou quando viu uma cidadã tão magra e decrépita quanto Amy Winehouse.
Os homens também não ficam atrás. Tinha um (insuportável, por sinal) copiando o estilo Peter Doherty, sem ter a mínima idéia do que é heroína e os efeitos que ela causa no seu “ídolo”. Os grupinhos se formavam em hordas histéricas, sempre pondo fofoquinhas em dia e confabulando quem iria dormir na casa de quem. Alguns tentavam se animar com um Ipod em pleno Pelô, talvez ouvindo alguma banda obscura de Teresina ou Alabama.
O mais latente era perceber que durante a semana eles não são assim. Visivelmente desengonçados mas ao mesmo tempo felizes como porcos na lama, eles se fantasiam para ir à festa, numa maneira quase que circense de se auto-afirmar através do som e da moda. Tirando uma banda baiana, as outras duas (ótimas, por sinal) emulavam um estilo completamente fora dos nossos padrões, o que é ótimo se você souber filtrar e se comportar como você mesmo. Mas não. Os indiezinhos estavam mais preocupados com o cabelo ou a bolsa da moda.
Não faltaram all stars multi-coloridos, presilhas de cabelo modernosas, bolsas pop art, calças xadrez, cabelos estilosos e muita histeria em torno dos nomes indies. Eu era um perdido e me sentia como tal. Na fila, sozinho, olhava para os lados à procura de um semelhante. Avistei apenas uma senhora, igualmente perdida e acompanhando seu filho (com típicos adornos indie, como óculos de aro grosso e camisa xadrez apertada), que trazia inteligentemente uma cadeira armável. Armou numa esquina e passou a apreciar a fila, ao mesmo tempo em que batia um papo amigável com dois policiais. Eu devia ter feito o mesmo...
Pior é que tentei ser indie. Ingenuidade minha achando que me misturaria á horda apenas empunhando meu all star standart preto. Eu era o mais démodé. Os indies soteropolitanos me olhavam indiferentes, me taxando de “loser”, como se eles fossem os queridinhos do colégio. Porra, tudo cambada de babaca que toma porrada de pagodeiro na escola. É, porque ali, naquele show, 70% eram de meninos espinhosos recém-saídos do segundo grau e se achando os donos do mundo por prestar vestibular para Sociologia na UFBA.
Ainda na fila, já de saco cheio, avistei cerca de 10 homens de preto descendo a ladeira. Quando se aproximaram, percebi que faziam parte da galera “old school” do rock baiano, os famosos metaleiros. Achei estranho, mas logo entendi quando eles passaram furiosos pelo meio da fila, provocando medo e descontentamento de alguns indies, e seguiram em frente, descendo outra ladeira. Soube que ali perto haveria também um show de Death Metal. Um deles, calçando coturno, vestindo camisa de banda e desfilando com longos cabelos ao vento, falou com ar de desdém logo após cruzar a fila: “Um monte de fã do Los Hermanos”. Na mosca.
P.S.: os shows foram do Móveis Coloniais Acaju, Vanguart e Cascadura.
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sexta-feira, 21 de novembro de 2008
O bom-mocismo do verão
Não me espanta mais o bom-mocismo do verão. Baiano que é baiano fica mais legal, mais interessante e mais aberto à felicidade no verão. Estação do sol de rachar e do sexo pairando pelo ar, quem mais se dá bem por aqui são os turistas.
Tenho lá minhas restrições aos turistas em Salvador. Ninguém me convence que eles vêm para cá pra passear pelo Pelourinho, tomar água de coco na Lagoa do Abaeté ou apreciar a mistura de raças do carnaval. Não. Os gringos diriam: “bullshit” para tudo isso. Eles querem é foder. O turismo daqui, e acredito que em grande parte do Nordeste, é eminentemente sexual, muito com a anuência de nós baianos. Somos os bons moços do sexo alheio; somos o arroz, aquele que só serve para acompanhar. Ou Queiroz, o famoso “traz mulher pra nós”.
Nossa conduta de dezembro a fevereiro é completamente diferente da conduta do resto do ano. Aceitamos pacificamente qualquer estrangeiro de “binga branca cheia de pele” (juro que já ouvi isso) que venha atrás das nossas vaginas negrinhas (e aí não vai nenhum tipo de preconceito, é bom que se diga). É normal. Todos estamos acostumados, e se você tentar fugir um pouco dessa linha de procedimento, é logo taxado de chato e mal educado. É como se os gringos tivessem que ser mais bem tratados que nós mesmos, que vivemos aqui o ano todo sofrendo todas as agruras de ser o que somos.
Turista é ótimo porque ativa a economia e não aprovo nenhum tipo de xenofobia, mas aqui em Salvador nós somos os otários da balança. Vestimos uma roupa de mito do bom-moço que não nos pertence. Não, baiano não é hospitaleiro. Não, baiano não é bem educado. Na realidade do dia a dia, somos mal educados, chatos, encrenqueiros e arrogantes. Não ajudamos ninguém, não pensamos num futuro melhor nem muito menos lutamos pelo bem da nossa própria cidade.
Mesmo assim não fique triste, caro morador de outra localidade que não a Bahia. Não há melhor lugar no mundo para se ser turista do que Salvador. Não mesmo.
Tenho lá minhas restrições aos turistas em Salvador. Ninguém me convence que eles vêm para cá pra passear pelo Pelourinho, tomar água de coco na Lagoa do Abaeté ou apreciar a mistura de raças do carnaval. Não. Os gringos diriam: “bullshit” para tudo isso. Eles querem é foder. O turismo daqui, e acredito que em grande parte do Nordeste, é eminentemente sexual, muito com a anuência de nós baianos. Somos os bons moços do sexo alheio; somos o arroz, aquele que só serve para acompanhar. Ou Queiroz, o famoso “traz mulher pra nós”.
Nossa conduta de dezembro a fevereiro é completamente diferente da conduta do resto do ano. Aceitamos pacificamente qualquer estrangeiro de “binga branca cheia de pele” (juro que já ouvi isso) que venha atrás das nossas vaginas negrinhas (e aí não vai nenhum tipo de preconceito, é bom que se diga). É normal. Todos estamos acostumados, e se você tentar fugir um pouco dessa linha de procedimento, é logo taxado de chato e mal educado. É como se os gringos tivessem que ser mais bem tratados que nós mesmos, que vivemos aqui o ano todo sofrendo todas as agruras de ser o que somos.
Turista é ótimo porque ativa a economia e não aprovo nenhum tipo de xenofobia, mas aqui em Salvador nós somos os otários da balança. Vestimos uma roupa de mito do bom-moço que não nos pertence. Não, baiano não é hospitaleiro. Não, baiano não é bem educado. Na realidade do dia a dia, somos mal educados, chatos, encrenqueiros e arrogantes. Não ajudamos ninguém, não pensamos num futuro melhor nem muito menos lutamos pelo bem da nossa própria cidade.
Mesmo assim não fique triste, caro morador de outra localidade que não a Bahia. Não há melhor lugar no mundo para se ser turista do que Salvador. Não mesmo.
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quarta-feira, 19 de novembro de 2008
Top 10 - Tira-gostos
Só alguns esclarecimentos. Eu quis nesse top 10 colocar o máximo possível de tira-gostos mais consumidos na Bahia, mas também aliar às iguarias típicas. Imagino que tenha faltado alguma coisa. Aliás, a polêmica é serventia da casa.
O campeão das mesas de bares de Salvador e toda Bahia. O escondidinho pode ser de várias coisas: carne de fumeiro, carne do sol, camarão, calabresa, avestruz, etc. Porém, o que dá a liga mesmo é o pirão de aipim que, se bem feito, é algo sensacional. Acrescente pimenta e tenha na boca o melhor tira-gosto baiano. Se você é de fora, em qualquer bar você encontra o prato.
2 - Acarajé no prato
Acarajé todo mundo conhece, mas só aqui na terrinha é que comemos o quitute cortado no prato. É mais comum nas barracas de praia, maior diversão do soteropolitano, mas também é saboreado em outros pontos da cidade. É democrático: num mesmo prato vem acarajé, abará, vatapá, salada, caruru e pimenta e todo mundo come ali mesmo.
3 - Caldos
Um caso à parte na culinária botequística da Bahia. Aqui você encontra todo tipo de caldo imaginável: de camarão à siririca. Isso mesmo. Caldo de siririca é apenas uma das muitas invenções dos nossos cozinheiros, que ainda preparam caldos levanta-defunto, como feijão, pinto (!), sururu, etc. É ótimo para curar ressaca ou preparar para uma boa bebedeira.
4 - Aipim frito
Uma boa combinação é aipim frito com bem sal e queijo ralado. Se pensam em batata frita, enganam-se, porque na Bahia o aipim frito é muito melhor.
5 - Pititinga com molho tártaro
Essa iguaria, pequeno peixe de água salgada, aguça os paladares só de falar. É comum em botecos e biroscas, como o famoso Mercado do Peixe, o buraco que nunca fecha em Salvador. A pititinga frita e crocante combina perfeitamente com o molho tártaro. Ah, e não é caro.
6 - Casquinha de Siri
É tão gostoso que virou até nome de estabelecimento de vadiagem baiana. O siri vem catado e bem suculento e basta acrescentar limão e pimenta para ter um manjar dos deuses.
7 - Moela
Essa é para os fortes de espírito e de estômago. Moela é parte do sistema digestivo de aves e aposto que você vai saborear com gosto. Acompanha farofa, arroz e muita, muita pimenta. É um dos melhores acompanhamentos para a cerveja.
8 - Arrumadinho
Delícia à base de carne do sol, é um prato legal porque basta ele pra encher a barriga. Arrumadinho é de uma consistência incrível, fruto de um balanceamento perfeito de carne do sol, vinagrete, feijão fradinho e farofa. Junte tudo e bom apetite.
9 - Queijo coalho
Incrível como isso faz sucesso, e não só na praia, onde é mais comum. Pra fazer é tão simples, que basta um fogaréu de carvão e o queijo trepidando de gostoso. Para acompanhar, é só acrescentar melaço de cana e, em alguns casos, orégano. Delícia!
10 - Passarinha
Também um clássico para acompanhar a cerveja gelada. É mais comum em botecos sujos do centro, mas também pode ser encontrado em bancas de acarajé. Se você é nojento(a), nem pense em experimentar: passarinha é o baço do boi.
Top 10 - Os melhores tira-gostos da Bahia
O campeão das mesas de bares de Salvador e toda Bahia. O escondidinho pode ser de várias coisas: carne de fumeiro, carne do sol, camarão, calabresa, avestruz, etc. Porém, o que dá a liga mesmo é o pirão de aipim que, se bem feito, é algo sensacional. Acrescente pimenta e tenha na boca o melhor tira-gosto baiano. Se você é de fora, em qualquer bar você encontra o prato.
2 - Acarajé no prato
Acarajé todo mundo conhece, mas só aqui na terrinha é que comemos o quitute cortado no prato. É mais comum nas barracas de praia, maior diversão do soteropolitano, mas também é saboreado em outros pontos da cidade. É democrático: num mesmo prato vem acarajé, abará, vatapá, salada, caruru e pimenta e todo mundo come ali mesmo.
3 - Caldos
Um caso à parte na culinária botequística da Bahia. Aqui você encontra todo tipo de caldo imaginável: de camarão à siririca. Isso mesmo. Caldo de siririca é apenas uma das muitas invenções dos nossos cozinheiros, que ainda preparam caldos levanta-defunto, como feijão, pinto (!), sururu, etc. É ótimo para curar ressaca ou preparar para uma boa bebedeira.
4 - Aipim frito
Uma boa combinação é aipim frito com bem sal e queijo ralado. Se pensam em batata frita, enganam-se, porque na Bahia o aipim frito é muito melhor.
5 - Pititinga com molho tártaro
Essa iguaria, pequeno peixe de água salgada, aguça os paladares só de falar. É comum em botecos e biroscas, como o famoso Mercado do Peixe, o buraco que nunca fecha em Salvador. A pititinga frita e crocante combina perfeitamente com o molho tártaro. Ah, e não é caro.
6 - Casquinha de Siri
É tão gostoso que virou até nome de estabelecimento de vadiagem baiana. O siri vem catado e bem suculento e basta acrescentar limão e pimenta para ter um manjar dos deuses.
7 - Moela
Essa é para os fortes de espírito e de estômago. Moela é parte do sistema digestivo de aves e aposto que você vai saborear com gosto. Acompanha farofa, arroz e muita, muita pimenta. É um dos melhores acompanhamentos para a cerveja.
8 - Arrumadinho
Delícia à base de carne do sol, é um prato legal porque basta ele pra encher a barriga. Arrumadinho é de uma consistência incrível, fruto de um balanceamento perfeito de carne do sol, vinagrete, feijão fradinho e farofa. Junte tudo e bom apetite.
9 - Queijo coalho
Incrível como isso faz sucesso, e não só na praia, onde é mais comum. Pra fazer é tão simples, que basta um fogaréu de carvão e o queijo trepidando de gostoso. Para acompanhar, é só acrescentar melaço de cana e, em alguns casos, orégano. Delícia!
10 - Passarinha
Também um clássico para acompanhar a cerveja gelada. É mais comum em botecos sujos do centro, mas também pode ser encontrado em bancas de acarajé. Se você é nojento(a), nem pense em experimentar: passarinha é o baço do boi.
segunda-feira, 17 de novembro de 2008
Carnaval 2009
“Pense num absurdo. Na Bahia tem precedente”. Essa frase, dita há cerca de 50 anos, é meio que um epíteto do nosso Estado. Afora minhas histórias doentias e sujas (acredite, em muitos casos é a pura realidade), os precedentes absurdos existem aos borbotões. E polêmicas também. Para 2009, a prefeitura de Salvador gerou discussões acaloradas até na escolha do tema do carnaval. Imagine só.
Aliás, escolha essa completamente sem importância para a engrenagem da festa, que provavelmente ninguém mais iria se lembrar. Mas preste atenção no quadro. Todo ano a prefeitura escolhe um tema para ser homenageado, o que na prática só serve para pautar a decoração da cidade e uma ou outra matéria nos jornais. No mais, ninguém sabe quem é o homenageado.
Pois esse ano a prefeitura queria reverenciar Dorival Caymmi, mas decidiu tudo sem consultar a família do velho Dori. Depois de tudo anunciado, a imprensa foi repercutir com os filhos e... Epa! Ninguém sabia. A discussão então volta à pauta da organização da festa, que começa a pensar em homenagear Carmen Miranda, que, por sua vez, não teve a imagem liberada pela sobrinha. Numa semana, o impasse e a sucessão de informações desencontradas estavam instalados na cidade.
Um assunto irrelevante passou, então, a ter uma repercussão muito maior do que deveria. A incapacidade de resolver um problema simples e pouco importante só nos leva a crer que outras questões muito mais relevantes terão o mesmo caminho: a confusão. Quer dizer, todos já sabemos disso, mas esse seria um tema para outro post.
Por outro lado, se é para homenagear uma figura pública, proeminente e importante culturalmente, porque há a necessidade de uma autorização meramente burocrática? Ganância familiar? Muito melhor então foi a, enfim, escolha da prefeitura: homenagear os afoxés e os 60 anos do bloco afro Os Filhos de Gandy.
Aliás, escolha essa completamente sem importância para a engrenagem da festa, que provavelmente ninguém mais iria se lembrar. Mas preste atenção no quadro. Todo ano a prefeitura escolhe um tema para ser homenageado, o que na prática só serve para pautar a decoração da cidade e uma ou outra matéria nos jornais. No mais, ninguém sabe quem é o homenageado.
Pois esse ano a prefeitura queria reverenciar Dorival Caymmi, mas decidiu tudo sem consultar a família do velho Dori. Depois de tudo anunciado, a imprensa foi repercutir com os filhos e... Epa! Ninguém sabia. A discussão então volta à pauta da organização da festa, que começa a pensar em homenagear Carmen Miranda, que, por sua vez, não teve a imagem liberada pela sobrinha. Numa semana, o impasse e a sucessão de informações desencontradas estavam instalados na cidade.
Um assunto irrelevante passou, então, a ter uma repercussão muito maior do que deveria. A incapacidade de resolver um problema simples e pouco importante só nos leva a crer que outras questões muito mais relevantes terão o mesmo caminho: a confusão. Quer dizer, todos já sabemos disso, mas esse seria um tema para outro post.
Por outro lado, se é para homenagear uma figura pública, proeminente e importante culturalmente, porque há a necessidade de uma autorização meramente burocrática? Ganância familiar? Muito melhor então foi a, enfim, escolha da prefeitura: homenagear os afoxés e os 60 anos do bloco afro Os Filhos de Gandy.
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quinta-feira, 13 de novembro de 2008
O Encantador de Feridas
Josué acordou assustado. Igual àquele sonho ele nunca viu, ou melhor, nunca ouviu falar. Já há duas semanas que se repetia a mesma história na mente doce do rapaz: um avião sobrevoava Salvador e jogava bombas em locais estratégicos, como o Palácio do Governo, o Teatro Castro Alves e o Pelourinho. Ele assistia a tudo, mas não era atingido por nada, só se assustava e invariavelmente acordava quando Márcia vinha descendo a Bonocô andando de skate e com gases e soro fisiológico nas mãos.
A imagem de Márcia andando de skate era dantesca. Enquanto preparava o café, Josué se arrepiou só em pensar naquela gorda cheia de varises subindo num frágil pedaço de madeira acrescido de rodas minúsculas. Isso lhe assustava, e não as gases e o soro, pois ele associava logo a sua profissão. Josué era auxiliar de enfermagem.
No Hospital Geral do Estado, o rapaz, 25 anos, recém-formado na turma de curso técnico, cuidava do setor chamado “geralzão”, aquele povo que ninguém sabe bem como classificar e joga de qualquer forma. Josué, assíduo e perspicaz, procurava aprender tudo da melhor maneira possível para não errar, mesmo que estivesse cuidando de um bandido ferido. Ética acima de tudo, pensava o garoto. E não poupava esforços. Como aquele era o setor mais nojento e decrépito do Hospital, os novatos eram mandados diretamente para lá. Era comum pessoas morrerem de gangrena e infecção generalizada, mas paciente de Josué não.
O maior orgulho dele era cuidar de feridas. Certa vez Josué viu um filme chamado “A Encantadora de Baleias” e achou belíssimo, chegou a chorar enquanto sugava um refrigerante sem gás. Resolveu então adotar esse apelido para ele mesmo, só mudando o destino do encanto. As feridas eram muito bem cuidadas. Ele lavava, esterilizava e fazia todo o asseio da melhor forma possível.
E Josué era feio. Não que isso interferisse na sua brilhante carreira de cuidador de feridas, mas ele chamava atenção ao avesso. Até por isso Márcia, a gorda varizenta, dava em cima dele descaradamente. E Sinéia também, essa com 1m80 de altura, mas que não podia doar sangue de tão magra.
A bonita do pedaço era Maria Edelzina de Jesus dos Santos, assim mesmo pomposo e grande, do jeito que Josué gostava de ouvir um nome. Religiosa no nome, mas safada no meio médico local. Ela era também auxiliar, mas, diziam as más línguas do Hospital, ia para cama com muitos médicos e até pacientes. Quem não tinha tesão por ela? Josué, do alto de sua feiúra, banhava-se no próprio suor todo dia se masturbando no vestiário masculino. Uma vez roubou a calcinha dela de dentro do armário. A facilidade foi tão grande e o cheiro tão excitante, que o rapaz pensou em algo brilhante e fatal.
Era uma sexta-feira. Josué saía às 21h, mesmo horário de Maria. Ela pegava ônibus do outro lado da Av. Ogunjá, mas antes que lá chegasse precisava subir uma rua deserta. Ele foi até lá, escondeu-se e, com um ralador de cebola, ralou a mulher toda. Antes, claro, deu éter para Maria cheirar. Não viu nada.
Josué não se fez de rogado e ainda saiu como herói. Levou a bela mulher às pressas para o próprio Hospital para o pronto atendimento. Maria era uma pena de se ver: toda retalhada, dos braços ao rosto, ela mal era reconhecida pelos parentes. Josué olhava de longe e ninguém desconfiava do que realmente tinha acontecido. A polícia chegou a ser acionada, mas nada encontrou.
Os dias seguintes foram os mais felizes para Josué. Daquele dia em diante ele passou a pegar o turno da madrugada no setor “geralzão”. Felicidade era pouco, pois todo dia ele transava com ela, mesmo desacordada. Quando Maria dormia, Josué vinha com anestésico e aplicava na mulher, virava ela de costas e não perdoava a (pretensa) virgindade anal dela. Os outros pacientes nada desconfiavam, pois dormiam os sonhos dos justos em seus leitos.
Numa bela sexta-feira, às 6h, Josué voltava tranquilamente para casa, em Cajazeiras. A bunda volumosa de Maria ainda permeava seus pensamentos, quando ele viu seu ônibus e levantou o braço, chamando o coletivo. Não deu tempo de entrar. Uma bicicleta doida veio de longe e acertou em cheio suas pernas, jogando-o para debaixo do ônibus, que já arrancava. A cena foi degradante.
Josué perdeu o braço e o bom sexo de todas as madrugadas. Mas ganhou uma realidade já conhecida. Todo dia quem vinha fazer o curativo era Márcia, gorda, com varises e muitas gases e soro fisiológico na mão. Nos novos sonhos, Josué traçava Márcia de quatro para todo o Hospital ver.
A imagem de Márcia andando de skate era dantesca. Enquanto preparava o café, Josué se arrepiou só em pensar naquela gorda cheia de varises subindo num frágil pedaço de madeira acrescido de rodas minúsculas. Isso lhe assustava, e não as gases e o soro, pois ele associava logo a sua profissão. Josué era auxiliar de enfermagem.
No Hospital Geral do Estado, o rapaz, 25 anos, recém-formado na turma de curso técnico, cuidava do setor chamado “geralzão”, aquele povo que ninguém sabe bem como classificar e joga de qualquer forma. Josué, assíduo e perspicaz, procurava aprender tudo da melhor maneira possível para não errar, mesmo que estivesse cuidando de um bandido ferido. Ética acima de tudo, pensava o garoto. E não poupava esforços. Como aquele era o setor mais nojento e decrépito do Hospital, os novatos eram mandados diretamente para lá. Era comum pessoas morrerem de gangrena e infecção generalizada, mas paciente de Josué não.
O maior orgulho dele era cuidar de feridas. Certa vez Josué viu um filme chamado “A Encantadora de Baleias” e achou belíssimo, chegou a chorar enquanto sugava um refrigerante sem gás. Resolveu então adotar esse apelido para ele mesmo, só mudando o destino do encanto. As feridas eram muito bem cuidadas. Ele lavava, esterilizava e fazia todo o asseio da melhor forma possível.
E Josué era feio. Não que isso interferisse na sua brilhante carreira de cuidador de feridas, mas ele chamava atenção ao avesso. Até por isso Márcia, a gorda varizenta, dava em cima dele descaradamente. E Sinéia também, essa com 1m80 de altura, mas que não podia doar sangue de tão magra.
A bonita do pedaço era Maria Edelzina de Jesus dos Santos, assim mesmo pomposo e grande, do jeito que Josué gostava de ouvir um nome. Religiosa no nome, mas safada no meio médico local. Ela era também auxiliar, mas, diziam as más línguas do Hospital, ia para cama com muitos médicos e até pacientes. Quem não tinha tesão por ela? Josué, do alto de sua feiúra, banhava-se no próprio suor todo dia se masturbando no vestiário masculino. Uma vez roubou a calcinha dela de dentro do armário. A facilidade foi tão grande e o cheiro tão excitante, que o rapaz pensou em algo brilhante e fatal.
Era uma sexta-feira. Josué saía às 21h, mesmo horário de Maria. Ela pegava ônibus do outro lado da Av. Ogunjá, mas antes que lá chegasse precisava subir uma rua deserta. Ele foi até lá, escondeu-se e, com um ralador de cebola, ralou a mulher toda. Antes, claro, deu éter para Maria cheirar. Não viu nada.
Josué não se fez de rogado e ainda saiu como herói. Levou a bela mulher às pressas para o próprio Hospital para o pronto atendimento. Maria era uma pena de se ver: toda retalhada, dos braços ao rosto, ela mal era reconhecida pelos parentes. Josué olhava de longe e ninguém desconfiava do que realmente tinha acontecido. A polícia chegou a ser acionada, mas nada encontrou.
Os dias seguintes foram os mais felizes para Josué. Daquele dia em diante ele passou a pegar o turno da madrugada no setor “geralzão”. Felicidade era pouco, pois todo dia ele transava com ela, mesmo desacordada. Quando Maria dormia, Josué vinha com anestésico e aplicava na mulher, virava ela de costas e não perdoava a (pretensa) virgindade anal dela. Os outros pacientes nada desconfiavam, pois dormiam os sonhos dos justos em seus leitos.
Numa bela sexta-feira, às 6h, Josué voltava tranquilamente para casa, em Cajazeiras. A bunda volumosa de Maria ainda permeava seus pensamentos, quando ele viu seu ônibus e levantou o braço, chamando o coletivo. Não deu tempo de entrar. Uma bicicleta doida veio de longe e acertou em cheio suas pernas, jogando-o para debaixo do ônibus, que já arrancava. A cena foi degradante.
Josué perdeu o braço e o bom sexo de todas as madrugadas. Mas ganhou uma realidade já conhecida. Todo dia quem vinha fazer o curativo era Márcia, gorda, com varises e muitas gases e soro fisiológico na mão. Nos novos sonhos, Josué traçava Márcia de quatro para todo o Hospital ver.
segunda-feira, 10 de novembro de 2008
Diálogoso do Cotidiano - Obama nas alturas
- Seu Jonas... Aqui sua revista. "Veja", né?
- Ela mesmo, Bahia
- Bahia não, Seu Jonas, eu sou Vitória, porra. Tá me estranhando é?
- Eu tô ligado que você é tricolor. Aliás, todo mundo é tricolor, até ele, Barak... Aqui ó, na capa da revista. Usando gravata azul, vermelha e branca.
- Bara o quê?
- Barak Obama, novo presidente dos EUA. Essa TV velha da portaria não tá funcionando não?
- Funcionar funciona, mas eu não sei nada desse tal "sarak osama".
- É Barak Obama.
- Engraçado, Seu Jonas... Ele é negão, né? Igual a eu e tem esse nome aí de terrorista...
- Ele é negão e vai ser um grande presidente, Bahia. Fique tranquilo que o futuro da humanidade está a salvo
- E já dá pra saber que o homem é tudo isso é?
- Dá sim. Ele tem ótimas idéias, vem de origem humilde, é negro, inteligente...
- Parece comigo esse cabra
- Bem que podia ser mesmo.
- Venha cá, Seu Jonas. Só uma perguntinha... Esse tal Barak aí não é a mesma coisa de Lula? Vem de origem humilde, é nordestino, encanador e o povo botava tanta esperança nele...
- Obama é diferente, Bahia.
- Mesmo assim de longe você tem tanta certeza?
- É a globalização, Bahia. A globalização deixa tudo mais perto.
- Sei não. Cajazeira continua longe daqui.
- Né bem assim não. Outro dia eu te explico. Mas se alguém te perguntar se esse Obama é bom, você diz que pelo menos melhor que Bush ele é.
- Seu Jonas, a única buxa que eu conheço é a do dominó. E essa é boa que é danada.
- Ela mesmo, Bahia
- Bahia não, Seu Jonas, eu sou Vitória, porra. Tá me estranhando é?
- Eu tô ligado que você é tricolor. Aliás, todo mundo é tricolor, até ele, Barak... Aqui ó, na capa da revista. Usando gravata azul, vermelha e branca.
- Bara o quê?
- Barak Obama, novo presidente dos EUA. Essa TV velha da portaria não tá funcionando não?
- Funcionar funciona, mas eu não sei nada desse tal "sarak osama".
- É Barak Obama.
- Engraçado, Seu Jonas... Ele é negão, né? Igual a eu e tem esse nome aí de terrorista...
- Ele é negão e vai ser um grande presidente, Bahia. Fique tranquilo que o futuro da humanidade está a salvo
- E já dá pra saber que o homem é tudo isso é?
- Dá sim. Ele tem ótimas idéias, vem de origem humilde, é negro, inteligente...
- Parece comigo esse cabra
- Bem que podia ser mesmo.
- Venha cá, Seu Jonas. Só uma perguntinha... Esse tal Barak aí não é a mesma coisa de Lula? Vem de origem humilde, é nordestino, encanador e o povo botava tanta esperança nele...
- Obama é diferente, Bahia.
- Mesmo assim de longe você tem tanta certeza?
- É a globalização, Bahia. A globalização deixa tudo mais perto.
- Sei não. Cajazeira continua longe daqui.
- Né bem assim não. Outro dia eu te explico. Mas se alguém te perguntar se esse Obama é bom, você diz que pelo menos melhor que Bush ele é.
- Seu Jonas, a única buxa que eu conheço é a do dominó. E essa é boa que é danada.
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sexta-feira, 7 de novembro de 2008
Crônica de uma noite errante
Vinha andando pelo Corredor da Vitória com as mãos abanando e o coração apertado. O passo torto e o nariz coçando talvez indicassem uma carreira de pó cheirada minutos atrás. Cristina era tímida demais para chamar alguém para lhe acompanhar naquela sessão cult de cinema.
O filme já era um fator de espantar amigos: rodado na china comunista, sob um olhar Polonês e com atores galeses. E era quase um pornô, não fossem as críticas positivas dos intelectualóides de plantão. Na sessão, apenas mais dois casais gays e só ela perdida na imensidão de uma cadeira escondida no canto da sala.
Na mente, ela mal conseguia organizar as idéias e nem percebeu quando um dos homens voou por cima do outro, realizando uma posição sexual tão inovadora que era preciso virar de ponta-cabeça para entendê-la. Pobre Cristina, que à essa altura tinha a calcinha molhada de tesão não pelo filme, mas pelos homens se pegando. Mesmo assim, achou aquilo tudo muito sujo e saiu da sala aos prantos.
Estava sozinha, com a bolsa a tiracolo e o olhar perdido na avenida grande à sua frente. Perambulou mais uns minutos rumo à Praça do Campo Grande. Era uma tarde, quase noite, típica de um domingo perdido no meio do ano. Olhou as flores, mas não se encantou por nada. Pensou em ir ao Teatro Castro Alves, mas decidiu ficar por ali mesmo, sentada chupando um sorvete de coco. Derreteu todo em sua mão, porque a garota não conseguia esconder sua frustração com a vida e com aquele pobre cachorro que olhava pra ela à espera de alguma migalha: “que maldita vida é essa que reserva uma alma a um cachorro sarnento pedindo uma gota de sorvete?”.
Padeceu diante das luzes dos carros, e mais uma vez andou em direção contrária a seus próprios pensamentos. Topou num bar de esquina, já quase virando a Avenida Sete. Sentou, acendeu um cigarro esmigalhado e pôs-se a beber em goles homeopáticos a cerveja que vinha sem gosto. Puxou, então, de dentro de sua bolsa uma carta amarelada, talvez pelo tempo, talvez por outra coisa qualquer. Limpou o rosto e olhou para os lados, como quem esconde algo, e abriu a carta. Fechou imediatamente, pois um mendigo sujo roubou sua bolsa e saiu correndo. Nem teve tempo de nada.
O mendigo foi derrubado com um golpe certeiro com a perna, dada por um cidadão não menos suspeito ali mesmo em frente ao bar. Cristina somente olhou de soslaio e nem esboçou um obrigado ao rapaz. Pagou a conta e se foi.
Cruzou a rua e parou defronte à Casa D´Itália. Fitou durante exatos 5 minutos um cartaz de uma mostra de esculturas australianas. Pensou mil vezes tentando entender como uma casa de cultura italiana podia servir de lar para uma exposição de outro continente. Olhou para os lados novamente e entrou. Lá dentro encontrou uma mesa. Estendeu o cartão de crédito e soltou o pó todo em cima. Mais uma carreira.
Foi o suficiente para mais uma caminhada sem rumo, mas apressou-se quando viu atrás de si duas mulheres cochichando. Correu, de verdade. Adentrou o Hotel da Bahia como um raio e fugiu pelas escadas. Chorou novamente entre o segundo e o terceiro andar, mas foi interrompida pelo toque do celular. Balbuciou qualquer coisa e subiu a seu quarto.
Lá fora, em frente ao hotel, centenas de pessoas já se aglomeravam procurando por Cristina. A famosa cantora americana, ninguém sabia, chorava abraçada a uma carta.
O filme já era um fator de espantar amigos: rodado na china comunista, sob um olhar Polonês e com atores galeses. E era quase um pornô, não fossem as críticas positivas dos intelectualóides de plantão. Na sessão, apenas mais dois casais gays e só ela perdida na imensidão de uma cadeira escondida no canto da sala.
Na mente, ela mal conseguia organizar as idéias e nem percebeu quando um dos homens voou por cima do outro, realizando uma posição sexual tão inovadora que era preciso virar de ponta-cabeça para entendê-la. Pobre Cristina, que à essa altura tinha a calcinha molhada de tesão não pelo filme, mas pelos homens se pegando. Mesmo assim, achou aquilo tudo muito sujo e saiu da sala aos prantos.
Estava sozinha, com a bolsa a tiracolo e o olhar perdido na avenida grande à sua frente. Perambulou mais uns minutos rumo à Praça do Campo Grande. Era uma tarde, quase noite, típica de um domingo perdido no meio do ano. Olhou as flores, mas não se encantou por nada. Pensou em ir ao Teatro Castro Alves, mas decidiu ficar por ali mesmo, sentada chupando um sorvete de coco. Derreteu todo em sua mão, porque a garota não conseguia esconder sua frustração com a vida e com aquele pobre cachorro que olhava pra ela à espera de alguma migalha: “que maldita vida é essa que reserva uma alma a um cachorro sarnento pedindo uma gota de sorvete?”.
Padeceu diante das luzes dos carros, e mais uma vez andou em direção contrária a seus próprios pensamentos. Topou num bar de esquina, já quase virando a Avenida Sete. Sentou, acendeu um cigarro esmigalhado e pôs-se a beber em goles homeopáticos a cerveja que vinha sem gosto. Puxou, então, de dentro de sua bolsa uma carta amarelada, talvez pelo tempo, talvez por outra coisa qualquer. Limpou o rosto e olhou para os lados, como quem esconde algo, e abriu a carta. Fechou imediatamente, pois um mendigo sujo roubou sua bolsa e saiu correndo. Nem teve tempo de nada.
O mendigo foi derrubado com um golpe certeiro com a perna, dada por um cidadão não menos suspeito ali mesmo em frente ao bar. Cristina somente olhou de soslaio e nem esboçou um obrigado ao rapaz. Pagou a conta e se foi.
Cruzou a rua e parou defronte à Casa D´Itália. Fitou durante exatos 5 minutos um cartaz de uma mostra de esculturas australianas. Pensou mil vezes tentando entender como uma casa de cultura italiana podia servir de lar para uma exposição de outro continente. Olhou para os lados novamente e entrou. Lá dentro encontrou uma mesa. Estendeu o cartão de crédito e soltou o pó todo em cima. Mais uma carreira.
Foi o suficiente para mais uma caminhada sem rumo, mas apressou-se quando viu atrás de si duas mulheres cochichando. Correu, de verdade. Adentrou o Hotel da Bahia como um raio e fugiu pelas escadas. Chorou novamente entre o segundo e o terceiro andar, mas foi interrompida pelo toque do celular. Balbuciou qualquer coisa e subiu a seu quarto.
Lá fora, em frente ao hotel, centenas de pessoas já se aglomeravam procurando por Cristina. A famosa cantora americana, ninguém sabia, chorava abraçada a uma carta.
terça-feira, 4 de novembro de 2008
Festa de Baiano
Num âmbito tradicional e cotidiano, a típica festa de baiano se repete praticamente igual em qualquer lugar da cidade e do Estado. Para quem não é daqui, é capaz de não saber, mas o baiano adora festejar qualquer coisa, desde aniversário, até formatura de high school e ovações a santos e orixás. E, par a isso, gosta mais ainda de economizar nos comes e bebes.
A hospitalidade é conhecida nacionalmente, mas não confunda isso com “mão aberta”. Baiano é o cidadão mais miserável que existe quando o assunto é dinheiro. Numa festa não é diferente. Tirando os típicos salgadinhos e doces ao estilo buffet, o típico festejo da Bahia é regado a Caruru, Feijoada ou qualquer outra comida que se faça numa panela de meio metro e que dê pra meia cidade. É, porque nesse tipo de comida é barato e todo mundo come. Óbvio, precisa nem dizer, que todo mundo gosta e sai falando bem.
O principal prato, no entanto, é mesmo o caruru. Eu já falei aqui rapidamente, certa feita, sobre o Caruru, essa iguaria típica daqui e que arrebata corações. O baiano adora porque, primeiro é com dendê (e tudo com dendê é saboroso) e segundo porque não é preciso muito dinheiro para fazer. Qualquer feira de esquina tem quiabo barato, mas tem que saber escolher. Cozinhar é difícil, mas com o tempo pega-se a prática e, além disso, toda família baiana razoavelmente grande tem uma secretária do lar (empregada, porra!) de longa data que sabe fazer tudo na cozinha, principalmente comida típica. Para acompanhar, tem de tudo: arroz, acarajé, vatapá, farofa de dendê, feijão fradinho, rapadura, xinxim de galinha, banana frita e muito mais.
Mas o Caruru não é simples assim quando falamos da sociabilidade. Numa festa de baiano, é comum chamar todo mundo que se conhece para dar um quorum legal e todo mundo sair falando bem, outro ponto importante do nascido na Bahia: gosta que falem bem da comida dele. No caso da iguaria de quiabo, existem várias “desculpas” para se fazer. O mais famoso é o Caruru de 7 meninos, em que faz-se o prato 7 meninos comerem. É uma tradição típica da Bahia, já que une santos católicos e orixá do candomblé. O dia é 27 de setembro e nem só crianças comem, pois é extremamente comum nesse dia famílias fazerem Caruru em homenagem aos santos gêmeos ou ao orixá ou aos dois. E todo mundo come.
Mas também existem outros Carurus famosos, como o de Santa Bárbara, mas também se pode oferecer a iguaria a qualquer coisa, como falei anteriormente: de formatura a um simples aniversário. Tem também o Caruru da Semana Santa, uma bela de uma contradição católica que só poderia ser vista aqui na terrinha, pois a comida é de candomblé e ingerida numa festa (uma das maiores) católica – é assim muito pelo fato de que num determinado dia da Semana Santa, como todos sabem, não se come carne. O Caruru faz companhia à moqueca de qualquer coisa que se faz nesse dia.
Outras comidas típicas oferecidas em qualquer festa de baiano: maniçoba (uma das comidas mais difíceis de fazer), feijoada, cozido, dobradinha e sarapatel.
A hospitalidade é conhecida nacionalmente, mas não confunda isso com “mão aberta”. Baiano é o cidadão mais miserável que existe quando o assunto é dinheiro. Numa festa não é diferente. Tirando os típicos salgadinhos e doces ao estilo buffet, o típico festejo da Bahia é regado a Caruru, Feijoada ou qualquer outra comida que se faça numa panela de meio metro e que dê pra meia cidade. É, porque nesse tipo de comida é barato e todo mundo come. Óbvio, precisa nem dizer, que todo mundo gosta e sai falando bem.
O principal prato, no entanto, é mesmo o caruru. Eu já falei aqui rapidamente, certa feita, sobre o Caruru, essa iguaria típica daqui e que arrebata corações. O baiano adora porque, primeiro é com dendê (e tudo com dendê é saboroso) e segundo porque não é preciso muito dinheiro para fazer. Qualquer feira de esquina tem quiabo barato, mas tem que saber escolher. Cozinhar é difícil, mas com o tempo pega-se a prática e, além disso, toda família baiana razoavelmente grande tem uma secretária do lar (empregada, porra!) de longa data que sabe fazer tudo na cozinha, principalmente comida típica. Para acompanhar, tem de tudo: arroz, acarajé, vatapá, farofa de dendê, feijão fradinho, rapadura, xinxim de galinha, banana frita e muito mais.
Mas o Caruru não é simples assim quando falamos da sociabilidade. Numa festa de baiano, é comum chamar todo mundo que se conhece para dar um quorum legal e todo mundo sair falando bem, outro ponto importante do nascido na Bahia: gosta que falem bem da comida dele. No caso da iguaria de quiabo, existem várias “desculpas” para se fazer. O mais famoso é o Caruru de 7 meninos, em que faz-se o prato 7 meninos comerem. É uma tradição típica da Bahia, já que une santos católicos e orixá do candomblé. O dia é 27 de setembro e nem só crianças comem, pois é extremamente comum nesse dia famílias fazerem Caruru em homenagem aos santos gêmeos ou ao orixá ou aos dois. E todo mundo come.
Mas também existem outros Carurus famosos, como o de Santa Bárbara, mas também se pode oferecer a iguaria a qualquer coisa, como falei anteriormente: de formatura a um simples aniversário. Tem também o Caruru da Semana Santa, uma bela de uma contradição católica que só poderia ser vista aqui na terrinha, pois a comida é de candomblé e ingerida numa festa (uma das maiores) católica – é assim muito pelo fato de que num determinado dia da Semana Santa, como todos sabem, não se come carne. O Caruru faz companhia à moqueca de qualquer coisa que se faz nesse dia.
Outras comidas típicas oferecidas em qualquer festa de baiano: maniçoba (uma das comidas mais difíceis de fazer), feijoada, cozido, dobradinha e sarapatel.
sábado, 1 de novembro de 2008
Ó Paí, Ó... Quanta besteira
Se o filme Ó Pai Ó, lançado em 2007 e dirigido pela péssima Monique Gardenberg, apresentou uma história fraca e sem pé nem cabeça, agora a série, de mesmo nome e que estreou na Globo nessa sexta, resolveu apelar. E fez feio, muito feio. Com a mesma diretora liderando o projeto, o seriado teve seu primeiro episódio repetindo os mesmos erros do longa: história fraca, personagens caricatos e piadas sem graça nenhuma.
Eu realmente não sei qual é pior: se o primeiro episódio ou o filme todo, lançado há quase dois anos. Dessa vez, o projeto manteve parte dos personagens e histórias antigas, mas em momento algum consegue ganhar fôlego. De um lado temos o mesmo Roque tentando ser cantor, e do outro um punhado de personagens saídos do imaginário de pessoas que de jeito nenhum vivem a realidade de onde tentam mostrar. Aliás, o tal Roque é cantor de um estilo típico de grandes gravadoras e produtores musicais, nunca soando genuinamente baiano. Podia ser um reggae, pagode, axé, brega... Mas o que se ouviu foi um estilo asséptico e certinho demais. E as roupas dele? Visivelmente de marca e com ícones americanos, como Jimmy Hendrix, e sem nenhum diálogo com a realidade local.
Os problemas não param por aí. A temática abordada nesse episódio, “Mercado Branco”, em momento algum consegue cumprir seu papel de crítica ao falido sistema fiscal brasileiro e municipal. Por mais que tente, o roteiro só consegue tirar poucas risadas quando o tema é tratado, deixando de fora uma discussão mais ampla e centrada do problema dos impostos e do mercado informal.
Os personagens, nessa mesma linha, não convencem, principalmente para quem mora em Salvador. Alerto: esse povo do seriado não existe! A realidade é outra muito mais sofrida, violenta e sem maquiagem. Se a intenção era mostrar o povo, como alardeou diretores, atores e produtores, a missão falhou feio. Tudo é muito colorido e os personagens falam como se estivessem gingando numa roda de capoeira, sem nenhum espelho com a naturalidade do povo.
Se vocês puderem, fujam do próximo episódio. Eu ainda me pergunto como um cara talentoso como Matheus Nachtergaele se propôs a fazer aquele personagem, o Queixão. Não consigo entender, não entra na minha cabeça. Lázaro Ramos? Esse aí tem justificativa: parece que sentiu uma dívida com o Grupo de teatro que o ajudou no começo da carreira (que produziu a peça original “Ó Paí Ó”) e resolveu retribuir encabeçando o projeto. Pena que é uma furada das grandes.
Eu realmente não sei qual é pior: se o primeiro episódio ou o filme todo, lançado há quase dois anos. Dessa vez, o projeto manteve parte dos personagens e histórias antigas, mas em momento algum consegue ganhar fôlego. De um lado temos o mesmo Roque tentando ser cantor, e do outro um punhado de personagens saídos do imaginário de pessoas que de jeito nenhum vivem a realidade de onde tentam mostrar. Aliás, o tal Roque é cantor de um estilo típico de grandes gravadoras e produtores musicais, nunca soando genuinamente baiano. Podia ser um reggae, pagode, axé, brega... Mas o que se ouviu foi um estilo asséptico e certinho demais. E as roupas dele? Visivelmente de marca e com ícones americanos, como Jimmy Hendrix, e sem nenhum diálogo com a realidade local.
Os problemas não param por aí. A temática abordada nesse episódio, “Mercado Branco”, em momento algum consegue cumprir seu papel de crítica ao falido sistema fiscal brasileiro e municipal. Por mais que tente, o roteiro só consegue tirar poucas risadas quando o tema é tratado, deixando de fora uma discussão mais ampla e centrada do problema dos impostos e do mercado informal.
Os personagens, nessa mesma linha, não convencem, principalmente para quem mora em Salvador. Alerto: esse povo do seriado não existe! A realidade é outra muito mais sofrida, violenta e sem maquiagem. Se a intenção era mostrar o povo, como alardeou diretores, atores e produtores, a missão falhou feio. Tudo é muito colorido e os personagens falam como se estivessem gingando numa roda de capoeira, sem nenhum espelho com a naturalidade do povo.
Se vocês puderem, fujam do próximo episódio. Eu ainda me pergunto como um cara talentoso como Matheus Nachtergaele se propôs a fazer aquele personagem, o Queixão. Não consigo entender, não entra na minha cabeça. Lázaro Ramos? Esse aí tem justificativa: parece que sentiu uma dívida com o Grupo de teatro que o ajudou no começo da carreira (que produziu a peça original “Ó Paí Ó”) e resolveu retribuir encabeçando o projeto. Pena que é uma furada das grandes.
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